sábado, 26 de outubro de 2019

O efeito do estresse sobre o sistema imune e o surgimento do câncer



Autor: Victor Luigi Costa Silva
Editor(a): Caroline Martins Mota (PosDoc PPIPA)


Figura1: Rede bidirecional de comunicação entre  SNC,
Sistema nervoso periférico, endocrino e sistema imune
(REICHE et. al. 2004)
Sabe-se que o estresse pode afetar  negativamente cada aspecto do corpo humano,  prejudicando os processos naturais de reparo de danos teciduais, podendo agravar quadros clínicos. Isso acontece, pois ocorre a super ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal no quadro de estresse crônico e na depressão, agravando ou contribuindo para o surgimento de fisiopatologias e danos celulares que levam ao câncer. Isso ocorre devido a comunicação do sistema neuroendócrino com o sistema imune por meio principalmente de mediadores químicos, hormônios e neurotransmissores (Figura 1).

Estudos tem demonstrado que neurotransmissores e hormônios como adrenalina, acetilcolina, hormônio do crescimento (GH), entre outros não fazem efeito somente nos músculos e tecidos, mas também em células de defesa como linfócitos e macrófagos. E citocinas como Interleucina 1 (IL-1), fator de necrose tumoral (TNF-α), interferon α (IFN-α), e interferon γ (IFN- γ), podem alterar as funções do eixo HPA. Desse modo, o estresse psicológico crônico pode prejudicar o sistema imune por causar uma regulação negativa ao sistema imune celular, por meio de mediadores químicos que suprimem a resposta celular. Experimentos sugerem que a quantidade de adrenalina no sangue é inversamente proporcional as funções específicas de linfócitos e monócitos (Figura 2)


Em relação ao estresse crônico e o câncer, o  estresse psicológico afeta de maneira diferente cada tipo de câncer. Por exemplo, tipo de câncer ligado a agentes químicos sofre pouca influência emocional e psicológica, enquanto cânceres ligados a resposta do DNA, mediados por vírus, como o Epstein-Barr virus (EBV) que leva a quadros de linfoma das células B, além de casos raros de câncer causado por doenças linfoproliferativa pós transplante, devido o quadro de perfil de resposta imune que o estresse crônico proporciona ao sistema imune, permitindo portanto, que o individuo esteja mais susceptível a desenvolver câncer causado por agentes virais. Desse modo, o estresse crônico proporciona distúrbios nas células do sistema imune, principalmente nas linhagens de macrófagos, monócitos, e leva a diminuição das atividades das células Natural Killer (NK), dificultando a resposta inata ao tumor.

Figura 2: Efeitos sistêmicos dos hormônios do estresse, glicocorticóides e catecolaminas, ambos secretados pela glândula adrenal, e da norepinefrina liberada pelos terminais nervosos simpáticos, no sistema imunológico. Esses mediadores solúveis inibem algumas partes não específicas e específicas da resposta imune celular e estimulam algumas partes específicas da resposta imune humoral. Linhas sólidas são de estimulação e linhas tracejadas são inibição. NK, células naturais; MO, macrófago; Th1, células de linfócitos Thelper tipo 1; Células Th2, linfócitos T-helper tipo 2; TNF, fator de necrose tumoral. (REICHE et al. 2004).


A maioria dos carcinomas relacionados a órgãos estão relacionados a um aumento de TNF-α que inibe a atividade da tirosina fosfatase, uma enzima importante para a expressão do antígeno MHC-I, permitindo assim que células malignas escapem do sistema imune. Vale ressaltar por último que o estresse afeta diretamente o DNA, atrapalhando o processo de reparo do mesmo, levando ao decorrer do tempo um acúmulo de mutações somáticas.  Além disso, a apoptose um mecanismo genético que dirige a célula à morte em um caso de dano irreversível, apresenta falhas. Em pacientes com alto nível de estresse essa morte programada foi muito reduzida, desse modo contribuindo para a perpetuação de células malignas.

Em adição, sabe-se que acontecimentos estressores para as pessoas aumentam a incidência de câncer. Por exemplo, pais que tem seus filhos acidentados ou pessoas que foram expostas a ambientes de guerra tem maiores chances de desenvolverem câncer, por exemplo, cânceres que acometem ao trato respiratório. Esses são alguns exemplos pontuais, em que o estresse crônico relacionado ao cotidiano podem ser fatores ainda mais impactantes para o surgimento de patologias e também de câncer.

Referências:
REICHE E. et al. Stress, depression, the immune system, and cancer.  The Lancet Oncology. 5: 2004.
QIAO G, et al. Adrenergic Signaling: A Targetable Checkpoint Limiting Development of the Antitumor Immune Response. Front. Immunol. 9: 2018


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