quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Novas abordagens terapêuticas para a doença de Alzheimer


Autor: Gean Carlo Azinari
Editora: Vanessa Resende Souza Silva

A doença de Alzheimer (DA) é um distúrbio neurodegenerativo do cérebro que pode afetar diversos processos da função mental, como a memória, o pensamento, o comportamento e a capacidade de executar tarefas comuns do dia a dia, sendo reconhecida como a causa atual mais comum de demência. Foi descrita inicialmente em 1906 pelo psiquiatra e neuropatologista alemão Alois Alzheimer, e estima-se que afeta atualmente cerca de 46 milhões de pessoas pelo mundo todo, podendo esse valor ser dobrado a cada 20 anos. A doença possui um caráter progressivo, irreversível, e costuma afetar pessoas com mais de 65 anos, porém pode também se manifestar em faixas etárias inferiores. O diagnóstico definitivo para Alzheimer costumava ser difícil e só era realizado com base em uma biópsia do tecido cerebral, ou através de lâminas de histopatologias, porém, este cenário vem mudando com o aumento das tecnologias disponíveis de imagem e análise, que fornecem um diagnóstico mais preciso, certeiro e precoce, permitindo ao paciente iniciar um tratamento antes do avanço da doença.

Fisiopatologia

O mecanismo patológico básico desta doença está relacionado com a mudança na conformação de duas proteínas que são produzidas normalmente em nosso cérebro, o peptídeos amiloide-beta (Aβ), e a proteína Tau, que por se apresentarem de uma forma ineficiente podem levar ao desenvolvimento de distúrbios decorrentes da ausência de suas funções celulares, e ao aparecimento da Doença de Alzheimer.
Os agregados do peptídeo Aβ podem formam placas neuríticas, que são placas neurotóxicas formadas por fragmentos da clivagem incorreta da proteína precursora amiloide, e podem ser vistas através de microscópio óptico por diversas colorações, servindo deste modo como um marcador histológico da doença de Alzheimer. Além das placas neuríticas, são observadas também diversas alterações microvasculares cerebrais, que são comumente vistas em outras neuropatologias, como no acidente vascular cerebral.
A proteína Tau é uma proteína citoplasmática cuja função está relacionada com a regulação do transporte axonal, participando também da montagem e estabilidade dos microtúbulos, que são proteínas estruturais de alta importância para o funcionamento dos neurônios. A fosforilação da proteína Tau em domínios específicos modula suas funções intracelulares, porém, uma fosforilação excessiva dissocia-a dos microtúbulos do esqueleto neuronal, levando a desestabilização dessas proteínas e formação de filamentos peptídicos em forma de hélice, que podem inclusive interferir na função de outras proteínas Tau normalmente fosforiladas.

Alzheimer e o sistema imunológico

O sistema imunológico maduro de um ser humano adulto é capaz de neutralizar e eliminar tais proteínas aberrantes responsáveis pela ocorrência da doença de Alzheimer, porém, esta vigilância fisiológica decai com o avanço da idade do paciente através de um mecanismo natural conhecido por imunosenescência, ou envelhecimento do sistema imunológico, que coincide com o aparecimento da doença de Alzheimer. Atualmente, as opções de tratamento disponíveis no mercado são limitadas a reduzir os sintomas associados aos problemas cognitivos, não impedindo de fato o progresso da doença, existindo assim a necessidade de uma intervenção que vise atuar nas causas patológicas da doença, e não apenas nas consequências por ela produzidas. Deste modo, surge a ideia da imunoterapia, uma forma de imunização que pode ocorrer basicamente de duas formas, ativa e passiva.

Imunoterapia ativa

A imunização ativa se baseia na administração de um composto vacinal formado por um antígeno e um adjuvante, visando a ativação do sistema imunológico e promoção de resposta celular e humoral, comandado pelos linfócitos T e B respectivamente. Este tipo de imunização estimula a produção de anticorpos pelas células plasmocitárias – células produtoras de anticorpos – para que as proteínas aberrantes possam ser eliminadas, ou até mesmo dirigidas para fora do Sistema Nervoso Central, aumentando assim a depuração destes elementos. Teoricamente, este tipo de imunoterapia poderia retardar a inflamação local, e reduzir a ligação da proteína Aβ com outras proteínas saudáveis, evitando assim a neurotoxicidade, porém, como a reação imunológica é desenvolvida pelo próprio organismo vacinado, estes anticorpos podem atuar em tecidos saudáveis próprios, desenvolvendo uma resposta autoimune inflamatória que pode ser danosa para o cérebro, limitando um pouco sua aplicação.

Imunização passiva

A imunização passiva é atualmente o método mais promissor para regressão da doença de Alzheimer, e se baseia na injeção direta intravenosa de anticorpos monoclonais pré-formados, ou de anticorpos policlonais derivados de um doador, visando assim o não desenvolvimento de uma resposta autoimune. Este tipo de imunização tem como objetivo a redução do conteúdo amiloide do cérebro de pacientes doentes através de diversas abordagens, tais como: inibição da agregação amiloide, facilitação da fagocitose do conteúdo amiloide por células da micróglia e ligação dos anticorpos ao conteúdo amiloide plasmático, gerando um gradiente de concentração que provoca um efluxo deste conteúdo para fora do Sistema Nervoso Central. Porém, este método de imunização é mais custoso, uma vez que requer a pré-produção destes anticorpos e exige a administração de injeções mensais, tornando-se assim menos prática e mais dispendiosa.

Desafios

Embora o campo de estudo da imunoterapia tenha se desenvolvido muito nos últimos anos, o trabalho envolvendo este tipo de abordagem ainda apresenta alguns desafios que necessitam ser ultrapassados. Apenas uma pequena parcela dos anticorpos produzidos na imunoterapia conseguem de fato atravessar a barreira hematoencefálica, sendo necessário o surgimento de novas formas de penetração deste material no cérebro. Além disso, a patogênese do Alzheimer se inicia décadas antes do surgimento dos sintomas clínicos, influenciando diretamente no sucesso da terapia. Deste modo, o diagnóstico definitivo ainda necessita de melhorias em sensibilidade e estabilidade, para que a doença possa assim ser prevenida, ou precocemente tratada. Para isto, é necessário que novos estudos sejam executados cada vez mais, de forma a futuramente ser prevenida, ou tratada a doença de Alzheimer.

Referências:
HAYAT, M. A.. Immunology: Immunotoxicology, Immunopathology, and Immunotherapy. Unied States: Academic Express, 2018. 286 p.

SANTOS, Joana Margarida Silvestre da Costa. Imunomodulação no tratamento na doença de Alzheimer. 2018. 35 f. Monografia (Especialização) - Curso de Farmacologia, Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, Universidade de Coimbra, Coimbra, 2016.

FULOP, Tamas; PAGE, Aurélie y Le; FROST, Eric H. Role of the innate immune response in the progression of Alzheimer’s disease. The Journal Of Immunology. Canada, p. 27-55. 1 de maio de 2017. Disponível em: <http://www.jimmunol.org/content/198/1_Supplement/55.27>.Acesso em 21 de outubro de 2018.

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