segunda-feira, 19 de março de 2018

“Kiss-and-run”
Uma nova ferramenta denominada “LIPSTIC” pode contribuir nos avanços da pesquisa pelo rastreamento da comunicação entre células in vivo


Por: Caroline Martins Mota (PostDoc UFU/PPIPA)

 O papel chave no desenvolvimento da resposta imune é o contato entre as células. Recentemente o grupo de pesquisa do professor Gabriel Victora da Universidade de Rockefeller publicou um trabalho na revista Nature que descreve um método que pode quantificar as interações entre células T e APCs em modelos murinos, para isso eles criaram um sistema para rotular as estruturas celulares que realmente fazem contato físico quando duas células se encontram. O método utiliza a transferência enzimática de um marcador molecular contendo um tag de aminoácidos, unida a uma molécula facilmente monitorada, como a biotina. O marcador pode ser transferido de uma célula para outra apenas se as células estiverem próximas o suficiente para que uma interação ocorra entre um receptor e um ligante nas superfícies das células que interagem. A marcação molecular pode então ser detectada por métodos padrão de análise celular, como microscopia, ou quantificados in vitro usando análise de fluorescência. Os autores se referem a este método de rastreamento de um "beijo" molecular entre as células como LIPSTIC.

Figura: Rastreamento das interações celulares. Pasqual et al. (2018) descrevem uma técnica (denominada LIPSTIC) que pode monitorar interações entre uma célula T e uma célula apresentadora de antígeno (APC) in vivo

Para testar a técnica o grupo demonstrou uma interação chave na superfície de células imunes que é altamente dinâmica: o contato entre CD40L, que está presente em células T, e o receptor CD40, em APCs. Usando modelos murinos, os autores criaram uma proteína de fusão contendo uma enzima sortase e CD40L, e gerou uma versão de CD40 que continha resíduos de aminoácidos de glicina na região amino terminal. A sortase foi fornecida com um tag, que se tornou ligada à enzima. Neste sistema, quando CD40 e CD40L interagiram, a sortase da célula T atribuiu o tag ao resíduo de glicina N-terminal no CD40 da APC, permitindo assim que as interações célula-célula no sistema imunológico fossem quantificadas - quanto maior contato entre APCs e células T, maior a quantidade de marcação celular detectada.
Desse modo, o trabalho tem um impacto no estudo da resposta imune, uma vez que poderá contribuir para desvendar as interações celulares, que são essenciais para o sucesso no desenvolvimento de ferramentas terapêuticas como vacinação, imunoterapias contra câncer e a eliminação de doenças.

Referência: Pasqual, G. et al. Nature 553, 496–500 (2018).

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