Por: Vanessa Resende Souza Silva (Doutoranda /PPIPA)
Editora: Carolina Salomão Lopes (Pós-Doc/PPIPA)
Também conhecido como terapia bacteriana,
o transplante fecal é um tratamento que possui o objetivo de repor bactérias
benéficas que foram eliminadas por uso de antibióticos ou por subpopulação de
bactérias maléficas como o Clostridium difficile.
Publicado em
2013 na revista "The New
England Journal of Medicine",
um grupo holandês testou a eficácia de um transplante de
fezes para tratar pacientes com infecção intestinal, em comparação com o uso de
antibióticos normais. Os pesquisadores analisaram três grupos diferentes. O
primeiro incluía pessoas com diarréia causada pela bactéria Clostridium difficile, as quais receberam vancomicina
(antibiótico), lavagem intestinal e fezes de indivíduos normais, por meio de
uma sonda do nariz até o estômago ou o intestino delgado. Os outros dois grupos
possuíam voluntários, sendo um tratado com vancomicina e lavagem, e o outro,
apenas com o antibiótico. Os resultados mostraram que o transplante de fezes de
um indivíduo saudável para outro com infecção intestinal grave pode
reequilibrar rapidamente a flora bacteriana, o que muitas vezes não é
controlado com antibióticos, já que a Clostridium
difficile é bastante
resistente.
O intestino contém milhares de tipos de microrganismos, assim é difícil
saber quais são as bactérias que de fato reequilibram a microbiota intestinal. Por
essa razão, as fezes têm sido transplantadas praticamente intactas, apenas
diluídas em salina.
Mas como é feito? O transplante da microbiota fecal é um procedimento
no qual as fezes de um doador são coletadas, misturadas a uma solução, coadas e
colocadas no intestino do paciente receptor, seja por colonoscopia, endoscopia
ou enema. O doador de fezes precisa ser saudável, não ter tomado
antibióticos há pelo menos três meses e ser submetido a exames de fezes e de
sangue, geralmente, o doador é um membro da família. No Brasil, utiliza-se uma
mistura de dois doadores para obter uma microbiota de maior qualidade. O
material coletado deve ser utilizado até 6 horas após a coleta. E é utilizado de
50 a 100 g de fezes a cada 500 ml de soro.
Os
probióticos são bons exemplos de microrganismos que são benéficos a nossa
microbiota e estão disponíveis ao nosso consumo. Os microrganismos normalmente
utilizados são os Lactobacillus acidophillus, L.
casei e L. bifidum.
O consumo regular de alimentos probióticos ajuda o funcionamento intestinal e
ainda fortalece o sistema imune, ajudando a prevenir doenças, como gripes e
resfriados.
Alguns
fatores podem influenciar o tipo de microbiota residente, são eles, tipo de
parto, idade gestacional, país de origem, modo de alimentação, exposição a
antibióticos, amamentação e interação com animais durante a primeira infância. Um
estudo publicado na revista Microbiome
revela que o contato com animais pode favorecer o crescimento de bactérias do
grupo Ruminococcus e Oscillospira que estão relacionadas ao
menor risco de alergia e obesidade em crianças. Em relação à amamentação,
sabe-se que além do leite materno conter aminoácidos essenciais, anticorpos e
vitaminas, o bebê recebe bactérias benéficas para composição da sua microbiota
através do contato com a mãe e com o leite. Assim, bebês alimentados até os
seis meses possuem uma microbiota diferente e são mais resistentes às doenças.
O
estudo do desenvolvimento do sistema imune associado à mucosa intestinal e
pulmonar realizado em animais têm demonstrado que são necessárias a microbiota para
a maturação do sistema imune. Camundongos sem germes colonizados por microbiota
humana reduziram a proliferação de células T (TCD4 + e TCD8 +)
e células dendríticas.
Cientistas cogitam usar a
terapia de transplante de fezes para doenças, tal como síndrome do intestino
irritável, Doença de Crohn, síndrome metabólica, diabetes, esclerose múltipla, obesidade,
autismo e Doença de Parkinson. Porém, o
transplante ainda está em estudo, e precisamos saber a segurança deste método.
Referências:
Patel N. C. et. al. Fecal Microbiota Transplant for Recurrent Clostridium difficile
Infection: Mayo Clinic in Arizona Experience. Mayo Clinic Proceedings. V. 88, p.799-805. 2013.
Peloquin, J.M.; Goel, G.; Villablanca E.J.; Xavier, R.J. Mechanisms of
Pediatric Inflammatory Bowel Disease. Annu
Rev. Immunol.
V. 34, p. 31-64. 2016.
Disponível em: http://mundoestranho.abril.com.br/saude/como-e-feito-o-transplante-de-fezes/. Acesso em 27 de
junho de 2017.
Disponível em: http://sbi.org.br/sblogi/
Acesso em 27 de junho de 2017.
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