Autor: Julio Cesar Neves de Almeida
Revisor(a): Lucas Vasconcelos Soares
Costa (Mestrando PPIPA)
O
mercado de animais silvestres e exóticos vem ascendendo grandemente nos últimos
anos. Quem não gostaria de ter uma linda cacatua em casa não é mesmo? Porém, junto com as novidades vem grandes
responsabilidades! Essa aproximação leva à necessidade de estudos referentes à
fisiologia e patologias dos animais silvestres e exóticos, a fim de conhecermos
possíveis zoonoses (doenças transmitidas dos outros animais para o ser humano),
prevenir possíveis surtos nos proprietários e em animais domésticos e promover
o melhor bem-estar ao animal.
Os
répteis e as aves possuem uma anatomia e uma fisiologia bastante peculiar, o
que influencia diretamente em sua imunologia. Assim como os mamíferos, ambos possuem
órgãos linfóides primários como medula óssea e timo, além de baço e nódulos
linfóides distribuídos pelo sistema, sendo descritos como orgãos linfóides
secundários. Entretanto, não possuem linfonodos (exceto patos que, apesar de os
possuírem, são menos diferenciados em comparação aos de mamíferos). Ainda, as
aves possuem a bursa de fabricius, um divertículo próximo à cloaca, que é
responsável pela formação de linfócitos B, importantes para a produção de
anticorpos.
Nas
aves, por serem mais estudadas, já foram descritos os tecidos linfóides oculonasais
(glândula de Harder e agregados linfóides das pálpebras inferiores),
gastrointestinais (tonsilas esofágica, pilórica e cecais, presença de placas de
Peyer e divertículo de Meckel) e também os tecidos linfóides distribuídos pelo
organismo associados às mucosas (MALT), tais como o CALT (associado à
conjuntiva), o BALT (associado aos brônquios) e o GALT (associado ao intestino,
este também descrito em répteis). Estas são áreas com agregados densos de
linfócitos empacotados. Em répteis, estes tecidos têm sido observados em
regiões do intestino e em pontos estratégicos como a bexiga e o complexo
cloacal.
Existem
também outros componentes importantes do sistema imunológico: as células
sanguíneas leucocitárias, que são células de defesa presentes circulantes no
sangue. O animal, em contato com algum patógeno, desencadeia uma série de
respostas onde essas células são direcionadas para a defesa local. Nas aves, já
são descritos entre os componentes celulares: as células leucocitárias (heterófilos,
macrófagos, monócitos, linfócito T e linfócitos B), células fagocíticas
(polimorfonucleares e mononucleares), células indutoras de respostas
inflamatórias (mastócitos, basófilos, eosinófilos, células NK, células Th17 e
células Tγδ), células apresentadoras de antígenos (macrófagos e células
dendríticas) e as células imunocompetentes do sistema imune adaptativo (células
B, plasmócitos, células T-auxiliares, células Tcitotóxicas, células T
supressoras). Enquanto em répteis, a nomenclatura e a diferenciação das células
do sangue permanecem em revisão. São descritos apenas os heterófilos,
basófilos, eosinófilos, linfócitos, monócitos, azurófilos e trombócitos (este
último, além de possuir núcleo, é classificado como leucócito, por ser citado
por autores pela capacidade fagocítica), sendo grandemente importantes na
manutenção da homeostasia do organismo e seu microambiente e no controle e
manutenção de doenças do animal.
A
maior parte das doenças infecciosas emergentes são zoonoses, por meio de
vetores ou não. A inserção de animais não convencionais no mercado pet gera
grandes preocupações. Devido suas individualidades comportamentais e
fisiológicas, os cuidados com esses animais, desde o manejo, devem ser redobrados
e, se possível, ser sempre acompanhado por um médico veterinário especialista.
O estresse produzido através do transporte, além de erros alimentares, de
manutenção do ambiente e no manejo incorreto, pode provocar queda na imunidade
desses animais. Isso pode provocar consequências não apenas no animal, mas também
nos tutores, tratadores e outros animais de convívio comum. Os répteis, por
exemplo, possuem Salmonella spp. em
seu microbioma intestinal. Fatores imunodepressores podem causar um
desequilíbrio e levar ao aumento da excreção desta bactéria pelas fezes;
aumentando então, o risco do contágio humano e de outros animais.
Em
suma, o aumento na demanda desses animais no mercado pet evidencia uma série de
fatores que precisam ser pesquisados e descritos. Ainda há poucos estudos
fundamentando a particularidade de cada um desses animais, e a proximidade dos
mesmos com o ser humano deve chamar a atenção de todos os profissionais que
trabalhem com a saúde única (One Health).
Observação:
É importante salientar que a aquisição de animais silvestres deve ser realizada
de maneira legal! Tráfico de animais é uma realidade presente em nosso país e
possui um impacto significativo no desaparecimento de algumas espécies de
animais. É a atividade que mais movimenta dinheiro ilegalmente, perdendo apenas
para tráfico de drogas e de armas. Considerado crime ambiental conforme a
legislação em vigor, deve ser imediatamente denunciado!
#AnimaisSilvestres
#PetsNãoConvencionais #Imunologia #SaúdeÚnica #OneHealth
Para
denúncias:
o
0800-61-8080
Referências
·
IBAMA
·
CHOMEL, B. B., et al. Wild life, Exotic Pets, and
Emerging Zoonoses. Emerging Infectious
Diseases, vol. 13, n. 1, p. 6-11. 2007.
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SANT’ANA, T. M.,
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ALTRAK,
Georg et al. Nutrição e manejo de animais silvestres e exóticos em zoológico.
TCC (graduação)- Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências
Agrárias, Curso de Agronomia. 2012.
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Jaffredo, T., et al. Immunology of
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TROIANO,
J. C. Doenças dos Répteis. 1ed. São
Paulo: MedVet, 2018.
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TIZARD, I.R. Imunologia Veterinária. 3 ed. São
Paulo, Roca, 1998.
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