Autores: Ludmilla Sousa Quirino (Graduanda em Biotecnologia), Mikaela dos Santos Marinho (Graduanda em Biomedicina), Valter Augusto Souza Ricarte (Graduanda em Biotecnologia) e Marco Miguel de Oliveira (Doutorando PPIPA)
O sistema imunológico possui a
capacidade de distinguir moléculas do próprio organismo de antígenos “estranhos”.
Esse mecanismo é denominado auto tolerância e baseia-se na não responsividade aos
componentes celulares e teciduais normais. Falhas na auto tolerância desencadeiam
doenças onde o sistema imunológico ataca o próprio organismo. Do ponto de vista
clínico, essas enfermidades são classificadas em órgãos-específicas e/ou
sistêmicas. Aqui discutiremos o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), uma doença autoimune
que afeta múltiplos sistemas do corpo.
Apesar do LES possuir etiologia
desconhecida, sabe-se que ele se caracteriza por um conjunto de aberrações do
sistema imunológico, que vão desde a produção de autoanticorpos contra
componentes nucleares, deposição de complexos imunes fixadores do complemento e
inflamações. Em um momento inicial, o LES promove alterações na pele e juntas,
quadro que logo progride para distúrbios cardiovasculares e inflamações em
diferentes órgãos. Pacientes em estágios avançados apresentam alta morbidade e
mortalidade associada a inflamações em órgãos vitais como os rins e o sistema
nervoso.
Atualmente, o tratamento do LES
baseia-se na utilização de corticoides e drogas imunossupressoras, apesar de
existirem terapias voltadas aos linfócitos B. Embora muito se saiba sobre
aspectos hormonais, ambientais, genéticos e imunológicos (principalmente relacionados
a células T e B) do LES, ainda existem poucos estudos sobre como os fatores e
células da imunidade inata (macrófagos, neutrófilos, células dendríticas e
basófilos) contribuem para o desenvolvimento dessa doença. Conhecer como é a
resposta inata no LES é essencial para o desenvolvimento de novas abordagens
terapêuticas.
A Figura 1 apresenta de forma
simplificada o que sabemos de mais atual sobre a relação entre a imunidade
inata e o desenvolvimento e progressão do LES. Na parte superior vemos como o
organismo saudável atua na eliminação de células apoptóticas de forma a reduzir
a exposição de antígenos nucleares e, dessa forma, reduzir o risco de quebras
na tolerância imunológica. Em um paciente com LES, entretanto, observa-se: prevalência
de macrófagos M1 (que promovem inflamação e destruição tecidual), maior
tendência a formação das Armadilhas Extracelulares de Neutrófilos (NETs),
supressão da heme oxidaxe-1 (HO-1, um importante imunossupressor que controla
monócitos e células dendríticas), intensa migração de basófilos para as lesões,
elevação da atividade oxidativa e produção de IL-6, IL-17, IL-18, IL-23, IFN-γ
e outros interferons do tipo I. Juntos, esses componentes promovem a
apresentação de autoantígenos e estimulação de uma resposta pro inflamatória
que culmina na produção de autoanticorpos e dano tecidual.
Figura
1:
Rede de interação das células da imunidade inata na patogênese do LES (HERRADA
et al., 2019).
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
HERRADA, A. A. et al. Innate Immune Cells'
Contribution to Systemic Lupus Erythematosus. Frontiers in Immunology, v.
10, 2019. https://doi.org/10.3389/fimmu.2019.00772
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