segunda-feira, 5 de maio de 2025

Imunidade Adaptativa: Mecanismos Específicos de Reconhecimento e Resposta Imune

Autoras: Ana Julia Alves dos Santos (Graduanda Enfermagem), Beatriz Pontes dos Santos (Graduanda Ciências Biólogicas), Camila Peredo Ramirez (Doutorada PPIPA), Luana Gonçalves Araújo (Graduanda Nutrição).

Editoras: Marielle Máximo Barbosa (Mestranda PPGIPA), Melissa de Souza Rodrigues (Mestranda PPGIPA), Ruth Opeyemi Awoyinka (Mestranda PPGIPA), Shiraz Feferbaum Leite (Doutoranda PPGIPA).


 

     O sistema imune inato é frequentemente capaz de conter e erradicar microrganismos invasores, mas alguns deles desenvolveram maneiras de subverter ou evadir-se da imunidade inata. A próxima linha de defesa do hospedeiro é a imunidade adaptativa, também conhecida como imunidade adquirida ou específica, a qual é mediada por linfócitos, que podem ser classificados em duas variedades principais, os linfócitos T (células T) e os linfócitos B (células B).

ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2023.

Figura 1 – Os mecanismos da imunidade inata fornecem a defesa inicial contra infecções. As respostas imunes adaptativas se desenvolvem posteriormente e necessitam de ativação dos linfócitos.

 

     A resposta imunológica adquirida destaca-se por quatro características que garantem sua eficiência e precisão:

  • Especificidade: permite que o sistema imune diferencie com exatidão entre moléculas distintas e direcione sua ação apenas contra os antígenos necessários, em vez de desencadear uma reação generalizada;
  • Capacidade de adaptação: capacidade do repertório de linfócitos em reconhecer uma grande quantidade de antígenos;
  • Memória: capacidade de recordar encontros anteriores com patógenos, o que permite reações mais rápidas e intensas em exposições subsequentes ao mesmo agente;
  • Discriminação entre o próprio e o não próprio (autotolerância): capacidade de reconhecer, responder e eliminar antígenos estranhos sem reagir de forma a prejudicar antígenos do próprio indivíduo.

     Existem dois tipos de imunidade adquirida, conhecidos como imunidade humoral e imunidade celular, que são mediados por células e moléculas diferentes e fornecem a defesa contra microrganismos extra e intracelulares.


  • Imunidade humoral: é mediada por proteínas chamadas anticorpos, produzidas pelos linfócitos B cuja função é impedir que os patógenos presentes no hospedeiro tenham acesso e colonizam as células e tecidos conjuntivos do hospedeiro, outra função dessa imunidade é evitar que a infecção se estabeleça, mas não actua contra microrganismos que vivem e se multiplicam intracelularmente.
  • Imunidade celular: é linha de defesa contra microrganismos intracelulares, porque é mediada pelas células conhecidas como linfócitos T. Existem variados tipos e funções dos linfócitos T.

 

 

ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia básica. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.Figura adaptada.

Figura 2  – Tipos de imunidade adquirida

 

Mecanismos de resposta do sistema imune adaptativo

      As respostas imunes adaptativas consistem em passos distintos, sendo os três primeiros: o reconhecimento do antígeno, a ativação dos linfócitos e a eliminação do antígeno (fase efetora). A resposta se contrai (declina) à medida que os linfócitos estimulados pelos antígenos morrem por apoptose, restaurando a homeostasia, e as células antígeno-específicas que sobrevivem são responsáveis pela memória. A duração de cada fase pode variar em diferentes respostas imunes. Na figura 3, o eixo y representa uma medida arbitrária da magnitude da resposta. Esses princípios se aplicam à imunidade humoral (mediada por linfócitos B) e à imunidade mediada por células (mediada por linfócitos T).

 

 


ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2023.

Figura 3 – Desenvolvimento das respostas imunes adaptativas.


1. Reconhecimento de Antígenos

     As respostas adaptativas são iniciadas pelo reconhecimento de antígenos por receptores antigênicos dos linfócitos. Os receptores antigênicos dos linfócitos B, reconhecem muitas moléculas como proteínas, polissacarídeos, lipídios e ácidos nucleicos, na forma solúvel como também associada à superfície celular.

