Autores: Ludmilla Sousa Quirino (Graduanda em Biotecnologia) e Alessandro Sousa Correa (Doutorando PPIPA)
A
Nicotiana tabacum é o nome científico atribuído a planta do tabaco, cujo
princípio ativo é uma droga psicoativa, ou seja, uma substância química estimulante
no sistema nervoso central (SNC) que altera a percepção e consciência do indivíduo.
Sendo uma droga mundialmente conhecida: a nicotina. Segundo o Instituto
Nacional de Câncer (INCA), aproximadamente 20% da população mundial é fumante
ativo. No Brasil, em 2019, verificou-se uma taxa de 9,8% de consumidores com
mais de 18 anos conforme a Vigilância de Fatores de Riscos e Proteção para
Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel).
Embora
as taxas aparentem ser significativamente baixas ou em regressão, conforme a American
Cancer Society (Sociedade de Câncer Americana), na última década houve um
aumento de mais de 50% em vendas de produtos derivados do tabaco que não
produzem fumaças, os conhecidos: cigarros eletrônicos. O ato de fumar ou
“vaporizar”, como é a intitulação auto atribuída pelos consumidores da variante
eletrônica, acarreta inúmeros efeitos fisiológicos, sendo os principais os
malefícios respiratórios (MARTINS et al., 2016).
Mas,
afinal, quais efeitos são esses? Quais alterações são causadas no sistema
respiratório do consumidor dos cigarros comuns ou eletrônicos? Além disso, no
ano de 2020, quais descobertas foram realizadas na relação entre o uso do
tabaco e a doença mais comentada nos últimos meses: a COVID-19 (Doença do
coronavírus 2019)?
Primeiramente,
fumar ou vaporizar afetam a permeabilidade da barreira de mucosa, diminuição da
exclusão das substâncias indesejáveis (depuração mucociliar), aumento da
inflamação peribronquiolar devido ao acúmulo de macrófagos; além de provocar
estresse oxidativo que aumenta a suscetibilidade a infecções bacterianas ou
virais. Não somente, há ainda uma desregulação de citocinas pró-inflamatórias,
como a IL-6 e TNF-α em fumantes (KAUR; LUNGARELLA; RAHMAN, 2020; VAN ZYL-SMIT;
RICHARDS; LEONE, 2020).
E
como essas alterações estruturais e imunológicas se relacionam à
suscetibilidade dos indivíduos a Covid-19? É importante ressaltar que atualmente
ainda existem poucas evidências clínicas em relação às complicações causadas
pelo vírus SARS-CoV-2 em fumantes ou vaporizadores. Contudo, conforme citado, o
uso desses produtos diminui a resistência pulmonar o que aumenta a exposição do
consumidor.
Estudos
científicos comprovaram a afinidade do vírus SARS-CoV-2 com a enzima conversora
de angiotensina 2 (ECA2) que funciona como receptor do novo coronavírus pela
ligação da proteína Spike presente na superfície viral. Da mesma forma, foi
observado um aumento na expressão dessa enzima em fumantes. Além disso,
enquanto a ECA2 possui um papel fundamental na entrada do microrganismo na
célula, a ativação é promovida por outra molécula, uma protease celular, especificamente a
TMRPSS2 (KAUR; LUNGARELLA; RAHMAN, 2020).
Aliás, apenas alguns tipos de células que
produzem ECA2 expressam concomitantemente essa protease, o que sugere que
outras biomoléculas podem desempenhar a mesma função de ativação, uma delas a catepsina
B. Ensaios clínicos e in vivo comprovam o aumento significativo da expressão
dessa, o que mais uma vez pode estar
relacionado a maior suscetibilidade dos fumantes ao vírus. Assim como ao risco
de complicações pulmonares dos doentes (KAUR; LUNGARELLA; RAHMAN, 2020).
Além
disso, conforme anteriormente mencionado, o consumo do tabaco altera a
permeabilidade mucosa, o que aumenta o número de receptores ECA2,
consequentemente maior chance de afinidade se em contato com as partículas
virais. Também a desregulação das citocinas pró-inflamatórias provoca a
Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) devido a uma hiperinflamação, ou seja,
um aumento desproporcional desses mediadores (KAUR; LUNGARELLA; RAHMAN, 2020).
Figura 1: Esquema representativo da diferença entre o pulmão de um indivíduo fumante e não fumante e a relação de suscetibilidade ao SARS-Cov-2. Retirado de Kaur et al, 2020.
Em
suma, apesar de poucos dados, principalmente devido aos estudos escassos e à
aparição recente do novo coronavírus, existem evidências significativas de uma
maior suscetibilidade a infecção por SARS-CoV-2 em fumantes. E infere-se as
mesmas implicações e efeitos para os vaporizadores. O que comprova, novamente,
a necessidade de combate ao vício através da conscientização e reformulação de
hábitos saudáveis.
Devido ao isolamento social e os efeitos psicossociais diversos, vícios como o uso do tabaco podem agravar e consequentemente favorecer a aparição de doenças diversas. Esse quadro combinado ao descumprimento de medidas de biossegurança e isolamento, podem levar a complicações graves ao indivíduo devido a infecção por SARS-CoV-2. Portanto, recomenda-se seguir as orientações do Ministério da Saúde assim como a busca de auxílio psicológico e médico para implementar melhores hábitos, prezando a saúde e a vida sempre.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
KAUR, G.; LUNGARELLA, G.; RAHMAN, I.
SARS-CoV-2 COVID-19 Susceptibility and Lung Inflammatory Storm by Smoking
and Vaping. Journal
of inflammation (London, England), v. 17, p. 21, 2020.
MARTINS, SR. Cigarros eletrônicos: o que sabemos?
Estudo sobre a composição do vapor e danos à saúde, o papel na redução de danos
e no tratamento da dependência de nicotina. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde
(MS); 2017. Disponível em: http://www.inca.gov.br/bvscontrolecancer/publicacoes/cigarros_eletronicos.pdf.
Acesso em: 11 nov. 2020.
VAN ZYL-SMIT,
R. N.; RICHARDS, G.; LEONE, F. T. Tobacco Smoking and COVID-19 Infection. The
Lancet. Respiratory medicine, v. 8, n. 7, p. 664–665, jul. 2020.
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