quinta-feira, 29 de outubro de 2020

DIABETES MELLITUS: UMA DOENÇA AUTOIMUNE

Autores: Ana Flávia De Paula Pereira (Graduanda em Medicina Veterinária) e Vinícius José de Oliveira (Doutorando PPIPA).


            DIABETES MELLITUS

            A Diabetes Mellitus tipo 1 é uma doença autoimune que acomete o pâncreas com o ataque das suas ilhotas, promovendo a morte das células beta desse órgão pela liberação de antígenos próprios diante de lesões causadas por diversos fatores, isso desencadeia uma reatividade de linfócitos que culmina na falha de produção e circulação de insulina no sangue. Com esse perfil, os portadores dessa patologia desenvolvem hiperglicemia, além de outros sintomas clínicos com a progressão da afecção. Entretanto, mesmo com a noção de que se trata de uma doença autoimune, não se sabe ao certo os mecanismos que levam à destruição das células beta pancreáticas, por isso, por meio de diversos estudos, foi possível garantir algumas atividades, não concretizadas como principais mas muito importantes associadas, para o desenvolvimento da enfermidade.

            Acredita-se que a doença se torna autoimune quando há destruição das células pancreáticas por uma reação inflamatória diante de uma infecção viral ou produtos tóxicos, causando uma apresentação via MHC que desencadeia respostas de linfócitos. Essas células podem se tornar reativas com a presença de antígenos próprios não expressos antes, além de haver uma quebra da tolerância quanto a eles, o que faz dessa patologia órgão-específica. Além disso, existe infiltração de células da imunidade inata, produzindo suas citocinas que aumentam cada vez mais a característica inflamatória e o recrutamento de outras células, tornando a lesão tecidual e destruição celular constantes. O problema dessa enfermidade é que os sinais clínicos só são percebidos após a destruição de cerca de 80% das células beta, que, por serem as principais constituintes do órgão, causam sua atrofia, assim como a perda das ilhotas de Largerhans.

            A imunidade inata, como primeira barreira do organismo, possui diversas formas de atuar nessa doença, sendo as principais por meio das células apresentadoras de antígenos e fagócitos. Independente do fator que ocasionou a morte das células nas ilhotas, os responsáveis por reconhecer os antígenos liberados por elas são os macrófagos e células dendríticas, por meio dos receptores TLR. Diante dessa verificação de Ag, uma cascata inflamatória é desencadeada, assim como o estímulo para a síntese de citocinas, quimiocinas e coestimuladores. Em pesquisas com portadores da patologia, notou-se uma presença marcante de TLR2 e TLR4 em monócitos, confirmando a atuação desse receptor como uma fonte principal do desenvolvimento da doença. Percebeu-se, também, que a resposta causada pela imunidade inata contra as próprias proteínas é um fator fundamental para a quebra de tolerância do organismo. Com todo esse mecanismo, as células apresentadoras de antígenos carregam essas amostras para os linfonodos, gerando um reconhecimento pelos linfócitos para o desenvolvimento de respostas específicas.

            A imunidade adaptativa começa agir depois da apresentação dos antígenos. Primeiramente, a fração celular dessa resposta começa com a expansão clonal de linfócitos TCD4 e TCD8 autorreativos, caracterizando a doença autoimune. A atuação dos linfócitos TCD8 tem grande impacto, pois sua característica citotóxica com perfil perforina e granzima levam à apoptose celular. Por isso, é aceito que a apresentação via MHC tipo 1 é a principal para a morte das células pancreáticas, pois é muito raro obter a doença quando essa via não é a utilizada. Por outro lado, as respostas por TCD4 acontecem pelos subgrupos Th1 e Th17 que tem perfil inflamatório com suas citocinas, sendo a IL-17, produzida pelas Th17, a principal citocina associada ao avanço da doença, pois é responsável por grande ativação das TCD4.

            Quanto as células regulatórias, pode haver uma mutação no fator de transcrição Foxp3 de células CD25+CD4+, promovendo uma disfunção imunológica, que tem efeito sistêmico no organismo, pois há um defeito na regulação das respostas. Mas, além disso, existe uma confiança na falha das células efetoras em reconhecer as ações regulatórias sobre elas, tornando inviável o ajustamento mesmo sem alterações genéticas.

            Já na parte humoral, há produção de autoanticorpos pelos linfócitos B, mas somente após a destruição das ilhotas pelos linfócitos T, podendo ativar a via clássica do sistema complemento, promovendo a apoptose de mais células. Porém, apesar dessa ação, não são considerados fundamentais para o desenvolvimento da enfermidade.

