Por: Mariana Laura Dias Silva
Editora: Carolina Salomão Lopes (PosDoc PPIPA)
As peçonhas de cobra são
compostas por uma variedade de componentes polipetídicos e não polipeptídicos
(como aminas, carboidratos, lipídeos, etc.). Os componentes das peçonhas
auxiliam no processo de digestão do alimento das serpentes e, além disso,
possuem papel fundamental na imobilização, paralisação e morte da sua presa.
A composição química e
biológica da peçonha varia entre as espécies, e a concentração de cada composto
presente na peçonha pode variar de acordo com a sazonalidade climática, e
principalmente com a alimentação da serpente.
Dentre os componentes
mais importantes estão proteínas como as metaloproteinases, serina-proteases,
fosfolipases A2, entre outras. Essas proteínas possuem diversos mecanismos de
ação, que causam danos aos tecidos, como a neurotoxicidade, miotoxicidade,
hipotensão sistêmica, aumento de hemorragia, diminuição da hemostasia, efeitos
cardiotóxicos e indução de apoptose.
Inúmeros trabalhos já
demonstraram a importância da resposta imune para controlar os efeitos da
peçonha no organismo, entretanto sabe-se que a peçonha tende a se espalhar
rapidamente pelo organismo, de maneira que a resposta imune não consegue
proteger o indivíduo, sendo necessário a soroterapia para amenizar os efeitos
tóxicos da peçonha. Interessantemente, muitos dos componentes presentes na peçonha
induzem uma intensa resposta inflamatório, e por este motivo estes componentes
têm sido isolados e estudados para que se possa aplicar em outras áreas de
pesquisa. No local da picada tem-se o desenvolvimento de edema e inflamação
resultante de uma intensa resposta imune. Alguns estudos já demonstraram o
aumento de citocinas como IL-6, IL-8 e TNF, o que induz o recrutamento de
células imunes para o local da picada. A resposta imune local parece favorecer
a disseminação da peçonha pelo organismo.
A uso de soro antiofídico é o recomendado quando
uma pessoa é picada por uma serpente. Ele é formado por anticorpos e o seu principal objetivo
é neutralizar os componentes tóxicos que se encontram no sangue e nos tecidos
da pessoa que sofreu a picada. Como cada espécie de serpente possui componentes
distintos nas peçonhas, é necessário a identificação do animal para se escolher
o soro antiofídico. Normalmente pode-se predizer a possível espécie de acordo
com a região em que ocorreu o acidente, mas em alguns casos em que se tem
muitas espécies peçonhentas e não é possível identificar a espécie, é
necessário então utilizar kits para identificar componentes da peçonha. Essa
estratégia tem sido desenvolvida em países como a Austrália.
Os soros antiofídicos
são produzidos a partir do veneno retirado da serpente, cada peçonha é
inoculada em animais para que ocorra a hiperimunização. O processo de
fabricação de soro antiofídico exige conhecimento da peçonha injetada, e também
sobre o animal que irá produzir os anticorpos. Cada peçonha deve ser
administrada em concentrações controlas para que se obtenha a melhor resposta
imunológica do animal sem prejudicá-lo. A maioria dos soros são
produzidos em cavalos, onde o anticorpo responsável pela maior parte da
atividade neutralizadora (antipeçonha) pertence à família das imunoglobulinas
IgG. Porém, existem alguns fabricantes que produzem o soro antiofídico em
ovinos. Algumas fontes sugerem que a IgG equina tem maior imunogenicidade do
que a IgG ovina, e por conseqüência, tem uma maior probabilidade em causar
reações adversas, como a doença do soro. Uma alternativa ao uso de equinos e de
ovinos na produção do soro antiofídico é a utilização de camelídeos; que são
usados principalmente em regiões onde estão mais adaptados; como o norte da África,
Oriente Médio e planaltos na América do Sul.
Algumas pesquisas ainda
estudam o uso de galinhas como produtoras de anticorpos antiofídico, sendo o
anticorpo IgY o principal neutralizador da peçonha. Esse anticorpo pode ser
purificado a partir das gemas de ovos, entretanto embora a produção e obtenção desses
anticorpos pareça vantajosa, a sua utilização causa reações adversas no indivíduo.
Atualmente a melhor
alternativa disponível para o tratamento de acidentes ofídicos é a soroterapia,
mas muitos grupos de pesquisas têm avaliado a resposta imune contra peçonha,
uma vez que esta resposta envolve um repertorio complexo de células e moléculas
do sistema imune adaptativo e inato (Figura 1). Compreender como ocorre a
resposta após a picada de serpente é extremamente importante para que se possa
desenvolver alternativas mais eficazes de tratamento.
Retirado de JIMENEZ, Rocio et al. Immune drug
discovery from venoms. Toxicon, v. 141, p. 18-24, 2018.
Bibliografia consultada
FURTADO, Maria de Fátima Domingues. Aspectos sistemáticos e biológicos que
atuam na diversidade da composição de venenos em serpentes peçonhentas brasileiras.
Herpetologia no
Brasil II, 2007.
LEÓN, Guillermo et al. Immune response towards snake
venoms. Inflammation & Allergy-Drug Targets (Formerly Current Drug
Targets-Inflammation & Allergy), v. 10, n. 5, p. 381-398, 2011.
JIMENEZ, Rocio et al.
Immune drug discovery from venoms. Toxicon, v. 141, p. 18-24, 2018.
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