quarta-feira, 25 de novembro de 2020

RELAÇÃO ENTRE DOENÇAS PARASITÁRIAS QUE ATINGEM OS PULMÕES E COVID-19

Autores: Ana Flávia De Paula Pereira (Graduanda em Medicina Veterinária), Valter Augusto Souza Ricarde (Graduando em Biotecnologia), Paulo Henrique Rosa da Silva (Mestrando PPIPA) e Vinícius José de Oliveira (Doutorando PPIPA).

 

A COVID-19 é uma doença causada pelo vírus SARS-CoV-2 e teve início na China, mais especificamente em um mercado de alimentos em Wuhan, no final de 2019. Desde então, a doença apresentou alta transmissibilidade e uma variedade de sintomas clínicos, que podem ser acentuados para os pacientes que possuem predisposições, como diabéticos, hipertensos, idosos, portadores de doenças autoimunes ou que previamente já apresentaram problemas respiratórios, formando o grupo de risco, ou apresentar nenhum sintoma, tendo em vista a existência de pacientes contaminados que são assintomáticos.

Entretanto, antes que tudo isso aconteça o vírus precisa entrar no organismo e se instalar nos pulmões, principal órgão acometido e a causa de mortes pelo desenvolvimento de pneumonias e falhas respiratórias, resistindo ao sistema imune e causando uma adaptação da microbiota pulmonar. As células epiteliais pulmonares produzem substâncias e secretam células responsáveis pela defesa dos alvéolos contra os agentes externos, assim como o muco realiza uma proteção física e química. A participação de células imunes é essencial para garantir a fagocitose dos antígenos.

 

COVID-19 E A RESPOSTA IMUNE

 

Quando a resposta imune não consegue parar a multiplicação do vírus, ocorre diferentes níveis de injúria pulmonar. Essa injúria gera uma resposta de células efetoras que são caracterizadas por várias citocinas pró-inflamatórias. Esse contexto de hiperinflamação é chamado de COVID-19 ARDS (síndrome aguda de dificuldade respiratória causada por COVID-19, do inglês).

O SARS-CoV-2 tem vários mecanismos para fugir das células de defesa do hospedeiro. Um desses mecanismos é a formação de uma vesícula de dupla membrana, que impede o reconhecimento do vírus pelas células de defesa. O vírus também desenvolveu uma estratégia para evitar o reconhecimento pelas células de defesa, que é mimetizando a superfície de uma célula do hospedeiro

 

COVID-19 E MALÁRIA   

 

         A malária (Plasmodium spp.) pode ter um sintoma não muito comum que são as lesões no pulmão, que também pode causar ARDS, o que, quando acontece, eleva bastante os níveis de mortalidade da doença. Assim como na COVID-19, a resposta imune na malária precisa ser regulada para alcançar uma resposta protetiva sem prejudicar o hospedeiro. Estudos em regiões endêmicas de malária mostraram um balanço entre uma resposta pró-inflamatória, Th1, e uma resposta anti-inflamatória, Th2. Manifestações severas de malária estão atreladas com uma resposta pró-inflamatória excessiva. Aparentemente, isso também parece ocorrer em alguns casos de COVID-19, sugerindo que uma coinfecção entre as doenças pode resultar em um quadro mais severo e um pior prognóstico.

         Entretanto, imunomodulação induzida por malária se mostrou protetora contra manifestações severas em vírus respiratórios. Por exemplo, no Quênia, crianças infectadas com malária apresentavam menos dificuldade respiratória quando infectadas por Influenza do que as crianças infectadas apenas por Influenza. Outro experimento com murinos mostrou que uma co-infecção com Plasmodium pode suprimir a produção de citocinas e diminuir o recrutamento de componentes inflamatórios no pulmão, reduzindo os sintomas graves durante uma pneumonia viral. Uma interação similar pode ocorrer durante a co-infecção de Plasmodium e SARS-CoV-2.

Embora as infecções parasitárias por helmintos tenham sido amplamente eliminadas nos países desenvolvidos os helmintos ainda infectam um grande número de pessoas em todo o mundo, e estima-se que apenas os helmintos transmitidos pelo solo causem infecção em mais de 1,5 bilhão de pessoas, ou 20% de toda a população humana. Em alguns estudos observaram que existe uma baixa prevalência da doença de COVID-19 em áreas tropicais e subtropicais do mundo coincide com as áreas de alta prevalência global de infestação de helmintos.

         A hipótese é que a infecção crônica por helmintos e suas consequências imunológicas são a principal razão pela qual a pandemia de COVID-19 tem uma presença relativamente muito menor em países subdesenvolvidos. A explicação para isso é que existe a possibilidade de que essa resposta imunológica causada pela infecção por helmintos proteja as pessoas do SARS-CoV-2 e, portanto, explica a difusão relativamente baixa da doença de COVID-19 nesses países.

        Em outro estudo semelhante, com foco em várias infecções parasitárias, pesquisadores descobriram que a incidência de COVID-19 estava inversamente relacionada à da malária e aos helmintos do solo. Em outras palavras, países com alta incidência de malária apresentam baixo risco de COVID-19. Ao mesmo tempo, aqueles com infestação endêmica de helmintos transmitida pelo solo ou esquistossomose estavam em menor risco de COVID-19. A hipótese é de que a variação molecular e genética nas células do hospedeiro como resultado da malária endêmica, esquistossomose e helmintíase reduz a suscetibilidade do hospedeiro ao COVID-19.

Pensando no ponto de vista do mecanismo imunológico por traz disso, a explicação mais plausível é que a infestação parasitária estimula a resposta imune do hospedeiro, que envolve tolerância imunológica por meio de células T CD4 regulatórias induzidas. Além disso, tem envolvimento da secreção de IL-10 e TGFβ, que são citocinas imunomoduladoras que todos juntos, eles podem proteger a pessoa contra o SARS-CoV-2.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

GUTMAN, J. R.; LUCCHI, N. W.; CANTEY, P. T.; STEINHARDT, L. C.; SAMUELS, A. M.; KAMB, M. L.; KAPELLA, B. K.; MCELROY, P. D.; UDHAYAKUMAR, V.; LINDBLADE, K. A. Malaria and parasitic neglected tropical diseases: Potential syndemics with COVID-19? American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 103, n. 2, p. 572–577, 2020.

KHATIWADA, S.; SUBEDI, A. Lung microbiome and coronavirus disease 2019 (COVID-19): Possible link and implications, Elsevier Ltd, 2020.

RODRIGUEZ, C. The global helminth belt and Covid-19: the new eosinophilic link. Qeios, 2020.

SSEBAMBULIDDE, K.; SEGAWA, I.; ABUGA, K.; NAKATE, V.; KAYIIRA, A.; ELLIS, J.; TUGUME, L.; KIRAGGA, A.; MEYA, D. Parasites and their protection against COVID-19- Ecology or Immunology? 2020.

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