terça-feira, 10 de julho de 2018

Câncer e o Sistema Imunológico – Atualizações


Por: Heber Leão Silva Barros (Doutorando/PPIPA)

Caros leitores, vocês que acompanham o blog da LUI, devem se lembrar do post “Câncer e o Sistema Imunológico – Uma abordagem sobre Imunoterapias” (https://luiufu.blogspot.com/2017/11/cancer-e-o-sistema-imunologico-uma.html), publicado em 2017. Naquele texto, os autores dissertaram um pouco sobre o que é o câncer, como ele modifica o microambiente para favorecer seu desenvolvimento e algumas formas de tratamento contra o mesmo. No presente texto, vamos nos aprofundar no estudo de ferramentas que estão sendo desenvolvidas/testadas para aprimorar a detecção e combate a diversos tipos de cânceres.
            A primeira novidade que trago para vocês é a identificação de um marcador genético para a agressividade de um tipo específico de linfoma de célula T, chamado de micose fungoide (mycosis fungoides). Esse marcador foi descoberto por um grupo de pesquisadores de Harvard e publicado na Science Translational Medicine. Neste estudo, os autores coletaram amostras de centenas de pacientes diagnosticados com esse linfoma de células T e buscaram por marcadores genéticos expressos somente, ou diferencialmente, nas células T cancerígenas. O achado mais significativo foi referente ao gene TCRB, responsável pela transcrição do receptor T (dos linfócitos T). Foi demonstrado que indivíduos diagnosticados precocemente podem ser prognosticados ao analisar a frequência das células com TCRB “defeituoso” contra aquelas com TCRB normal, sendo que o prognóstico piorou significativamente quando a relação “TCRB defeituoso X TCRB normal” fosse superior a 25%.
A segunda e terceira novidades são referentes a imunoterapia contra o câncer. Nesse ano, a empresa MERCK apresentou os resultados de dois estudos de triagem, em humanos, com o KEYTRUDA® (pembrolizumab) durante o encontro anual da Sociedade de Oncologia Clínica Americana. Nesses estudos, foi verificado que, utilizando esta droga, que é um anticorpo contra a proteína de morte celular programada 1 (programmed death [PD]-1), houve um aumento médio de 4 meses de sobrevida em pacientes com melanoma avançado, quando comparados à média observada no tratamento convencional (quimioterapia). Em outro estudo, utilizando uma abordagem completamente distinta e realizado em camundongos, foi possível verificar que células natural killer (células NK) que foram geneticamente modificadas para serem capazes de reconhecer melhor células cancerígenas também são opções viáveis para o combate contra, por exemplo, o câncer ovariano (em modelos murinos). Essa estratégia ainda precisa passar por diversas comprovações em diferentes modelos antes de chegar à fase de teste em humanos. Vale a pena lembrar que o uso de células NK geneticamente modificadas é um procedimento que lembra muito o uso de células T geneticamente modificadas, sendo que o último já possui alguns representantes em fase de teste em humanos.
O que os três artigos que analisamos, muuuuuuito superficialmente, tem a nos dizer? Resumidamente, nosso conhecimento das alterações genéticas/celulares que resultam em câncer, bem como as melhores formas de trata-lo, ainda se encontram numa fase muito inicial e que existe espaço para aprimorar tratamentos antigos e desenvolver outros novos. Então, caro leitor, se você possui o interesse e o desejo de trabalhar nessa área (ou já trabalha nela), é essencial que se mantenha informado e possua a ousadia de olhar criticamente para os diagnósticos/tratamentos já estabelecidos, pois uma pequena alteração, como a escolha da proteína alvo ou da célula a ser modificada, pode causar resultados muito diversos.
Referências:
MASSON, et. al. High-throughput sequencing of the T cell receptor β gene identifies aggressive early-stage mycosis fungoides. Science Translational Medicine. http://stm.sciencemag.org/content/10/440/eaar5894.full
Y. Li et al., Human iPSC-derived natural killer cells engineered with chimeric antigen receptors enhance anti-tumor activity. Cell Stem Cell. https://www.cell.com/cell-stem-cell/abstract/S1934-5909(18)30284-4.

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