Autores: Victor Luigi Costa Silva (Graduando em Biomedicina) e Luiz Ricardo Soldi (Doutorando PPIPA)
Quando pensamos na corona vírus da síndrome respiratória
aguda grave 2 (SARS-CoV 2), estamos falando sobre uma resposta imune antiviral.
Após o reconhecimento do vírus pelas células do sistema imune inato, por meio
dos Receptores de Reconhecimento de Padrão (PRR), sendo eles no caso da COVID
os receptores Toll-Like 3 e 7, e o receptor RIG-I, haverá a sinalização
intracelular para a ativação das citocinas mais importantes para a resposta
imune antiviral, os interferons alfa e beta. São eles principalmente que farão a
ativação de macrófagos e linfócitos, realizando um melhor direcionamento do
sistema imune protegendo as células não infectadas e contendo a replicação
viral através da indução de um estado antiviral celular dependente de
interferon.
Um dos mecanismos que podem estar associados ao agravamento
dos quadros de COVID-19 é a supressão desses interferons, fazendo com que o
sistema imune gere uma resposta extremamente agressiva, mas inespecífica,
levando a um quadro de hiper inflamação de neutrófilos infiltrados, macrófagos
e monócitos nos pulmões e dano tecidual. Esse mecanismo já foi descrito no caso
do SARS-CoV e da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV).
Os casos mais graves de COVID-19 estão associados a um
desbalanço na resposta imune antiviral e tem duas consequências impactantes e
possivelmente fatais, a chamada “tempestade de citocinas” e um estado de
linfopenia.
A tempestade de citocinas se refere a resposta exacerbada
que o sistema imune gera ativando muitas citocinas sem um controle refinado. A
tempestade de citocinas leva ao sistema imune a atacar o próprio organismo,
principalmente os pulmões, coração, rins, linfonodos, fígado, e até mesmo no
tecido nervoso. O aumento de células inflamatórias como neutrófilos, macrófagos
e monócitos está associado a supressão dos interferons, levando a quadros mais
graves de SARS-CoV e MERS-CoV, sendo sugerido para SARS-CoV 2 também.
Para linfopenia (baixa contagem de linfócitos), foi
observado uma redução do número absoluto de linfócitos T CD4+ e T CD8+, e uma
possível redução de células B, células NK, monócitos, eosinófilos e basófilos.
O que parece ser certo, é a redução de linfócitos no sangue periférico,
principalmente células T CD8+ com um maior perfil citotóxico. Além da baixa
contagem de linfócitos, os remanescentes demonstraram sinais de exaustão, possivelmente
devido a excessiva estimulação do mesmo. Essa anergia celular pode ser um sinal
de disfunção das células do sistema imune consequente da infecção viral. Vale
ressaltar que a tempestade de citocinas também interfere no quadro de
linfopenia, uma vez que citocinas IL-2, IL-4, IL-10, TNF-alfa e IFN-gama levam
a uma menor contagem de linfócitos entre 4 e 6 dias.
Apesar de estudos relacionando o novo corona vírus com
atividade física serem recentes e não haver tantos artigos a respeito, podemos
fazer uma comparação com outra doenças respiratórias e atividade física em
geral sobre o sistema imune. Por exemplo, existem pesquisas que demonstram que
a prática de exercícios reduz a mortalidade em casos de pneumonia e gripe, além
de melhorar a função cardiorrespiratória como um todo, aprimorar a resposta
imune causada por vacinas e refinar o metabolismo de glicose, lipídeos e
insulina.
Tomando como base os dois principais problemas dos casos
graves de COVID-19, a prática de exercícios regulares pode melhorar a
vigilância imunológica, estimulando também a resposta antiviral de macrófagos,
juntamente com o aumento de leucócitos, imunoglobulinas e citocinas
anti-inflamatórias, corrigindo diretamente a leucopenia.
Um dos grandes benefícios da prática de exercícios regulares
é a diminuição de respostas inflamatórias danosas, podendo prevenir uma hiper
inflamação, em contrapartida, a imunidade celular aumenta, ocorrendo um aumento
de linfócitos, células NK, monócitos e células B imaturas.
No melhor manejo de citocinas, estudos demonstram que a prática
de exercícios pode levar a uma queda nos níveis de interleucina 6 e um aumento
de interleucina 10, dirigindo o organismo para uma melhor resposta anti-inflamatória
ao invés de uma resposta pró inflamatória excessiva, auxiliando diretamente
contra a hiper inflamação e tempestade de citocinas.
Além da influência direta de exercícios físicos nas células
do sistema imune, atividades físicas regulares combatem os fatores de risco da
COVID-19 como obesidade, doenças cardiovasculares entre outras. Por exemplo, a
resposta anti-inflamatória e antioxidante da ativação endotelial está
diretamente relacionada a redução da hiper coagulação relacionada a casos
graves de COVID-19.
Assim sendo, é importante reiterar que a prática de
atividades físicas melhora significativamente o sistema imune e não somente
contra o corona vírus, entretanto pratique exercícios moderadamente que o seu
corpo seja capaz de suportar, pois atividades físicas extenuantes podem piorar
o sistema imune.
Benefits of regular moderate-intensity physical activity on factors that influence the response against to COVID-19. Fonte: Os autores (2020)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
da Silveira MP, da Silva Fagundes KK, Bizuti MR, Starck É,
Rossi RC, de Resende E Silva DT. Physical
exercise as a tool to help the immune system against COVID-19: an integrative
review of the current literature. Clin Exp Med. 2020 Jul 29:1–14. doi: 10.1007/s10238-020-00650-3.
Epub ahead of print. PMID: 32728975; PMCID: PMC7387807.
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