Autor: Lana Isabella Gila
Editor: Eliézer Lucas Pires Ramos
(PosDoc PPIPA)
HIV e os modelos de estudos: FIV e SIV.
O vírus de escolha para estudos
comparativos ao HIV (Vírus da Imunodeficiência Humano) era o SIV (Vírus da
Imunodeficiência Primata), devido principalmente a suas compatibilidades
genéticas, visto que, provavelmente, o HIV surgiu de espécies cruzadas de SIV,
há mais ou menos 100 anos, no centro-oeste da África. Atualmente o modelo de
escolha para estudos do HIV é o FIV (Vírus da Imunodeficiência Felina),
principalmente pela facilidade de se encontrar o vírus nos gatos e pelo menor
desafio ético em trabalhar com esses animais, quando comparado aos primatas.
O FIV tem distribuição mundial e
prevalência em gatos machos, adultos e que vivem em alta densidade populacional
(abrigos ou acumuladores de animais). A principal forma de transmissão se
dá pela inoculação de sangue ou saliva,
por mordidas, e por esse motivo, ficou conhecida como a “doença da briga”.
Assim como o HIV, o FIV tem tropismo celular principalmente, por linfócitos
CD4+, mas podendo infectar também CD8+, linfócitos B e macrófagos que causarão uma
disfunção imune progressiva, caso o animal chegue na fase de imunodeficiência
(7-10 anos sendo portador do vírus).
O HIV também tem distribuição
mundial e sua prevalência é em homens homossexuais. A transmissão pelo HIV se
dá no contato de secreções, portanto na relação sexual (heterossexual ou
homossexual), ao se compartilhar seringas, em acidentes com agulhas e objetos
cortantes infectados, na transfusão de sangue contaminado, na transmissão
vertical da mãe infectada para o feto durante a gestação ou na amamentação,mas
diferente do FIV, a saliva do portador do HIV tem pouca concentração viral, e
dificilmente será transmitido por esse meio.
Estudos com FIV.
Na resposta imune inata os gatos respondem à
infecção experimental pelo FIV de uma maneira muito semelhante às pessoas
infectadas com o HIV. A única diferença é que a infecção pelo FIV como ocorre
mais comumente via inoculação direta do sangue, as respostas inatas podem ser
ativadas um pouco mais rápido. Mas para comparar melhor os mecanismos inatos de
FIV, o próprio HIV precisa ser melhor estudado, visto que uma grande parte do
genoma dos mamíferos é derivada de retrovírus, e há uma capacidade limitada
para combater a replicação viral no ínicio da infecção.
A resposta imune adaptativa experimental
em FIV também ocorreu de forma muito parecida com os humanos, linfócitos
citotóxicos específicos de vírus (CTL) e anticorpos aparecem no organismo entre
2-4 semanas junto da diminuição da viremia no sangue. Ainda faltam alguns
estudos, mas é provável que o CTL, assim como nos humanos, servem para
restringir a replicação viral durante a fase silenciosa da infecção, retardando
a progressão, mas não sendo capaz de
eliminar os vírus, devido a falta de suporte de citocinas CD4+, exaustão
e/ou surgimento de mutantes virais.
Os linfócitos T CD4 são o alvo
predominante tanto do HIV quanto do FIV, e a sua perda sustenta a
imunodeficiência de ambas as infecções. Os dados obtidos até agora, sugerem que
durante a infecção aguda pelo HIV, os linfócitos T CD4 disseminados sofrem
ativação,resultando em alvo suscetível e abundante para infecção causando alta
replicação viral e alta morte celular devido a efeitos virais.Com o FIV, os estudos da infecção está um pouco
mais limitado, mas ensaios sensíveis que detectam RNA viral plasmático,
indicaram que a dinâmica viral segue um curso de tempo semelhante em gatos
infectados e em pessoas não tratadas.
Na imunidade humoral, os anticorpos são
mais eficazes contra partículas de vírus livres e não nas células, portanto, na
infecção pelo HIV, são raros os anticorpos capazes de neutralizar, a grande
maioria de anticorpos produzidos abundantemente são ineficazes. Na infecção por
FIV, anticorpos que persistem por toda a vida também são gerados e em grande
quantidade dentro de algumas semanas de exposição, servindo de base para o
diagnóstico. Novos estudos estão surgindo, com base em um anticorpo encontrado
na infecção por FIV, que foi capaz de se ligar no principal receptor de
ligação, o CD134 (se liga a CD4, para infectar).
Nos EUA, desde 2002, uma vacina comercial
contra dois subtipos do FIV (A e D) está disponível, porém, ela apresenta baixa
eficácia in vivo (20-100%),
necessitando de mais estudos, mas podendo servir para o início de pesquisas em
HIV. Existe terapia antiviral para portadores de HIV, embora a infecção não
seja eliminada,os níveis de replicação viral diminuem e mutações no genoma
viral são muito retardadas. Em FIV a terapia anti-retroviral não é amplamente
utilizada para gatos infectados.
A infecção por FIV em gatos pode ser comparada
em vários aspectos com a infecção pelo HIV em pessoas, e oferece muitas
oportunidades de pesquisas, visto que o modelo é muito adequado para ser
utilizado para abordagens terapêuticas e testes profiláticos, que ainda não
temos disponíveis para o vírus da imunodeficiência humana.
Referências.
BIENZLE D.;FIV in cats – a useful model of HIV in people?.Elsevier -
Veterinary Immunology and Immunopathology. Guelph, Canadá. 2014.
HIV: Sintomas, transmissão e prevenção. Instituto de Tecnologia em
Imunobiológicas, Manguinhos, 2014. Disponível em:https://www.bio.fiocruz.br/index.php/sintomas-transmissao-e-prevencao-nat-hiv. Acesso em: 17 de
Junho de 2019.
HIV e FIV, existem semelhanças?. VetWest. Disponível em:https://www.vetwest.com.au/pet-library/fiv-and-hiv-are-there-any-similarities. Acesso em 17 de
Junho de 2019.
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