Por: Lúcia Cecília Nunes
Editora: Tamires Lopes Silva
Vitiligo é uma doença
poligênica, ou seja determinada por vários genes que possui como característica
a perda da coloração da pele. Essa perda ocorre devido a morte dos melanócitos,
células responsáveis pela produção de melanina, componente característico
da pigmentação de nossos corpos. Acredita-se que a perda destes melanócitos
está relacionada a mecanismos auto-imunes, citotóxicos e oxidantes. Espécies
reativas de oxigênio (EROS) - características do estresse oxidativo - foram registradas em peles afetadas por
vitiligo, sendo que numerosas enzimas, além da tirosinase, precursora da
melanina são afetadas. Além disso, também há registro de alterações no sistema
imunológico durante a doença, seja ela no seu estado crônico ou progressivo.
Portanto, acredita-se que a morte dos melanócitos no vitiligo não está
especificamente ligada a um fator, mas sim a um conjunto de fatores que
interagem entre si.
As espécies reativas de
oxigênio (EROS) acumuladas causam danos ao DNA, peroxidação lipídica e
proteica, ou seja, muitas proteínas são alteradas e mostram perda parcial ou
total de funcionalidade diante da oxidação mediada por H2O2(peróxido de
hidrogênio), que é o caso da enzima tirosinase, onde o peróxido de hidrogênio
funciona como um inibidor da sua atividade. Além disso estudos também mostram
um estresse oxidativo sistêmico em pacientes com vitiligo, devido ao
desequilíbrio nos sistemas antioxidantes não enzimáticos, somado a um
decréscimo significante na atividade da acetilcolina esterase (AchE) - enzima responsável
por hidrolisar a acetilcolina na fenda sináptica.
Os níveis aumentados de EROS
nos melanócitos podem causar uma apoptose defeituosa, resultando na alta
liberação de proteínas que podem servir como autoantígenos, levando a
autoimunidade. Os níveis intracelulares de H2O2 e outros EROS
também aumentam em resposta aos níveis de TNF-α, que são potentes
inibidores da melanogênese (processo de síntese da melanina) . Os níveis de EROS são aumentados por citocinas, incluindo a
IL-2 que regula positivamente a expressão da proteína anti-apoptose e a Bcl-2
(linfoma de célula B-2) tornando células T resistentes a morte celular
programada.
Os anticorpos que atuam
contra os antígenos dos melanócitos são detectados no soro de pacientes com
vitiligo, e existe uma correlação entre melanócitos, níveis de anticorpos e
atividade da doença. A tirosinase é o principal antígeno reconhecido por esses
anticorpos, sugere-se que 75% dos pacientes com vitiligo possuem anticorpos que
são antimelanócitos em sua circulação. O aumento na concentração de células T
citotóxicas reativas a melanócitos no sangue de pacientes com vitiligo, a
infiltração perilesional de células T e a perda de melanócitos in situ,
reafirmam o envolvimento da autoimunidade celular na patogênese do vitiligo.
Estudos histopatológicos e imuno-histoquímicos mostram a presença de
infiltração de células TCD8+ no vitiligo generalizado, enquanto que estudos in
vitro demonstraram um aumento na produção de citocinas pró-inflamatórias
IL-6 e IL-8 por monócitos de pacientes com vitiligo progressivo, o que afetará
a migração de células efetoras, e também ativará as células B.
Recentemente a análise
imuno-histoquímica mostrou infiltração das celulas T helper 17 em amostras de
pele com vitiligo, além de células TCD8+. Os estudos fornecem evidências sobre
a influência de um ambiente de citocinas relacionadas com células T helper 17 (
IL-17A, IL-1b, IL-6 e TNFa) na despigmentação local no vitiligo. A IL-17 também
foi relatada como envolvida na produção de EROS.
Os melanócitos de pacientes
com vitiligo demonstraram várias anormalidades, incluindo síntese incompetente,
retículo endoplasmático rugoso anormal e apoptose precoce. Durante a
apoptose, há modificação de antígenos de melanocitose através de proteólise,
além de alterações na fosforilação e citrulinação, o que dá origem a formas
imunoestimuladoras intracelulares associadas a membrana de autoantígenos. Estes
autoantígenos modificados, que também podem expor epítopos, podem ser
processados por células de Langerhans maduras e apresentados a células T.
Posteriormente, a auto-reação as células TCD4 podem estimular as células B
autorreativas e produzir auto-anticorpos enquanto que as células TCD8 podem
atacar melanócitos diretamente. Vale a pena notar que a eliminação eficiente de
células apoptóticas é crucial para evitar respostas auto-imunes a antígenos
intracelulares.
A interação do estresse
oxidativo e o sistema imunológico são as duas principais teorias da patogênese
do vitiligo, incluindo autoimunidade etiológica e mediação da toxicidade do
melanócito pelo estresse oxidativo. Além disso, o estresse oxidativo produzido
através do aumento da liberação de catecolamina ou outras fontes como
intermediários tóxicos precursores da melanina, podem iniciar ou amplificar a
perda de melanócitos por autoimunidade.
Vitiligo: interplay between oxidative stress and immune system, DOI: (10.1111/exd.12103). https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/exd.12103 |
A patogênese do vitiligo, é
entendida como complexa e enigmática em maior extensão. No entanto, as
abordagens científicas apresentadas nos últimos anos produziram algumas pistas
interessantes que dão crédito ao estresse oxidativo e às hipóteses autoimunes
com potencial relevância clínica. Embora a condição possa ser precipitada por
múltiplas etiologias, a interação do estresse oxidativo com o sistema imune
claramente parece ser a via convergente que inicia e / ou amplifica a perda
enigmática dos melanócitos. Uma melhor compreensão dos fatores desencadeantes
para a geração de autoimunidade em pacientes com vitiligo poderia abrir caminho
para o desenvolvimento de terapias preventivas.
Referências
LADDHA, Naresh C. et al. Vitiligo: interplay between oxidative stress and immune system. Experimental Dermatology, [s.l.], v. 22, n. 4, p.245-250, 21 fev. 2013. Wiley. http://dx.doi.org/10.1111/exd.12103.
DENAT, Laurence et al. Melanocytes as Instigators and Victims of Oxidative Stress. Journal Of Investigative Dermatology, [s.l.], v. 134, n. 6, p.1512-1518, jun. 2014. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1038/jid.2014.65.
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