quarta-feira, 21 de outubro de 2020

CORONAVÍRUS: ORIGEM E RESPOSTA IMUNOLÓGICA

Autores: Ana Flávia De Paula Pereira (Graduanda em Medicina Veterinária), Valter Augusto Souza Ricarde (Graduando em Biotecnologia), Alessandro Sousa Corrêa (Doutorando PPIPA) e Vinícius José de Oliveira (Doutorando PPIPA)

             Origem

             O COVID-19 (Corona Virus Disease, 19 por ter o surto reportado pela primeira vez em Wuhan, província de Hubei, na China, no final de 2019) é uma doença causada pelo vírus SARS-CoV-2 caracterizada por desenvolver principalmente pneumonia, entre outros sintomas. O SARS-CoV-2 pertence à mesma subfamília de outros dois vírus conhecidos: o SARS-CoV (Síndrome Aguda Respiratória grave), causador do surto de 2003, também na Ásia e o MERS-CoV (Síndrome Respiratória do Oriente Médio) causador do surto de 2012 no Oriente Médio. Acredita-se que o surto tem relação com o mercado de frutos do mar e animais silvestres que acontece naquela região.

            Os morcegos são reservatórios conhecidos de vários tipos de coronavírus e vários deles são causadores de doenças em humanos e animais domésticos sendo transmitido então entre essas espécies. Como a comercialização destes animais para consumo faz parte da cultura chinesa, isso facilita o contato e intensifica essa transmissão. Existe grande similaridade entre o SARS-CoV-2 e vírus encontrados em morcegos e pangolins, chegando em até 91% de similaridade genética, o que mostra as prováveis fontes de onde podem ter surgido e transmitidos à humanos e torna improvável sua criação em laboratório.

            A subfamília Coronaviridae é dividida em 4 gêneros: Alfa-coronavírus, Beta-coronavírus, Gama-coronavírus e Delta-coronavírus sendo os dois primeiros capazes de infectar mamíferos e os dois últimos capazes de infectar aves e mamíferos, e o novo coronavírus pertence ao gênero Beta. Apesar da similaridade com o vírus carreado pelos morcegos, outros animais apresentaram variações do vírus e podem ser considerados hospedeiros intermediários, já que alguns contaminados tiveram contato com essas espécies selvagens, demonstrando também a capacidade adaptativa do vírus, que é altamente mutável.

Os coronavírus foram descritos a primeira vez em 1966 por June Almeida, e a família (Coronaviridae) ganhou este nome por conta de sua morfologia, que parece uma coroa (imagem 1).

Imagem 1: Eletromicrografia de SARS-CoV-2. Fonte: Imagem retirada da internet.

Resposta imune

Percebe-se, com base em diversos estudos, que de maneira geral a COVID-19 atua reduzindo a resposta imune, principalmente de células T, porém o número de neutrófilos circulantes é muito alto, assim como de citocinas pró-inflamatórias e biomarcadores de inflamação. Além disso, a supressão da resposta imune está relacionada com a severidade do caso, quanto mais severo, maior será a supressão. Mesmo com essa característica, ainda é estranho obter essa quantidade de citocinas inflamatória e a presença de neutrófilos, comuns em infecções bacterianas, por isso acredita-se que a COVID-19, promove uma resposta hiper-inflamatória.

Essas características são expressas nos exames de sangue, que demonstram leucopenia, com acentuada linfopenia e neutrofilia, esse perfil não é ideal, porque a supressão da resposta imune adaptativa dificulta a regulação da inflamação e o estado hiper-inflamado é um fator que aumenta os riscos de mortalidade. O SARS-CoV-2 possui 4 proteínas estruturais. O vírus reconhece a enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2) e a utiliza para acoplar às células humanas, principalmente do epitélio respiratório. Para isso acontecer, a proteína estrutura Spike (S) deve ser clivada por uma protease do hospedeiro, então se torna ativa, acopla nas células e começa a replicar depois de passarem pela endocitose e serem introduzidos no citoplasma.

Na célula, diversos receptores são ativados pela presença do vírus e começam uma cascata de sinalização. Entretanto, o vírus possui proteínas que inibem a ativação da resposta antiviral, enquanto a resposta pró-inflamatória mediada por neutrófilos entra em ação. A SARS-CoV-2 também inibe a produção de linfócitos T por se ligarem a essa célula, mais especificamente a CD147, responsável por fazer a multiplicação celular dessa linha de defesa, além da regulação dela, pelo mesmo mecanismo de acoplamento com a proteína S.

Por isso, a COVID-19 é um alto risco para a população mais velha, já que eles, naturalmente têm uma resposta imune e quantidade de células T menores. Por outro lado, pacientes que possuem problemas respiratórios prévios têm maior facilidade para desenvolver os quadros severos da doença.

Consequências

O vírus demonstra um tropismo por células respiratórias pulmonares e devido a sua forma de replicação intracelular, faz com que as células do hospedeiro percam a sua função após a infecção, além de morrerem. Já o processo inflamatório intenso que ele provoca faz com que a recuperação do tecido pulmonar seja imperfeita, por provocar fibrose nas regiões acometidas. Esse resultado compromete a função pulmonar e apresenta os sinais clínicos conhecidos como dificuldade respiratória e baixa troca gasosa.  Além disso, foi analisado que os sintomas mais comuns na doença são febre, congestão nasal e infecção de garganta, enquanto vômitos e diarreia são mais raros.                                                                                                                                                                                                                                                                                       REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALANAGREH, L.; ALZOUGHOOL, F.; ATOUM, M. The Human Coronavirus Disease COVID-19: Its Origin, Characteristics, and Insights into Potential Drugs and Its Mechanisms. Pathogens, v. 9, n. 5, p. 331, 29 abr. 2020.
AZKUR, A. K. et al. Immune response to SARS‐CoV‐2 and mechanisms of immunopathological changes in COVID‐19. Allergy, v. 75, n. 7, p. 1564–1581, jul. 2020.
DUARTE, P. M. COVID-19: Origem do novo coronavirus. Brazilian Journal of Health Review, v. 3, n. 2, p. 3585–3590, 2020.
GUAN, W. et al. Clinical characteristics of 2019 novel coronavirus infection in China. Respiratory Medicine, 9 fev. 2020. Disponível em: <http://medrxiv.org/lookup/doi/10.1101/2020.02.06.20020974>. Acesso em: 14 ago. 2020.
QIN, C. et al. Dysregulation of Immune Response in Patients with COVID-19 in Wuhan, China. SSRN Electronic Journal, 2020.
ZHANG, X. et al. Strategies to trace back the origin of COVID-19. Journal of Infection, v. 80, n. 6, p. e39–e40, jun. 2020. 

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