terça-feira, 21 de maio de 2019

Queloide: uma alteração no processo de reparo fisiológico


Autor: Laura Calazans de Melo Gomes
Editora: Caroline Martins Mota (PosDoc PPIPA)



A cicatrização consiste na reparação tecidual a fim de substituir um tecido lesionado por um tecido novo. Sendo assim, nosso corpo necessita de um sistema de reparo tissular que atue de forma coordenada e perfeita, permitindo a reconstituição adequada do tecido. O processo de cicatrização pode ser descrito em 3 etapas, são elas: inflamação, proliferação/ granulação e remodelação/maturação.

Figura 1: Exemplo de cicatriz queloidiana localizada em
lobo inferior orelha direita (Isaac et al., 2011).
O queloide é um tipo de cicatriz exuberante gerada devido a uma alteração patológica no processo de cicatrização. Geralmente, é causada por queimaduras, procedimentos cirúrgicos, tatuagens, piercings, catapora, infecções, vacinações, entre outros. Pode surgir em qualquer área do corpo, entretanto, as áreas de maior prevalência consistem em: face, ombro, braço, área púbica, joelhos e lóbulo da orelha. Além  disso, o queloide se distribui diferentemente entre as etnias, sendo mais prevalentes em asiáticos, africanos e espanhóis e também, estão associados a componentes genéticos devido a maior ocorrência em famílias com histórico de queloides e a produção de melanina, visto que, os indivíduos de pele escura apresentam maior ocorrência e não há relatos de albinos com a doença. Suas principais características são: crescimento além das bordas da lesão, aspecto nodular, cor marrom-rosado e ausência de involução da cicatriz, sendo a última característica o que mais se diferencia de uma cicatrização hipertrófica.

As alterações patológicas no processo de cicatrização que geram o queloide resultam de modo geral, em um aumento no número de células, principalmente de fibroblastos, tendo a presença de miofibroblastos, e consequentemente um aumento da quantidade de elementos da matriz dérmica, por exemplo, o aumento de colágeno total, e um perfil de resposta de ativação alternativa dos macrófagos, sendo assim há uma predominância de macrófagos M2 que estão envolvidos com a expressão de enzimas que promovem a síntese de colágeno  e fibrose, os quais podem servir para iniciar o reparo após diversos tipos de lesões teciduais. Deste modo, uma possível explicação dos queloides seria uma reação imunológica contra principalmente a secreção sebácea que é desencadeada na presença de lesões, visto que, as regiões de maior incidência de queloides possuem maior presença de glândulas sebáceas. Portanto, os linfócitos T seriam recrutados ao local com secreção sebácea, resultando em uma maior formação de colágeno e maior proliferação dos fibroblastos. E, à medida que o queloide fosse se desenvolvendo, haveria maior rompimento das unidades pilosebáceas, amplificando o processo e resultando na não involução da cicatriz. Além disso, é importante ressaltar que nesta doença ocorre uma modificação na interação entre os queratinócitos e os fibroblastos.

Acerca do tratamento de queloides, o método tradicional é a excisão cirúrgica do tecido quando necessário, uso de corticoides (tópico) e outros tratamentos modernos como a terapia de radiação e terapia a laser. Nenhum desses tratamentos produz de fato a cura do queloide.

Apesar da existência de várias explicações moleculares e celulares à respeito o queloide continua ainda não completamente compreendido, evidenciando a necessidade de maiores estudos.


REFERÊNCIAS:
Jin Q., Gui L., Niu F., Yu B., Lauda N., Liu J., Mao X., Chen Y., Macrophages in keloid are potent at promoting the differentiation and function of regulatory T cells. Exp Cell Res. n. 362, p. 472-476, 2018.
Isaac C., Ladeira P.R.S., Rêgo F.M.P., Aldunate J.C.B., Tutihashi R.M.C., Ferreira M.C., Alterações no processo de reparo fisiológico. Rev Bras Queimaduras. n. 10, p. 61-5, 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário