terça-feira, 27 de junho de 2017

A Relação entre Imunologia e as Interações Sociais

Por: Luíz Paulo Chaves de Souza
Editora: Mariana Ferreira Silva

Há tempos ouvimos falar que uma das coisas mais importantes para a escolha dos parceiros sexuais nos animais são os feromônios. Humanos entretanto, não possuem o órgão vomeronasal (ou órgão de Jacobsen), porção auxiliar do sistema olfatório responsável por esse tipo de percepção. Será que ficamos restritos a fatores socioculturais, como aparência? Estudos psico e neurofisiológicos dizem que não – essa escolha seria determinada pelo que os imunologistas chamam de MHC (Fator Principal de Histocompatibilidade).
O que é MHC, ou HLA (Antígeno Leucocitário Humano)?
Complexo principal de histocompatibilidade é uma glicoproteína de membrana codificada por um grande grupo de genes que são altamente polimórficos, ou seja, existem vários tipos dessa molécula e cada um desses tipos é expresso numa quantidade muito grande de pessoas na população. Cada pessoa possui, basicamente, 2 tipos de MHC, um deles para caracterizar células próprias do organismo e outro expresso pelas APC (Células Apresentadores de Antígeno) e cuja função é exatamente apresentar porções imunogênicas dos organismos invasores para os linfócitos T e B. 
Como funciona?
O que essas pesquisas apontam é que existe uma grande relação, comprovada em animais e ainda em estudo em humanos, entre as combinações de alelos que codificam o MHC e o odor basal e natural expresso pelas pessoas. Surpreendentemente, pesquisadores encontraram relação entre os MHCs e as preferências pessoais de fragrâncias, que nesse caso não é só a basal, mas também a de perfumes, por exemplo.
Ainda não se sabe exatamente qual o mecanismo (molecular) que relaciona esses fatores, mas a hipótese é de que peptídeos ligantes do MHC podem sensibilizar, de alguma maneira, neurônios olfatórios. Uma das possibilidades é que moléculas derivadas desse complexo eliminadas na urina, mesmo que em baixas quantidades, podem ser voláteis, sendo assim potenciais sensibilizadores.
Evolutivamente, a diversidade de genótipos codificantes de MHC é mais favorável, visto que, quanto mais díspares são essas moléculas, maior a probabilidade de uma melhor resposta a diferentes antígenos. Essa é a provável justificativa para o fato apontado por essas pesquisas, de que fêmeas tendem a preferir odores de machos cujos alelos codificantes do MHC são diferentes dos seus. Além disso, foi observado que participantes com genótipos semelhantes, apresentam preferência por perfumes com ingredientes naturais parecidos para usar em si, mas não para um parceiro em potencial.
Percebeu-se ainda que a ativação olfatória por esses peptídeos estimula o córtex frontal médio direito, centro de integração importante por reunir todos os impactos sensoriais causados por alguém e referenciar essa memória. Esses artigos sugerem ainda que a percepção olfatória pode ser considerável no reconhecimento de familiares e, em segunda instância, na satisfação sexual e na vontade de ter filhos.
Como sempre na ciência, mais experimentos ainda precisam ser feitos para chegar a informações mais conclusivas, independente disso, o que já foi descoberto é substancial para começarmos a pensar em respostas menos subjetivas para desvendar a fisiologia por trás da paixão e das interações sociais.

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