quinta-feira, 17 de abril de 2025

Imunidade Inata: A Primeira Linha de Defesa do Sistema Imunológico


Autoras: Ana Carolina Vilela Grossi (Graduanda Nutrição), Bruna Gonçalves Souza (Graduanda Nutrição), Giovanna Megumi Santos Koga Morais, (Graduanda Medicina Veterinária), Natalia Acosta Olivera (Mestranda PPGIPA).


Editoras: Marielle Máximo Barbosa (Mestranda PPGIPA), Melissa de Souza Rodrigues (Mestranda PPGIPA), Ruth Opeyemi Awoyinka (Mestranda PPGIPA), Shiraz Feferbaum Leite (Doutoranda PPGIPA)


   A imunidade inata, também conhecida como imunidade natural, é a primeira linha de defesa do organismo. Por ser constitutiva, ou seja, já está presente antes de ter contato com o antígeno, sua resposta é imediata e rápida, porém não apresenta memória imunológica. 

   Os principais constituintes da imunidade inata são: barreiras epiteliais, células efetoras circulantes, proteínas efetoras circulantes e citocinas. 

   A primeira linha de defesa do sistema imune inato são as barreiras epiteliais, que têm por função dificultar a entrada do patógeno no organismo. Algumas estruturas impedem essa infecção de maneira mecânica, como os pelos, cílios (projeções especializadas das vias aéreas formadas por microtúbulos que movimentam o muco e partículas para fora do trato respiratório), epitélio, cabelos e o muco, enquanto outras contribuem de maneira química, como a atuação de enzimas no suor, lágrimas e saliva, e a alteração de pH das secreções gástricas. Além disso, existe o papel importante da microbiota, que contribui para a eliminação do corpo estranho pela competição por espaço e alimento.

   Por outro lado, as células efetoras circulantes constituem a parte interna da imunidade, ou seja, é a próxima ação do sistema imune quando, por algum motivo, houve falha das barreiras epiteliais. Dessa maneira, alguns agentes se configuram como importantes nessa próxima etapa, tais como:

· Neutrófilos: atuam principalmente na defesa contra bactérias;

· Monócitos: estão presentes na corrente sanguínea e são responsáveis por se diferenciarem em macrófagos em caso de infecção dos tecidos.

· Macrófagos: atuam como apresentadores de antígenos, realizam fagocitose e secretam citocinas que estimulam a inflamação. Eles são encontrados nos tecidos.

· Células Natural Killer (NK): identificam e eliminam células infectadas, liberando grânulos contendo perforinas e granzimas.

· Células dendríticas: são as principais células apresentadoras de antígenos (APCs) e fazem conexão entre a resposta imune inata e adaptativa.

· Eosinófilos e mastócitos: modulam as reações alérgicas e liberam mediadores inflamatórios.

  

ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2023. Figura adaptada.
Figura 1 – Células NK reconhecem alterações na superfície de células infectadas e induzem sua morte.



ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2023. Figura adaptada.
Figura 2 – Estágios do amadurecimento dos fagócitos mononucleares desde a medula óssea até sua diferenciação e ativação tecidual.

 

   As células da imunidade inata identificam patógenos por meio de Receptores de Reconhecimento de Padrões (PRRs), que detectam Padrões Moleculares Associados a Patógenos (PAMPs), estruturas típicas de patógenos e que não estão presentes no hospedeiro (ex.: LPS de bactérias, RNA viral), e Padrões Moleculares Associados a Danos (DAMPs), estruturas ou moléculas que representam a ocorrência de um dano em um tecido ou célula, como a presença de proteínas nucleadas (histonas) no meio extracelular. Os principais tipos de PRRs são:

· TLRs (Receptores Tipo Toll): localizados na membrana plasmática ou endossomos, atuam como moduladores da expressão de genes da inflamação (citocinas, quimiocinas, moléculas coestimuladoras e de adesão endotelial) e reconhecem uma variedade de PAMPs;

· NLRs (Receptores Tipo NOD): detectam PAMPs no citosol (ex.: peptidoglicano);

· RLRs (Receptores Tipo RIG-I): reconhecem RNA viral;

· CLRs (Receptores de Lectina Tipo C): se ligam a carboidratos de fungos e bactérias.

   Além dos PRRs, a imunidade inata utiliza inflamassomos, complexos proteicos que funcionam como sensores de sinais de perigo, como infecções, e ativam respostas inflamatórias intensas.

   As proteínas efetoras circulantes são proteínas que fazem parte do sistema complemento (ativado pelas vias clássica, alternativa e lectina), onde há opsonização, lise de patógenos e ativação de células imunológicas, como a lectina ligante de manose (MBL) e a proteína C reativa (PCR).

   As citocinas fazem parte da imunidade inata fisiológica, como o interferon (IFN), fator de necrose tumoral (TNF) e interleucina (IL). Elas desempenham papéis importantes, como inibir a replicação viral, induzir a febre, promover inflamação, ativar leucócitos e favorecer a comunicação entre células imunológicas. Além disso, elas são responsáveis por intensificar a ativação e proliferação de células efetoras e proteínas que melhoram a resposta contra os microrganismos.




ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2023. Figura adaptada.
Figura 3 – Interação entre macrófagos e células NK, com liberação de citocinas inflamatórias e recrutamento de neutrófilos.

   Ademais, a inflamação, originada pelas citocinas, é de suma importância para garantir o bom funcionamento da resposta imune inata, tendo em vista que ela garante condições ideais (temperatura) para que as células imunológicas atuem da melhor forma, e que a região danificada volte a sua condição normal. Portanto, inflamação é uma reação complexa dos tecidos vascularizados em resposta a uma infecção ou dano tecidual. Nesse contexto, as citocinas atuam aumentando a vasodilatação e a permeabilidade vascular (gerando dor, vermelhidão e calor), permitindo uma maior migração e atuação das células da imunidade inata. Em contrapartida, a febre seria a reação sistêmica da inflamação.

 


ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia celular e molecular. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2023. Figura adaptada.
Figura 4 – Etapas da resposta inflamatória aguda desde a entrada do microrganismo até a fagocitose.

   Dessa forma, a imunidade inata representa um sistema de defesa essencial e imediato contra agentes infecciosos, atuando de forma rápida e eficiente por meio de barreiras físicas, células especializadas, proteínas circulantes e sinais químicos. Embora não possua memória imunológica, ela é essencial para conter infecções nas fases iniciais, atuar na vigilância contra células anormais, como as tumorais, e para ativar e direcionar a resposta imune adaptativa.


Referências bibliográficas: 

Abul K. Abbas; Andrew H. Lichtman; Shiv Pillai: Imunologia celular e molecular. 6ª, 7ª, 8ª, 9ª ou 10ª edição. Saunders Editora.

Charles A. Janeway; Paul Travers; Walport Mark; Mark J. Shlomchik: Imunobiologia: o sistema imune na saúde e na doença. 6ª edição. Artmed Editora.

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