sexta-feira, 13 de novembro de 2020

USO DE TABACO E SUA RELAÇÃO COM COVID-19

Autores: Ludmilla Sousa Quirino (Graduanda em Biotecnologia) e Alessandro Sousa Correa (Doutorando PPIPA)

A Nicotiana tabacum é o nome científico atribuído a planta do tabaco, cujo princípio ativo é uma droga psicoativa, ou seja, uma substância química estimulante no sistema nervoso central (SNC) que altera a percepção e consciência do indivíduo. Sendo uma droga mundialmente conhecida: a nicotina. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), aproximadamente 20% da população mundial é fumante ativo. No Brasil, em 2019, verificou-se uma taxa de 9,8% de consumidores com mais de 18 anos conforme a Vigilância de Fatores de Riscos e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel).

Embora as taxas aparentem ser significativamente baixas ou em regressão, conforme a American Cancer Society (Sociedade de Câncer Americana), na última década houve um aumento de mais de 50% em vendas de produtos derivados do tabaco que não produzem fumaças, os conhecidos: cigarros eletrônicos. O ato de fumar ou “vaporizar”, como é a intitulação auto atribuída pelos consumidores da variante eletrônica, acarreta inúmeros efeitos fisiológicos, sendo os principais os malefícios respiratórios (MARTINS et al., 2016).

Mas, afinal, quais efeitos são esses? Quais alterações são causadas no sistema respiratório do consumidor dos cigarros comuns ou eletrônicos? Além disso, no ano de 2020, quais descobertas foram realizadas na relação entre o uso do tabaco e a doença mais comentada nos últimos meses: a COVID-19 (Doença do coronavírus 2019)?

Primeiramente, fumar ou vaporizar afetam a permeabilidade da barreira de mucosa, diminuição da exclusão das substâncias indesejáveis (depuração mucociliar), aumento da inflamação peribronquiolar devido ao acúmulo de macrófagos; além de provocar estresse oxidativo que aumenta a suscetibilidade a infecções bacterianas ou virais. Não somente, há ainda uma desregulação de citocinas pró-inflamatórias, como a IL-6 e TNF-α em fumantes (KAUR; LUNGARELLA; RAHMAN, 2020; VAN ZYL-SMIT; RICHARDS; LEONE, 2020).

E como essas alterações estruturais e imunológicas se relacionam à suscetibilidade dos indivíduos a Covid-19? É importante ressaltar que atualmente ainda existem poucas evidências clínicas em relação às complicações causadas pelo vírus SARS-CoV-2 em fumantes ou vaporizadores. Contudo, conforme citado, o uso desses produtos diminui a resistência pulmonar o que aumenta a exposição do consumidor.

Estudos científicos comprovaram a afinidade do vírus SARS-CoV-2 com a enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2) que funciona como receptor do novo coronavírus pela ligação da proteína Spike presente na superfície viral. Da mesma forma, foi observado um aumento na expressão dessa enzima em fumantes. Além disso, enquanto a ECA2 possui um papel fundamental na entrada do microrganismo na célula, a ativação é promovida por outra molécula,  uma protease celular, especificamente a TMRPSS2 (KAUR; LUNGARELLA; RAHMAN, 2020).

 Aliás, apenas alguns tipos de células que produzem ECA2 expressam concomitantemente essa protease, o que sugere que outras biomoléculas podem desempenhar a mesma função de ativação, uma delas a catepsina B. Ensaios clínicos e in vivo comprovam o aumento significativo da expressão dessa, o que  mais uma vez pode estar relacionado a maior suscetibilidade dos fumantes ao vírus. Assim como ao risco de complicações pulmonares dos doentes (KAUR; LUNGARELLA; RAHMAN, 2020).

Além disso, conforme anteriormente mencionado, o consumo do tabaco altera a permeabilidade mucosa, o que aumenta o número de receptores ECA2, consequentemente maior chance de afinidade se em contato com as partículas virais. Também a desregulação das citocinas pró-inflamatórias provoca a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) devido a uma hiperinflamação, ou seja, um aumento desproporcional desses mediadores (KAUR; LUNGARELLA; RAHMAN, 2020).

Figura 1: Esquema representativo da diferença entre o pulmão de um indivíduo fumante e não fumante e a relação de suscetibilidade ao SARS-Cov-2. Retirado de Kaur et al, 2020.

Em suma, apesar de poucos dados, principalmente devido aos estudos escassos e à aparição recente do novo coronavírus, existem evidências significativas de uma maior suscetibilidade a infecção por SARS-CoV-2 em fumantes. E infere-se as mesmas implicações e efeitos para os vaporizadores. O que comprova, novamente, a necessidade de combate ao vício através da conscientização e reformulação de hábitos saudáveis.

Devido ao isolamento social e os efeitos psicossociais diversos, vícios como o uso do tabaco podem agravar e consequentemente favorecer a aparição de doenças diversas. Esse quadro combinado ao descumprimento de medidas de biossegurança e isolamento, podem levar a complicações graves ao indivíduo devido a infecção por SARS-CoV-2. Portanto, recomenda-se seguir as orientações do Ministério da Saúde assim como a busca de auxílio psicológico e médico para implementar melhores hábitos, prezando a saúde e a vida sempre.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

KAUR, G.; LUNGARELLA, G.; RAHMAN, I. SARS-CoV-2 COVID-19 Susceptibility and Lung Inflammatory Storm by Smoking and  Vaping. Journal of inflammation (London, England), v. 17, p. 21, 2020.

MARTINS, SR. Cigarros eletrônicos: o que sabemos? Estudo sobre a composição do vapor e danos à saúde, o papel na redução de danos e no tratamento da dependência de nicotina. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde (MS); 2017. Disponível em: http://www.inca.gov.br/bvscontrolecancer/publicacoes/cigarros_eletronicos.pdf. Acesso em: 11 nov. 2020.

VAN ZYL-SMIT, R. N.; RICHARDS, G.; LEONE, F. T. Tobacco Smoking and COVID-19 Infection. The Lancet. Respiratory medicine, v. 8, n. 7, p. 664–665, jul. 2020. 

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