sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O EFEITO NA PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS NO SISTEMA IMUNE CONTRA A COVID-19

Autores: Victor Luigi Costa Silva (Graduando em Biomedicina) e Luiz Ricardo Soldi (Doutorando PPIPA)

            Quando pensamos na corona vírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV 2), estamos falando sobre uma resposta imune antiviral. Após o reconhecimento do vírus pelas células do sistema imune inato, por meio dos Receptores de Reconhecimento de Padrão (PRR), sendo eles no caso da COVID os receptores Toll-Like 3 e 7, e o receptor RIG-I, haverá a sinalização intracelular para a ativação das citocinas mais importantes para a resposta imune antiviral, os interferons alfa e beta. São eles principalmente que farão a ativação de macrófagos e linfócitos, realizando um melhor direcionamento do sistema imune protegendo as células não infectadas e contendo a replicação viral através da indução de um estado antiviral celular dependente de interferon.

            Um dos mecanismos que podem estar associados ao agravamento dos quadros de COVID-19 é a supressão desses interferons, fazendo com que o sistema imune gere uma resposta extremamente agressiva, mas inespecífica, levando a um quadro de hiper inflamação de neutrófilos infiltrados, macrófagos e monócitos nos pulmões e dano tecidual. Esse mecanismo já foi descrito no caso do SARS-CoV e da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV).

            Os casos mais graves de COVID-19 estão associados a um desbalanço na resposta imune antiviral e tem duas consequências impactantes e possivelmente fatais, a chamada “tempestade de citocinas” e um estado de linfopenia.

            A tempestade de citocinas se refere a resposta exacerbada que o sistema imune gera ativando muitas citocinas sem um controle refinado. A tempestade de citocinas leva ao sistema imune a atacar o próprio organismo, principalmente os pulmões, coração, rins, linfonodos, fígado, e até mesmo no tecido nervoso. O aumento de células inflamatórias como neutrófilos, macrófagos e monócitos está associado a supressão dos interferons, levando a quadros mais graves de SARS-CoV e MERS-CoV, sendo sugerido para SARS-CoV 2 também.

            Para linfopenia (baixa contagem de linfócitos), foi observado uma redução do número absoluto de linfócitos T CD4+ e T CD8+, e uma possível redução de células B, células NK, monócitos, eosinófilos e basófilos. O que parece ser certo, é a redução de linfócitos no sangue periférico, principalmente células T CD8+ com um maior perfil citotóxico. Além da baixa contagem de linfócitos, os remanescentes demonstraram sinais de exaustão, possivelmente devido a excessiva estimulação do mesmo. Essa anergia celular pode ser um sinal de disfunção das células do sistema imune consequente da infecção viral. Vale ressaltar que a tempestade de citocinas também interfere no quadro de linfopenia, uma vez que citocinas IL-2, IL-4, IL-10, TNF-alfa e IFN-gama levam a uma menor contagem de linfócitos entre 4 e 6 dias.

            Apesar de estudos relacionando o novo corona vírus com atividade física serem recentes e não haver tantos artigos a respeito, podemos fazer uma comparação com outra doenças respiratórias e atividade física em geral sobre o sistema imune. Por exemplo, existem pesquisas que demonstram que a prática de exercícios reduz a mortalidade em casos de pneumonia e gripe, além de melhorar a função cardiorrespiratória como um todo, aprimorar a resposta imune causada por vacinas e refinar o metabolismo de glicose, lipídeos e insulina.

            Tomando como base os dois principais problemas dos casos graves de COVID-19, a prática de exercícios regulares pode melhorar a vigilância imunológica, estimulando também a resposta antiviral de macrófagos, juntamente com o aumento de leucócitos, imunoglobulinas e citocinas anti-inflamatórias, corrigindo diretamente a leucopenia.

            Um dos grandes benefícios da prática de exercícios regulares é a diminuição de respostas inflamatórias danosas, podendo prevenir uma hiper inflamação, em contrapartida, a imunidade celular aumenta, ocorrendo um aumento de linfócitos, células NK, monócitos e células B imaturas.

            No melhor manejo de citocinas, estudos demonstram que a prática de exercícios pode levar a uma queda nos níveis de interleucina 6 e um aumento de interleucina 10, dirigindo o organismo para uma melhor resposta anti-inflamatória ao invés de uma resposta pró inflamatória excessiva, auxiliando diretamente contra a hiper inflamação e tempestade de citocinas.

            Além da influência direta de exercícios físicos nas células do sistema imune, atividades físicas regulares combatem os fatores de risco da COVID-19 como obesidade, doenças cardiovasculares entre outras. Por exemplo, a resposta anti-inflamatória e antioxidante da ativação endotelial está diretamente relacionada a redução da hiper coagulação relacionada a casos graves de COVID-19.

            Assim sendo, é importante reiterar que a prática de atividades físicas melhora significativamente o sistema imune e não somente contra o corona vírus, entretanto pratique exercícios moderadamente que o seu corpo seja capaz de suportar, pois atividades físicas extenuantes podem piorar o sistema imune.

Benefits of regular moderate-intensity physical activity on factors that influence the response against to COVID-19. Fonte: Os autores (2020)

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

da Silveira MP, da Silva Fagundes KK, Bizuti MR, Starck É, Rossi RC, de Resende E Silva DT. Physical exercise as a tool to help the immune system against COVID-19: an integrative review of the current literature. Clin Exp Med. 2020 Jul 29:1–14. doi: 10.1007/s10238-020-00650-3. Epub ahead of print. PMID: 32728975; PMCID: PMC7387807.

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