quarta-feira, 28 de junho de 2017

Transplante de fezes?

Por: Vanessa Resende Souza Silva (Doutoranda /PPIPA)
Editora: Carolina Salomão Lopes (Pós-Doc/PPIPA)


Também conhecido como terapia bacteriana, o transplante fecal é um tratamento que possui o objetivo de repor bactérias benéficas que foram eliminadas por uso de antibióticos ou por subpopulação de bactérias maléficas como o Clostridium difficile.
Publicado em 2013 na revista "The New England Journal of Medicine", um grupo holandês testou a eficácia de um transplante de fezes para tratar pacientes com infecção intestinal, em comparação com o uso de antibióticos normais. Os pesquisadores analisaram três grupos diferentes. O primeiro incluía pessoas com diarréia causada pela bactéria Clostridium difficile, as quais receberam vancomicina (antibiótico), lavagem intestinal e fezes de indivíduos normais, por meio de uma sonda do nariz até o estômago ou o intestino delgado. Os outros dois grupos possuíam voluntários, sendo um tratado com vancomicina e lavagem, e o outro, apenas com o antibiótico. Os resultados mostraram que o transplante de fezes de um indivíduo saudável para outro com infecção intestinal grave pode reequilibrar rapidamente a flora bacteriana, o que muitas vezes não é controlado com antibióticos, já que a Clostridium difficile é bastante resistente.
O intestino contém milhares de tipos de microrganismos, assim é difícil saber quais são as bactérias que de fato reequilibram a microbiota intestinal. Por essa razão, as fezes têm sido transplantadas praticamente intactas, apenas diluídas em salina.
Mas como é feito? O transplante da microbiota fecal é um procedimento no qual as fezes de um doador são coletadas, misturadas a uma solução, coadas e colocadas no intestino do paciente receptor, seja por colonoscopia, endoscopia ou enema. O doador de fezes precisa ser saudável, não ter tomado antibióticos há pelo menos três meses e ser submetido a exames de fezes e de sangue, geralmente, o doador é um membro da família. No Brasil, utiliza-se uma mistura de dois doadores para obter uma microbiota de maior qualidade. O material coletado deve ser utilizado até 6 horas após a coleta. E é utilizado de 50 a 100 g de fezes a cada 500 ml de soro.
Os probióticos são bons exemplos de microrganismos que são benéficos a nossa microbiota e estão disponíveis ao nosso consumo. Os microrganismos normalmente utilizados são os Lactobacillus acidophillus, L. casei e L. bifidum. O consumo regular de alimentos probióticos ajuda o funcionamento intestinal e ainda fortalece o sistema imune, ajudando a prevenir doenças, como gripes e resfriados.
Alguns fatores podem influenciar o tipo de microbiota residente, são eles, tipo de parto, idade gestacional, país de origem, modo de alimentação, exposição a antibióticos, amamentação e interação com animais durante a primeira infância. Um estudo publicado na revista Microbiome revela que o contato com animais pode favorecer o crescimento de bactérias do grupo Ruminococcus e Oscillospira que estão relacionadas ao menor risco de alergia e obesidade em crianças. Em relação à amamentação, sabe-se que além do leite materno conter aminoácidos essenciais, anticorpos e vitaminas, o bebê recebe bactérias benéficas para composição da sua microbiota através do contato com a mãe e com o leite. Assim, bebês alimentados até os seis meses possuem uma microbiota diferente e são mais resistentes às doenças.
O estudo do desenvolvimento do sistema imune associado à mucosa intestinal e pulmonar realizado em animais têm demonstrado que são necessárias a microbiota para a maturação do sistema imune. Camundongos sem germes colonizados por microbiota humana reduziram a proliferação de células T (TCD4 + e TCD8 +) e células dendríticas.
Cientistas cogitam usar a terapia de transplante de fezes para doenças, tal como síndrome do intestino irritável, Doença de Crohn, síndrome metabólica, diabetes, esclerose múltipla, obesidade, autismo e Doença de Parkinson. Porém, o transplante ainda está em estudo, e precisamos saber a segurança deste método.

Referências:

Patel N. C. et. al. Fecal Microbiota Transplant for Recurrent Clostridium difficile Infection: Mayo Clinic in Arizona Experience. Mayo Clinic Proceedings. V. 88, p.799-805. 2013.


Peloquin, J.M.; Goel, G.; Villablanca E.J.; Xavier, R.J. Mechanisms of Pediatric Inflammatory Bowel Disease. Annu Rev. Immunol. V. 34, p. 31-64. 2016.


Disponível em: http://sbi.org.br/sblogi/ Acesso em 27 de junho de 2017.

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