Por: Heber Leão Silva Barros
(Doutorando/PPIPA)
Caros leitores, vocês
que acompanham o blog da LUI, devem se lembrar do post “Câncer e o Sistema
Imunológico – Uma abordagem sobre Imunoterapias” (https://luiufu.blogspot.com/2017/11/cancer-e-o-sistema-imunologico-uma.html),
publicado em 2017. Naquele texto, os autores dissertaram um pouco sobre o que é
o câncer, como ele modifica o microambiente para favorecer seu desenvolvimento
e algumas formas de tratamento contra o mesmo. No presente texto, vamos nos
aprofundar no estudo de ferramentas que estão sendo desenvolvidas/testadas para
aprimorar a detecção e combate a diversos tipos de cânceres.
A
primeira novidade que trago para vocês é a identificação de um marcador
genético para a agressividade de um tipo específico de linfoma de célula T,
chamado de micose fungoide (mycosis
fungoides). Esse marcador foi descoberto por um grupo de pesquisadores de
Harvard e publicado na Science
Translational Medicine. Neste estudo, os autores coletaram amostras de
centenas de pacientes diagnosticados com esse linfoma de células T e buscaram
por marcadores genéticos expressos somente, ou diferencialmente, nas células T
cancerígenas. O achado mais significativo foi referente ao gene TCRB, responsável pela transcrição do
receptor T (dos linfócitos T). Foi demonstrado que indivíduos diagnosticados
precocemente podem ser prognosticados ao analisar a frequência das células com TCRB “defeituoso” contra aquelas com TCRB normal, sendo que o prognóstico
piorou significativamente quando a relação “TCRB
defeituoso X TCRB normal” fosse
superior a 25%.
A segunda e terceira
novidades são referentes a imunoterapia contra o câncer. Nesse ano, a empresa
MERCK apresentou os resultados de dois estudos de triagem, em humanos, com o
KEYTRUDA® (pembrolizumab) durante o encontro anual da Sociedade de Oncologia
Clínica Americana. Nesses estudos, foi verificado que, utilizando esta droga, que
é um anticorpo contra a proteína de morte celular programada 1 (programmed death [PD]-1), houve um
aumento médio de 4 meses de sobrevida em pacientes com melanoma avançado, quando
comparados à média observada no tratamento convencional (quimioterapia). Em
outro estudo, utilizando uma abordagem completamente distinta e realizado em
camundongos, foi possível verificar que células natural killer (células NK) que foram geneticamente modificadas
para serem capazes de reconhecer melhor células cancerígenas também são opções
viáveis para o combate contra, por exemplo, o câncer ovariano (em modelos murinos).
Essa estratégia ainda precisa passar por diversas comprovações em diferentes
modelos antes de chegar à fase de teste em humanos. Vale a pena lembrar que o
uso de células NK geneticamente modificadas é um procedimento que lembra muito
o uso de células T geneticamente modificadas, sendo que o último já possui
alguns representantes em fase de teste em humanos.
O que os três artigos que analisamos,
muuuuuuito superficialmente, tem a nos dizer? Resumidamente, nosso conhecimento
das alterações genéticas/celulares que resultam em câncer, bem como as melhores
formas de trata-lo, ainda se encontram numa fase muito inicial e que existe espaço
para aprimorar tratamentos antigos e desenvolver outros novos. Então, caro
leitor, se você possui o interesse e o desejo de trabalhar nessa área (ou já
trabalha nela), é essencial que se mantenha informado e possua a ousadia de
olhar criticamente para os diagnósticos/tratamentos já estabelecidos, pois uma
pequena alteração, como a escolha da proteína alvo ou da célula a ser
modificada, pode causar resultados muito diversos.
Referências:
MASSON, et. al. High-throughput
sequencing of the T cell receptor β gene identifies aggressive early-stage
mycosis fungoides. Science Translational
Medicine. http://stm.sciencemag.org/content/10/440/eaar5894.full
MERCK. http://www.mrknewsroom.com/news-release/asco/mercks-keytruda-pembrolizumab-demonstrated-long-term-survival-benefit-based-four-a.
Acesso: 10/07/2018.
Y. Li et al., Human iPSC-derived natural
killer cells engineered with chimeric antigen receptors enhance anti-tumor
activity. Cell Stem Cell. https://www.cell.com/cell-stem-cell/abstract/S1934-5909(18)30284-4.
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