segunda-feira, 11 de junho de 2018

Zika vírus: de vilão a herói


Por: Carolina Salomão Lopes (PostDoc UFU/PPIPA)

Acredita-se que o Zika vírus é originário do continente africano, e que tenha chegado no Brasil entre 2013-2014. O vírus é transmitido pela picada do mosquito Aedes sp., entretanto outras formas de transmissão do vírus foram descritas como: via sexual, por transfusão sanguínea, via transplacentária, através do leite materno e pela saliva. O Zika pode causar sintomas como: febre baixa – entre 37,8º e 38,5º, artralgia, mialgia, cefaleia, exantemas com prurido (na face, tronco e membros).
Em 2015-2016 a região nordeste do Brasil registrou muitos casos de Zika sendo considerado uma grande epidemia que causou microcefalia em recém-nascidos, e também foi associada ao desenvolvimento da síndrome de Guillain-Barré. A associação do Zika vírus com aos casos de microcefalia foi uma super descoberta realizada pelo grupo coordenado por Celina Turchi, do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), e permitiu aos pesquisadores e médicos entenderem a origem do aumento do número de casos de microcefalia em recém-nascidos e aplicar tratamentos mais adequados a estes casos. Embora essa epidemia tenha causado profundo impacto na sociedade devido a quantidade de recém-nascidos afetados, ela também permitiu avanços na pesquisa.
Historicamente os vírus são vistos como vilões pois estão relacionados com surtos e epidemias, sendo responsáveis por diversas doenças que acometem os homens, por exemplo, Dengue, Zika, Rinovírus, HIV e H1N1. Entretanto estudos já demonstraram que alguns vírus são benéficos como os bacteriófagos do sistema digestório que vivem em estado latente dentro das bactérias, e podem entrar em uma fase ativa, quando ocorre uma disbiose, e mais recentemente pesquisadores da UNICAMP e USP demonstraram que o Zika vírus antes considerado vilão pode ser herói e ser utilizado para o tratamento de neuroblastoma humana.

Kaid, C. et al. (2018). Zika virus selectively kills aggressive human embryonal CNS tumor cells in vitro and in vivo. Cancer research.

Os estudos demonstraram que tanto em cultivo celular quanto em modelo murino após injetar pequenas quantidades do vírus em cultura ou no encéfalo de camundongos com estágio avançado de neuroblastoma, observou-se uma redução significativa da massa tumoral. Os resultados até agora obtidos sugerem para perspectivas futuras que outros tipos de tumores agressivos do sistema nervoso central poderiam ser tratados com a mesma abordagem envolvendo o Zika.


Kaid, C. et al. (2018). Zika virus selectively kills aggressive human embryonal CNS tumor cells in vitro and in vivo. Cancer research.
Lima, E. O. et al. (2017) MALDI imaging detects endogenous digoxin in glioblastoma cells infected by Zika virus—Would it be the oncolytic key? Journal of mass spectrometry.
Manrique, P. et al. (2017). The Human Gut Phage Community and Its Implications for Health and Disease. Viruses.
Newman, C. M. et al. (2017). Oropharyngeal mucosal transmission of Zika virus in rhesus macaques. Nature communications.
Oliveira, W. A. (2017). Revista de Medicina e Saúde de Brasília. Zika Vírus: histórico, epidemiologia e possibilidades no Brasil.

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