             Portanto, a doença gera queda na insulina circulante, evitando o reconhecimento da glicose pelos tecidos, o que compromete atividades fisiológicas essenciais. Causa um emagrecimento rápido, por sua agressividade e tentativa do corpo de produzir mais energia com a liberação de triacilglicerol pela degradação do tecido adiposo, mas que também é acumulado, pois os ácidos graxos são dependentes de insulina para entrar nos tecidos. Outrossim, há uma toxicidade causada por essa doença, pois muitos corpos cetônicos são produzidos, já que a falta de reconhecimento de glicose indica para o organismo um estado de jejum prologado.

            DIABETE MELLITUS E OUTRAS DIABETES

            Sendo a Diabetes Mellitus uma doença associada à distúrbios metabólicos, causando um quadro de hiperglicemia crônica. A tipo 1, explicada anteriormente está relacionada a destruição das células pancreáticas, mas outros tipos existem. A diabetes do tipo 2 tem crescido e se destacado cada vez mais na população, tanto de animais, quanto de humanos, pela característica sedentária da atualidade.

As características do tipo 2 desse distúrbio resultam em uma deficiência no reconhecimento da insulina, que vem de uma resistência desenvolvida pelos tecidos, mas sem motivo esclarecido, essencialmente quanto a predisposição genética. Mas fatores externos, como obesidade e sedentarismo auxiliam esse atributo.

            O sedentarismo instalado na sociedade atual, prega uma cultura de fast-food e comodidade, sem estímulos para exercitação, por isso é um fator de predisposição de obesidade. Nesse quadro, há uma produção maior de insulina, porém seus tipos podem influenciar na forma que esse hormônio será interpretado por órgãos periféricos.

            Os tecidos musculares e adiposo são os principais afetados, sendo que a resistência leva a um estresse oxidativo, pelo acúmulo de insulina e falta de regulação da glicemia sanguínea, levando à produção de citocinas que aumentam o tamanho do tecido na tentativa de aumentar sua sensibilidade ao hormônio, mas alguns desses produtos tem efeito contrário, aumentando a resistência. Por isso, a Diabetes Mellitus tipo 2 possui um mecanismo complexo de funcionamento, mas as formas de prevenção são relativamente simples e acessíveis, como a mudança de alguns hábitos, para evitando despesas futuras com tratamentos.

            Existe, também, a diabetes gestacional, que apresenta altos índices de sucesso caso tenha sido diagnosticada e tratada da forma correta. Acredita-se que é um distúrbio causado com a primeira hiperglicemia reconhecida na gravidez, associada as mudanças fisiológicas desse período, que altera os hábitos alimentares, de atividade física e, automaticamente, de necessidade de insulina, pois o feto recruta muitas fontes de energia para o seu desenvolvimento e, caso a mãe não esteja saudável, pode desencadear a diabetes. Os hormônios progesterona e estrógeno são produzidos no inicio da gestação e tem atuação antagonista à insulina, promovendo uma resposta maior a uma quantidade de glicose, favorecendo atividades gliconeogênicas. Já nos segundo e terceiro trimestre é instalada uma resistência a ela, promovendo o desenvolvimento da diabetes, pois sua concentração fica elevada com a produção contínua pelas células beta pancreáticas, podendo levar a um estresse oxidativo, desencadeando outros problemas e sintomas da diabetes. O tratamento dessa enfermidade acontece para evitar qualquer dano ou sequelas deixadas no recém-nascido, assim como auxiliar a mãe, para que tenha uma gravidez mais tranquila.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

SESTERHEIM, PATRÍCIA; SAITOVITCH, DAVID; STAUB, Henrique L. Diabetes mellitus tipo 1: multifatores que conferem suscetibilidade à patogenia auto-imune. Scientia medica, v. 17, n. 4, p. 212-217, 2007.

WITT, Alana Rocha Schmidt et al. MARCADORES IMUNOLÓGICOS DA DIABETES MELLITUS DO TIPO 1–REVISÃO. Revista conhecimento online, v. 2, p. 30-44, 2011.

DE SOUSA, Aucirlei Almeida; ALBERNAZ, Alessandro Caetano; SOBRINHO, Hermínio Mauricio Rocha. Diabetes Melito tipo 1 autoimune: aspectos imunológicos. Universitas: Ciências da Saúde, v. 14, n. 1, p. 53-65, 2016.

AMARAL, Leonor Jota Pereira Cabral. Patologia autoimune e Diabetes Mellitus. Tese de Doutorado.
NUNES, Roberta; CORDOVA, Caio Mauricio Mendes de. Citocinas de resposta Th1 e Th2 e diabetes mellitus tipo. Brazilian Journal of Clinical Analyses, v. 49, n. 4, p. 359-64, 2017.

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