quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Imunologia de animais não convencionais

Autor: Julio Cesar Neves de Almeida
Revisor(a): Lucas Vasconcelos Soares Costa (Mestrando PPIPA)

O mercado de animais silvestres e exóticos vem ascendendo grandemente nos últimos anos. Quem não gostaria de ter uma linda cacatua em casa não é mesmo? Porém, junto com as novidades vem grandes responsabilidades! Essa aproximação leva à necessidade de estudos referentes à fisiologia e patologias dos animais silvestres e exóticos, a fim de conhecermos possíveis zoonoses (doenças transmitidas dos outros animais para o ser humano), prevenir possíveis surtos nos proprietários e em animais domésticos e promover o melhor bem-estar ao animal.

Os répteis e as aves possuem uma anatomia e uma fisiologia bastante peculiar, o que influencia diretamente em sua imunologia. Assim como os mamíferos, ambos possuem órgãos linfóides primários como medula óssea e timo, além de baço e nódulos linfóides distribuídos pelo sistema, sendo descritos como orgãos linfóides secundários. Entretanto, não possuem linfonodos (exceto patos que, apesar de os possuírem, são menos diferenciados em comparação aos de mamíferos). Ainda, as aves possuem a bursa de fabricius, um divertículo próximo à cloaca, que é responsável pela formação de linfócitos B, importantes para a produção de anticorpos.

Nas aves, por serem mais estudadas, já foram descritos os tecidos linfóides oculonasais (glândula de Harder e agregados linfóides das pálpebras inferiores), gastrointestinais (tonsilas esofágica, pilórica e cecais, presença de placas de Peyer e divertículo de Meckel) e também os tecidos linfóides distribuídos pelo organismo associados às mucosas (MALT), tais como o CALT (associado à conjuntiva), o BALT (associado aos brônquios) e o GALT (associado ao intestino, este também descrito em répteis). Estas são áreas com agregados densos de linfócitos empacotados. Em répteis, estes tecidos têm sido observados em regiões do intestino e em pontos estratégicos como a bexiga e o complexo cloacal.

Existem também outros componentes importantes do sistema imunológico: as células sanguíneas leucocitárias, que são células de defesa presentes circulantes no sangue. O animal, em contato com algum patógeno, desencadeia uma série de respostas onde essas células são direcionadas para a defesa local. Nas aves, já são descritos entre os componentes celulares: as células leucocitárias (heterófilos, macrófagos, monócitos, linfócito T e linfócitos B), células fagocíticas (polimorfonucleares e mononucleares), células indutoras de respostas inflamatórias (mastócitos, basófilos, eosinófilos, células NK, células Th17 e células Tγδ), células apresentadoras de antígenos (macrófagos e células dendríticas) e as células imunocompetentes do sistema imune adaptativo (células B, plasmócitos, células T-auxiliares, células Tcitotóxicas, células T supressoras). Enquanto em répteis, a nomenclatura e a diferenciação das células do sangue permanecem em revisão. São descritos apenas os heterófilos, basófilos, eosinófilos, linfócitos, monócitos, azurófilos e trombócitos (este último, além de possuir núcleo, é classificado como leucócito, por ser citado por autores pela capacidade fagocítica), sendo grandemente importantes na manutenção da homeostasia do organismo e seu microambiente e no controle e manutenção de doenças do animal.

A maior parte das doenças infecciosas emergentes são zoonoses, por meio de vetores ou não. A inserção de animais não convencionais no mercado pet gera grandes preocupações. Devido suas individualidades comportamentais e fisiológicas, os cuidados com esses animais, desde o manejo, devem ser redobrados e, se possível, ser sempre acompanhado por um médico veterinário especialista. O estresse produzido através do transporte, além de erros alimentares, de manutenção do ambiente e no manejo incorreto, pode provocar queda na imunidade desses animais. Isso pode provocar consequências não apenas no animal, mas também nos tutores, tratadores e outros animais de convívio comum. Os répteis, por exemplo, possuem Salmonella spp. em seu microbioma intestinal. Fatores imunodepressores podem causar um desequilíbrio e levar ao aumento da excreção desta bactéria pelas fezes; aumentando então, o risco do contágio humano e de outros animais.

Em suma, o aumento na demanda desses animais no mercado pet evidencia uma série de fatores que precisam ser pesquisados e descritos. Ainda há poucos estudos fundamentando a particularidade de cada um desses animais, e a proximidade dos mesmos com o ser humano deve chamar a atenção de todos os profissionais que trabalhem com a saúde única (One Health).

Observação: É importante salientar que a aquisição de animais silvestres deve ser realizada de maneira legal! Tráfico de animais é uma realidade presente em nosso país e possui um impacto significativo no desaparecimento de algumas espécies de animais. É a atividade que mais movimenta dinheiro ilegalmente, perdendo apenas para tráfico de drogas e de armas. Considerado crime ambiental conforme a legislação em vigor, deve ser imediatamente denunciado!

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Para denúncias:
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Referências
·         IBAMA
·         CHOMEL, B. B., et al. Wild life, Exotic Pets, and Emerging Zoonoses. Emerging Infectious Diseases, vol. 13, n. 1, p. 6-11. 2007.
·         SANT’ANA, T. M., et al. Salmonelose em animais silvestres e exóticos. Revista científica eletrônica de medicina veterinária, p. 1-7, 2008.
·         ALTRAK, Georg et al. Nutrição e manejo de animais silvestres e exóticos em zoológico. TCC (graduação)- Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias, Curso de Agronomia. 2012.
·         Jaffredo, T., et al. Immunology of birds and reptiles. eLS. 2006.
·         TROIANO, J. C. Doenças dos Répteis. 1ed. São Paulo: MedVet, 2018.
·         TIZARD, I.R. Imunologia Veterinária. 3 ed. São Paulo, Roca, 1998.

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