Autores: Fernando William Moreira Santana (Mestrando PPIPA) e Nathalia Caroline Teixeira Zana (Graduanda em Biomedicina)
Os
anticorpos biespecíficos (bsAbs) são imunoglobulinas que apresentam dois sítios
de ligação ao antígeno diferentes (figura 1), podendo ser sintetizados em
laboratórios. O ponto chave desses bsAbs está na combinação da funcionalidade
de dois anticorpos em uma única molécula. Como essas moléculas demonstram uma
dualidade de alvos, pesquisadores se interessaram nessas imunoglobulinas e
iniciaram uma busca por novos métodos terapêuticos utilizando essas proteínas,
principalmente para tratamentos de câncer e distúrbios inflamatórias.
Figura 1. Exemplos de
anticorpos biespecíficos (bsAbs). Amarelo, cadeia variável
pesada com especificidade 1; verde, cadeia variável pesada com especificidade
2; azul, cadeia variável leve com especificidade 1; vermelho, cadeia variável
leve com especificidade 2; cinza, cadeia de região constante pesada; branco,
cadeia de região constante leve. (Adaptado de Labrijn et al, 2019)
Em
março de 2019, já haviam 85 bsAbs em desenvolvimento clínico, refletindo o
recente interesse pela nova metodologia terapêutica. Destes produtos em
desenvolvimento, aproximadamente 85% são usados para o tratamento de câncer,
sendo que essas imunoglobulinas também já demonstraram relevância para o
controle de processos de proliferação celular e de inflamação.
Os
bsAbs podem, por exemplo, servirem como “pontes” que ligam uma célula a outra,
fazendo-as ficarem mais próximas (figura 2.a). Esse mecanismo pode auxiliar a
comunicação entre essas células, seja para a liberação de citocinas, dar início
à morte celular ou até mesmo inibir a replicação celular. Em doenças
infecciosas, o redirecionamento de células T com bsAbs também está sendo
empregado para eliminar células infectadas por vírus.
Outro
exemplo da utilidade dos bsAbs está na ligação em receptores celulares. Esses
anticorpos podem se ligar a receptores de superfície celular específicos,
inativando (por exemplo, para reduzir o crescimento tumoral) (figura 2.b) ou ativando
(por exemplo, para ativar condicionalmente o receptor do fator de crescimento
para o tratamento de diabetes) (figura 2.c) essas células. Esses bsAbs também
podem ser projetados para o posicionamento preciso de uma enzima e um substrato
como um cofator mimético (figura 2.d), substituindo, por exemplo, um fator de
coagulação crítico no tratamento de hemofilia.
Figura 2. Exemplos de
mecanismos de ação dos anticorpos biespecíficos. (Adaptado
de Labrijn et al, 2019)
Sendo
assim, os bsAbs apresentam um potencial para tratamentos de várias desordens, principalmente
para o câncer e para doenças inflamatórias, porém também podem ser aplicados a
outros distúrbios como diabetes e problemas na coagulação sanguínea. O maior
foco dessas imunoglobulinas está em marcar simultaneamente diferentes alvos
envolvidos em processos patofisiológicos e também aumentar a eficácia
terapêutica. Com isso, mais estudos a fim de melhor elucidar o papel desses
bsAbs para doenças específicas se tornam necessários, visando novas
metodologias terapêuticas.
REFERÊNCIAS
BILBIOGRÁFICAS:
Labrijn, A. F.,
Janmaat, M. L., Reichert, J. M. et al. Bispecific antibodies:
a mechanistic review of the pipeline. Nature Reviews Drug Discovery.
v. 18, p. 585–608, 2019. https://doi.org/10.1038/s41573-019-0028-1
Kontermann, R. E.; Brinkmann, U. Bispecific
antibodies. Drug Discovery Today. v. 20, p. 838-847, 2015. https://doi.org/10.1016/j.drudis.2015.02.008
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