segunda-feira, 12 de março de 2018

Vírus da Imunodeficiência Adquirida: AIDS Humana e AIDS Felina


Autor: Julio Cesar Neves de Almeida (Medicina Veterinária/UFU)
Editor: Lucas Vasconcelos Soares Costa (PPIPA/UFU)



Você sabia que os gatos também são atingidos por um vírus que causa imunodeficiência semelhante a AIDS?
Como assim? Você deve estar pensando! Então vamos falar mais sobre isso.




            Assim como o HIV, o Vírus da Imunodeficiência Felina (FIV) é um Lentivírus do grupo dos Retrovírus. Ambos são bastante semelhantes, desde seu ciclo de vida à patologia causada por eles em seu hospedeiro. Assim como outros Retrovírus, os mesmos inserem seu RNA de fita simples na célula hospedeira e, através de uma enzima chamada transcriptase reversa, sintetizam DNA a partir deste RNA. O DNA viral então se liga ao DNA da célula hospedeira para que ocorra a replicação viral, com consequente morte celular.
            O FIV e o HIV tem como principal alvo as células que expressam CD4 em sua membrana, principalmente os Linfócitos T. Essas células tem uma grande importância, tanto na regulação da resposta imune humoral e produção de anticorpos, quanto na resposta celular. A notável diferença entre os vírus são os mecanismos de invasão celular, enquanto o FIV utiliza a molécula CD134 como receptor primário, o HIV utiliza o CD4. Com relação a patogenia, as síndromes apresentam uma clínica de fase aguda similar, com episódios de febre e linfoadenopatia generalizada. Após dois meses de infecção, o hospedeiro possui uma maior carga viral. Com isso, ocorre um declínio das células potencialmente infectivas, ocasionando uma diminuição da carga viral, e assim o hospedeiro apresentará uma fase assintomática que pode perdurar por anos.  
A importância da prevenção para ambas infecções deve ser ressaltada, considerando que não existe cura para essas doenças. Como a transmissão sexual é a principal forma de infecção, o uso do preservativo é a principal forma de prevenção. Entretanto, ainda que não totalmente seguros, eficazes e aconselháveis, atualmente existem outros métodos para evitar a doença. Por exemplo, podemos citar o PrEP, ou Profilaxia Pré-exposição, é um medicamento utilizado para evitar que uma pessoa soronegativa adquira a infecção antes da exposição ao vírus, principalmente se a pessoa mantém uma relação estavél com pessoa soropositiva. O composto utilizado para a profilaxia, chamado Truvada, é a combinação de dois antirretrovirais. Existe também a PEP, ou Profilaxia Pós-exposição, medicamento dado a pessoa que possivelmente foi exposta ao vírus nos últimos três dias. É importante lembrar que para prevenção é melhor combinar os tratamentos, então mesmo que sob uso do PrEP, o uso de preservativo é imprescindível. Afinal, esta é uma prevenção apenas para retrovírus, e não para todas as doenças sexualmente transmissíveis.
Apesar das dificuldades, alguns avanços vem sido realizados para produção de vacina contra o vírus FIV. Em 2003, o Departamento da Agricultura dos EUA aprovou a primeira vacina contra FIV, a qual foi feita a partir de vírus vivos inativados. No entanto, esta vacina não foi capaz de gerar uma proteção adequada, uma vez que o vírus possui variantes altamente divergentes, o que desfavorece a produção de anticorpos mais específicos.Isso é importante pois, embora o FIV seja espécie-específico, acometendo somente felinos, é bastante relevante para a ciência devido às suas semelhanças com o HIV e a não infecção de primatas pelo mesmo. Tais aspectos podem ser determinantes para o estudo dos Lentivírus e, possivelmente, encontrar meios para combater a infecção causada por estes microorganismos de uma maneira mais eficiente e a produção de uma vacina protetora para o vírus HIV.

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