Autor:
Laura Calazans de Melo Gomes
Editora:
Caroline Martins Mota (PosDoc PPIPA)
A cicatrização consiste na reparação tecidual a fim de substituir um tecido lesionado por um tecido novo. Sendo assim, nosso corpo necessita de um sistema de reparo tissular que atue de forma coordenada e perfeita, permitindo a reconstituição adequada do tecido. O processo de cicatrização pode ser descrito em 3 etapas, são elas: inflamação, proliferação/ granulação e remodelação/maturação.
Figura 1: Exemplo de cicatriz queloidiana localizada em lobo inferior orelha direita (Isaac et al., 2011). |
O
queloide é um tipo de cicatriz exuberante gerada devido a uma alteração
patológica no processo de cicatrização. Geralmente, é causada por queimaduras,
procedimentos cirúrgicos, tatuagens, piercings, catapora, infecções, vacinações,
entre outros. Pode surgir em qualquer área do corpo, entretanto, as áreas de
maior prevalência consistem em: face, ombro, braço, área púbica, joelhos e
lóbulo da orelha. Além disso, o queloide se distribui diferentemente entre as
etnias, sendo mais prevalentes em asiáticos, africanos e espanhóis e também, estão
associados a componentes genéticos devido a maior ocorrência em famílias com
histórico de queloides e a produção de melanina, visto que, os indivíduos de
pele escura apresentam maior ocorrência e não há relatos de albinos com a
doença. Suas principais características são: crescimento além das bordas da
lesão, aspecto nodular, cor marrom-rosado e ausência de involução da cicatriz,
sendo a última característica o que mais se diferencia de uma cicatrização
hipertrófica.
As
alterações patológicas no processo de cicatrização que geram o queloide
resultam de modo geral, em um aumento no número de células, principalmente de
fibroblastos, tendo a presença de miofibroblastos, e consequentemente um aumento
da quantidade de elementos da matriz dérmica, por exemplo, o aumento de
colágeno total, e um perfil de resposta de ativação alternativa dos macrófagos,
sendo assim há uma predominância de macrófagos M2 que estão envolvidos com a
expressão de enzimas que promovem a síntese de colágeno e fibrose, os quais podem servir para iniciar
o reparo após diversos tipos de lesões teciduais. Deste modo, uma possível
explicação dos queloides seria uma reação imunológica contra principalmente a secreção
sebácea que é desencadeada na presença de lesões, visto que, as regiões de
maior incidência de queloides possuem maior presença de glândulas sebáceas.
Portanto, os linfócitos T seriam recrutados ao local com secreção sebácea,
resultando em uma maior formação de colágeno e maior proliferação dos
fibroblastos. E, à medida que o queloide fosse se desenvolvendo, haveria maior
rompimento das unidades pilosebáceas, amplificando o processo e resultando na
não involução da cicatriz. Além disso, é importante ressaltar que nesta doença
ocorre uma modificação na interação entre os queratinócitos e os fibroblastos.
Acerca
do tratamento de queloides, o método tradicional é a excisão cirúrgica do
tecido quando necessário, uso de corticoides (tópico) e outros tratamentos
modernos como a terapia de radiação e terapia a laser. Nenhum desses
tratamentos produz de fato a cura do queloide.
Apesar
da existência de várias explicações moleculares e celulares à respeito o
queloide continua ainda não completamente compreendido, evidenciando a
necessidade de maiores estudos.
REFERÊNCIAS:
Jin Q., Gui L., Niu F., Yu B., Lauda N., Liu J., Mao X., Chen Y.,
Macrophages in keloid are potent at promoting the differentiation and function
of regulatory T cells. Exp Cell Res. n. 362, p. 472-476, 2018.
Isaac
C., Ladeira P.R.S., Rêgo F.M.P., Aldunate J.C.B., Tutihashi R.M.C., Ferreira
M.C., Alterações no processo de reparo fisiológico. Rev Bras Queimaduras.
n. 10, p. 61-5, 2011.
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