Autoras:
Ana
Flávia de Paula Pereira (Graduanda em Medicina Veterinária – UFU) e Sabrina
Laís Bispo Magalhães (Graduanda em Biotecnologia – UFU)
Editor:
Vinícius
José de Oliveira (Doutorando PPIPA)
A
dengue é uma doença comum em regiões de clima tropical e subtropical devido as
condições favoráveis ao desenvolvimento do vetor, o mosquito Aedes aegypti responsável pela
transmissão do patógeno. O vírus causador é do gênero Flavivírus sp., da família Flaviviridade de tipo 1 e contém uma
fita simples de RNA com polaridade positiva, eles são classificados em quatro
sorotipos distintos DENV I, II, III, IV.
O
vírus da dengue possui em sua estrutura a proteína E, ela é capaz de interagir
com diversos co-receptores como lectinas, claudina-1, glicosaminoglicanos, polissacarídeos
sulfatados, e outros presentes em
células mononucleares como os macrófagos ou monócitos, e células dendríticas, com essa interação o microrganismo consegue
invadir o organismo do hospedeiro por meio da fusão.
Na
primeira infecção o único mecanismo de defesa é a resposta imune inata, mas na
segunda a resposta imune pode ser agravada pelo mecanismo ADE, que é a
exacerbação da doença mediada pela ação de anticorpos provenientes da infecção
anterior, associado a virulência da cepa. Neste caso, a interação antígeno e
anticorpo facilita a entrada do vírus, porém a ligação entre ambos é fraca e o
vírus é capaz de burlar o sistema imune e obter êxito na propagação nas células
do hospedeiro, pois o Ig não realiza sua função neutralizante e sim auxilia o
patógeno.
Como
os principais alvos de infecção são as células de Langerhans, na pele, os macrófagos e células dendríticas, por serem
as primeiras que entram em contato com o vírus, a viremia é facilmente
instalada, pois os antígenos podem ser transmitidos para os mosquitos que levam
para os próximos indivíduos onde irão praticar hematofagia.
As células T
específicas para a resposta contra o vírus utilizam diversos mecanismos como
proliferação, lise de células-alvo e a produção de uma diversidade de
citocinas. As principais produções estão relacionadas com as atividades de
células Th1, responsável por uma resposta pró-inflamatória, e Th2, que está
associada a produção de células B com estimulação da resposta humoral.
Entretanto, a variação de aminoácidos presente nos diferentes sorotipos afeta a
funcionalidade e efetividade das células T.
Houve uma descoberta recente que indica
atuação de células Th17 em paralelo com Th1 e Th2, realizando uma comunicação
com a imunidade inata por ativar as características pró-inflamatórias dos
neutrófilos nas periferias
O quadro clínico dos casos de dengue mostra uma
sintomatologia inespecífica, com pacientes febris, apresentando mal-estar e
fraqueza. Os mais comuns e conhecidos sintomas que a doença traz são as dores
musculares e cefaleia. Há sangramentos e hematomas formados com facilidade
devido a desregulação da hemostasia. Além disso, pode ocorrer uma disfunção
ventricular na fase aguda da dengue hemorrágica que já foi estudada e descrita
por vários autores, porém na prática clínica do dia-a-dia é sub-diagnosticada.
Essa característica leva a uma queda na ejeção ventricular de sangue durante a
infecção.
O vírus pode apresentar alguns mecanismos de
evasão que são essenciais para sua característica infectante e sobrevivência no
organismo, como a habilidade de incapacitar a produção de IFN mesmo sendo estimuladas
por IFN 1. Como a infecção é comum em células dendríticas a inibição de IFN as
torna ineficientes, pois perdem a capacidade de diferenciar células T em Th do
tipo 1. O principal bloqueio acontece para a produção de IFN tipo1 alfa e beta
já que o gama ainda consegue ser produzido pela sinalização da via STAT2,
entretanto seu estímulo não causará mais resposta na célula para maior produção
já que foi inibida e encontra-se sem eficiência. Acredita-se que a produção de
proteínas específicas exerça uma “down-regulation”
nos genes responsáveis pela produção de IFN por uma determinada via de STAT1.
As vacinas produzidas contra a dengue buscam
induzir a maior produção de anticorpos neutralizantes, principalmente na forma
de vírus inativo, pois os riscos da utilização da vacina com vírus atenuado são
mais altos pela característica de infecção da doença (mecanismo ADE). As
vacinas testadas possuem proteína E, pré-M, C e RNA viral. A proteína E sofre
glicosilação e fica parecida com os “vírions”
da dengue, por isso pode ter seus domínios reconhecidos por anticorpos
monoclonais que irão responder de forma neutralizante contra as alterações
virais. Existem investimentos para o desenvolvimento de proteínas E purificadas
específicas para cada sorotipo da dengue.
Apesar do risco, vacinas com o vírus atenuado
também foram produzidas, substituindo as proteínas E e pré-M por seus
equivalentes genes do vírus atenuado em cada sorotipo, abrindo portas para
quatro vacinas candidatas, entretanto essa vacina demonstrou baixa viremia
podendo ser útil para a utilização em humanos, mas não tem a capacidade de
transmitir os anticorpos para combater o vírus no mosquito.
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