quinta-feira, 30 de maio de 2019

Regulação epigenética da resposta imune

Autores: Ludmilla Sousa Quirino, Mikaela dos Santos Marinho e Valter Augusto Souza Ricarte
Editor: Marco Miguel de Oliveira (Doutorando PPIPA)

A epigenética estuda as modificações herdáveis na expressão gênica que ocorrem sem a necessidade de alterações na sequência primária de DNA, principalmente em função da “má” alimentação, contato com poluentes ambientais, tabagismo e interações sociais que levam ao esgotamento físico e emocional. De forma geral, os mecanismos epigenéticos possuem um importante papel na regulação do complexo processo de transcrição gênica. Assim sendo, desvios no seu correto funcionamento podem desencadear patologias neurodegenerativas, autoimunes e disfunções cognitivas (como: Alzheimer, lúpus eritematoso, artrite reumatoide, depressão e outras), além de auxiliar na evasão da resposta imunológica por certos microrganismos e parasitos. No diabetes tipo I, por exemplo, há uma diminuição da expressão do gene codificante da histona deacetilase e aumento da dimetilação de histonas (H3K4) em linfócitos, o que resulta no direcionamento da resposta imunológica contra células β-pancreáticas produtoras de insulina. Atualmente, o câncer também tem sido associado a alterações epigenéticas que podem comprometer a replicação de células presentes em vários tecidos.
 Sabe-se que a ativação das células de defesa apresenta elaboradas vias de sinalização intracelulares que garantem a resposta após o reconhecimento do agente patogênico por meio dos receptores de reconhecimento padrão. Estas vias são controladas por um sistema dinâmico de transcrição de fatores e mediadores que as estimulam e, após a eliminação do patógeno, garantem a homeostasia celular. Sabendo que todos esses processos são coordenados por alterações no estado de condensação da cromatina, análises de transcriptoma têm demostrado que alterações na metilação do DNA e a adição de radicais às histonas também são elementos que coordenam essas respostas à patógenos, isso por permitir ou não o acesso à informação gênica. Nos últimos anos, vários mecanismos outros epigenéticos foram descritos (Figura 1).

Figura 1: Interação entre a regulação epigenética e a imunidade inata frente a infecções, com destaque à metilação do DNA e RNA, mudanças conformacionais na condensação da cromatina por adição de radiais às histonas e ação dos RNA não codificantes (ZHANG; CAO, 2019).

Basicamente, durante o quadro infeccioso há padrões específicos de transcrição que fazem com que sejam produzidos componentes essenciais para a resposta contra o patógeno. Assim, mudanças epigenéticas podem acarretar no aumento da produção de citocinas favorecendo o hospedeiro, por exemplo. Contudo, alguns patógenos podem alterar, de maneira direta e indireta, a transcrição e tradução dos componentes que favorecem sua eliminação.
Os vírus utilizam a reprogramação epigenética do hospedeiro para se replicar, inibir resposta antivirais e garantir um estado de infecção latente. Algumas proteínas virais são capazes de regular positivamente a expressão e ação das DNA metiltransferases do hospedeiro (enzimas responsáveis pela adição de um radical metil às citocinas do DNA), inibindo a função das células T. As bactérias, por outro lado, podem modificar diretamente a cromatina do hospedeiro por meio de proteínas com atividade catalítica. Assim, as cadeias polipeptídicas bacterianas podem levar a ativação ou supressão de promotores de certos genes, inibindo respostas antibacterianas. Por fim, parasitos e fungos também podem afetar a ativação alternativa de macrófagos e provocar sua reprogramação funcional através alterações epigenéticas.
Contudo, estudos que relacionam a resposta imune com fatores epigenéticos são raros e diversas questões sobre seus mecanismos de ação e efeitos ainda não foram esclarecidos. Assim, mostra-se necessária a expansão de pesquisas nesta área, afim de mapear detalhadamente os mecanismos de regulação epigenética da imunidade.

REFERÊNCIAS:
DE OLIVEIRA, J. C. Epigenética e doenças humanas. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, v. 33, n. 1, p. 21-34, 2012. http://dx.doi.org/10.5433/1679-0367.2012v33n1p21
ZHANG, Q.; CAO, X. Epigenetic regulation of the innate immune response to infection. Nature Reviews Immunology, p. 1, 2019. https://doi.org/10.1038/s41577-019-0151-6

Nenhum comentário:

Postar um comentário