     Mas os receptores antigênicos dos linfócitos T só reconhecem fragmentos peptídicos de antígenos proteicos e somente quando estes fragmentos são exibidos nas superfícies de células hospedeiras ligadas a proteínas especializadas chamadas de complexo principal de histocompatibilidade (MHC do inglês Major histocompatibility complex). Existem dois tipos principais de MHC: classe I, presente em todas as células nucleadas e atuam com linfócitos T citotóxicos, contra patógenos intracelulares; e MHC classe II é expresso apenas por células apresentadoras de antígenos (APCs) profissionais, atua com o TCD4, contra a patógenos extracelulares.

 

2. Ativação dos linfócitos.

     Uma vez que o antígeno é apresentado podem surgir 2 vias de resposta na imunidade Celular, em ambas vias existe a proliferação e diferenciação dos linfócitos T a células efetoras :

  • Via de MHC classe I: o antígeno é apresentado para os linfócitos T citotóxicos (célula efetora) que induzem a morte das células alvo que expressam esse antígeno.
  • Via de MHC classe II: o antígeno é apresentado para linfócitos T auxiliares que ativam aos macrofagos e aos linfócitos B para fagocitar e produzir anticorpos contra o microrganismo produtor do antígeno.

     Na imunidade Humoral o linfócito B naive reconhece antígenos e pode haver a participação ou não dos linfócitos T, podendo existir 2 tipos de resposta dos anticorpos:

  • Resposta T dependente: quando se produzem anticorpos de alta afinidade com troca de isotipo, células de memória e plasmócitos de vida longa em resposta a antígenos apresentados por linfócitos T auxiliares.
  • Resposta T independente: quando se produzem anticorpos de baixa afinidade e plasmócitos de vida curta em resposta a outros estímulos captados pelo próprio linfócito B. 

3. Eliminação do antígeno

Acontece quando as células diferenciadas, isto é, as células efetoras conseguem eliminar o microrganismo do hospedeiro. Cada célula efetora tem funções e características próprias.

 

Na Imunidade Celular:

  • Linfócito CD4: expressam moléculas que recrutam e ativam outros leucócitos para fagocitar e destruir o microrganismo alvo do antígeno.
  • Linfócito CD8: também chamado citotóxico mata as células infectadas contendo proteínas microbianas no citosol, eliminando assim os reservatórios celulares de infecção.

 

Na Imunidade Humoral: os anticorpos têm isotipos:

  • IgG: sua função é neutralizar microrganismos e toxinas, opsonização de antígenos, ativa a via clássica do complemento, e tem capacidade citotóxica com ajuda dos linfócitos natural killer.
  • IgM: ativa a via clássica do complemento
  • IgA: imunidade da mucosa do trato gastrointestinal e respiratório.
  • IgE: defesa contra helmintos mediada por eosinófilos e mastócitos, presentes também na hipersensibilidade tipo I.

     Assim, por conter diversas propriedades, a imunidade adaptativa é capaz de gerar diferentes tipos de resposta ao entrar em contato com distintos antígenos, desenvolvendo uma memória imunológica mais ágil para futuras infecções e se especializando nessas respostas.

 

ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia básica. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. Tabela adaptada.

Figura 4 – Propriedades das respostas imunológicas adquiridas.Resumo das propriedades importantes da resposta imunológica adquirida e como cada uma delas contribui para a defesa do hospedeiro contra os microrganismos.

  

     Em suma, a imunidade adaptativa transcende a simples defesa imediata, estabelecendo uma proteção aprimorada e de longo prazo contra os desafios do mundo microbiano. Sua capacidade de aprendizado e memorização imunológica não apenas resguarda o indivíduo de doenças recorrentes, mas também pavimenta o caminho para intervenções médicas preventivas eficazes, como a vacinação, que erradicaram e controlaram inúmeras enfermidades. Portanto, a imunidade adaptativa é um pilar fundamental para a saúde individual e coletiva, moldando nossa capacidade de coexistir com um ambiente repleto de microrganismos.

 

 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Abul K. Abbas; Andrew H. Lichtman; Shiv Pillai: Imunologia básica. 4ª edição. Elsevier Editora.

ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia Celular e Molecular. 10. ed. Rio de Janeiro: GEN Guanabara Koogan, 2023. E-book. p.7. ISBN 9788595158924. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788595158924/. Acesso em: 18 abr. 2025.


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