Autor: Victor Luigi Costa Silva
Editor(a): Caroline Martins Mota (PosDoc PPIPA)
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Figura1: Rede bidirecional de comunicação entre SNC, Sistema nervoso periférico, endocrino e sistema imune (REICHE et. al. 2004) |
Sabe-se que o estresse pode afetar negativamente cada aspecto
do corpo humano, prejudicando os processos naturais de reparo de danos
teciduais, podendo agravar quadros clínicos. Isso acontece, pois ocorre a super
ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal no quadro de estresse crônico e na
depressão, agravando ou contribuindo para o surgimento de fisiopatologias e
danos celulares que levam ao câncer. Isso ocorre devido a comunicação do sistema
neuroendócrino com o sistema imune por meio principalmente de mediadores
químicos, hormônios e neurotransmissores (Figura 1).
Estudos tem demonstrado que neurotransmissores e hormônios como
adrenalina, acetilcolina, hormônio do crescimento (GH), entre outros não fazem
efeito somente nos músculos e tecidos, mas também em células de defesa como
linfócitos e macrófagos. E citocinas como Interleucina 1 (IL-1), fator de
necrose tumoral (TNF-α), interferon α (IFN-α), e interferon γ (IFN- γ), podem
alterar as funções do eixo HPA. Desse modo, o estresse psicológico crônico pode
prejudicar o sistema imune por causar uma regulação negativa ao sistema imune
celular, por meio de mediadores químicos que suprimem a resposta celular. Experimentos
sugerem que a quantidade de adrenalina no sangue é inversamente proporcional as
funções específicas de linfócitos e monócitos (Figura 2)
Em relação ao estresse crônico e o câncer, o estresse psicológico
afeta de maneira diferente cada tipo de câncer. Por exemplo, tipo de câncer
ligado a agentes químicos sofre pouca influência emocional e psicológica,
enquanto cânceres ligados a resposta do DNA, mediados por vírus, como o Epstein-Barr
virus (EBV) que leva a quadros de linfoma das células B, além de casos raros de
câncer causado por doenças linfoproliferativa pós transplante, devido o quadro
de perfil de resposta imune que o estresse crônico proporciona ao sistema
imune, permitindo portanto, que o individuo esteja mais susceptível a desenvolver
câncer causado por agentes virais. Desse modo, o estresse crônico proporciona
distúrbios nas células do sistema imune, principalmente nas linhagens de
macrófagos, monócitos, e leva a diminuição das atividades das células Natural
Killer (NK), dificultando a resposta inata ao tumor.
Figura 2: Efeitos sistêmicos dos hormônios do estresse, glicocorticóides e catecolaminas, ambos secretados pela glândula adrenal, e da norepinefrina liberada pelos terminais nervosos simpáticos, no sistema imunológico. Esses mediadores solúveis inibem algumas partes não específicas e específicas da resposta imune celular e estimulam algumas partes específicas da resposta imune humoral. Linhas sólidas são de estimulação e linhas tracejadas são inibição. NK, células naturais; MO, macrófago; Th1, células de linfócitos Thelper tipo 1; Células Th2, linfócitos T-helper tipo 2; TNF, fator de necrose tumoral. (REICHE et al. 2004). | ||
A maioria dos carcinomas relacionados a órgãos estão relacionados a
um aumento de TNF-α que inibe a atividade da tirosina fosfatase, uma enzima
importante para a expressão do antígeno MHC-I, permitindo assim que células
malignas escapem do sistema imune. Vale ressaltar por último que o estresse
afeta diretamente o DNA, atrapalhando o processo de reparo do mesmo, levando ao
decorrer do tempo um acúmulo de mutações somáticas. Além disso, a apoptose um mecanismo genético
que dirige a célula à morte em um caso de dano irreversível, apresenta falhas.
Em pacientes com alto nível de estresse essa morte programada foi muito
reduzida, desse modo contribuindo para a perpetuação de células malignas.
Em adição, sabe-se que acontecimentos estressores para as pessoas
aumentam a incidência de câncer. Por exemplo, pais que tem seus filhos
acidentados ou pessoas que foram expostas a ambientes de guerra tem maiores
chances de desenvolverem câncer, por exemplo, cânceres que acometem ao trato
respiratório. Esses são alguns exemplos pontuais, em que o estresse crônico
relacionado ao cotidiano podem ser fatores ainda mais impactantes para o
surgimento de patologias e também de câncer.
Referências:
REICHE E. et
al. Stress, depression, the immune system, and cancer. The Lancet Oncology. 5: 2004.
QIAO G, et al. Adrenergic Signaling: A Targetable Checkpoint Limiting
Development of the Antitumor Immune Response. Front. Immunol. 9: 2018
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