sábado, 7 de abril de 2018

É uma ou mais doses? O contraditório processo de vacina contra a febre amarela e o agravante estado epidemiológico atual


Por: Eliézer Lucas Pires Ramos (Doutorando PPIPA/UFU)

Por muitos anos era comum saber que a cada 10 anos as pessoas deveriam se vacinar contra a febre amarela, isso se devia ao fato de que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendava tal imunização em populações de áreas endêmicas e viajantes durante este período de tempo (WHO, 1985; 2008; Monath, 2001). Todavia, recentes estudos demonstraram que a vacina é capaz de causar a produção de anticorpos neutralizantes circulantes por um período de tempo mais que o previamente considerado. Tais estudos constataram que 25% dos anticorpos neutralizantes permaneciam nos indivíduos imunizados por mais de 10 anos (Nascimento Silva et al., 2011).

A febre amarela é uma doença viral consideravelmente prevalente em países tropicais como a Africa sub-saariana e América do Sul, principalmente o Brasil. A doença depende de um vetor culicídeo como por exemplo Aedes aegypti na África e Haemagogus janthinomys na América do Sul (Monath & Vasconcelos, 2015Vasconcelos & Monath, 2016) . Sendo uma doença de alta severidade e mortal, o seu controle é um desafio de longa data para a saúde pública, principalmente em centros urbanos (Monath & Vasconcelos, 2015). Conhecida como 17D, a vacina que era empregada periodicamente no indivíduo foi desenvolvida na década de 1930 (Theiler & Smith, 1937) e desde então reduziu significantemente a prevalência da doença no mundo, contribuindo para erradicação em diversos países do globo. Contudo, desde 2013 a OMS tem recomendado a aplicação de dose único devidos as conclusões dos estudos previamente citados (WHO, 2013).



Contrariando tais estudos, pesquisas realizadas no Brasil constataram que os níveis de anticorpos neutralizantes diminuem dramaticamente em adultos e crianças até após 8 anos da imunização primária (Caldas et al., 2014Campi-Azevedo, et al., 2016). Além disso, entre 1980 e 2017 houveram 29 casos de febre amarela severa em pessoas vacinadas (PAHO, 2016 ). Todas essas informações geram questões acerca da efetividade de uma dose simples durante o processo de imunização. Tal conclusão se reforça com o último surto epidêmico que está ocorrendo no Brasil.



Segundo dados do Ministério da Saúde, de junho de 2017 a março de 2018 ocorreram 328 mortes causadas pela doença, sendo que no mesmo período entre 2016 e 2017 o número foi quase a metade. Além disso, o número de confirmações foi mais de 60% maior e Minas Gerais foi o estado onde apresentou maior epidemia (148 mortes). Somente em 2018, os casos aumentaram de 381 em janeiro para 4558 no final de março.

Dado estas informações, é de extrema importância que os serviços de saúde pública chequem se essa epidemia está associada às novas normas de vacinação da OMS para que efetivas medidas de controle e erradicação da febre amarela sejam providenciadas.

REFERências
  • Caldas IR, Camacho LA, Freire MS, Torres CR, Martins RM, Homma A, et al. Duration of post-vaccination immunity against yellow fever in adults. Vaccine (Guildford). 2014; 32: 4977-84.
  • Campi-Azevedo AC, Teixeira-Carvalho A, Antonelli LR, Fonseca CT, Villela-Rezende G, Santos RA, et al. Booster dose after 10 years is recommended following 17DD-YF primary vaccination. Hum Vaccin Immunother. 2016; 12(6): 491-502.
  • Monath TP, Vasconcelos PFC. Yellow fever. J ClinVirol. 2015; 64: 160-73.
  • Monath TP. Yellow fever: an update. Lancet Infect Dis. 2001; 1(1): 11-20.
  • Nascimento Silva JRN, Camacho LA, Siqueira MM, Freire MS, Castro YP, Maia ML, et al. Mutual interference on the immune response to yellow fever vaccine and a combined vaccine against measles, mumps and rubella. Vaccine. 2011; 29(37): 6327-34.
  • PAHO - Pan American Health Organization. Yellow fever: number of confirmed cases and deaths by country in the Americas, 1960-2015. 2016. [Accessed on 2017 July 25]. Health emergency information & risk assesment unit (HIM), PAHO Health Emergencies Department (PHE). Available from: http://ais.paho.org/phip/viz/ed_yellowfever.asp.
  • Theiler M, Smith HH. Use of yellow fever virus modified by in vitro cultivation for human immunization. J Exp Med. 1937; 65: 787-800.
  • Vasconcelos PFC, Monath TP. Yellow fever remains a potential threat to public health. Vector Borne Zoonotic Dis. 2016; 16(8): 566-7.
  • Vasconcelos PFC. Yellow fever in Brazil: Thoughts and hypotheses on the emergence in previously free areas. Rev Saude Publica. 2010; 44: 1144-9.
  • Vasconcelos PFC. Single shot of 17D vaccine may not confer life-long protection against yellow fever. Mem Ins Oswaldo Cruz. 2018; 113(2).
  • WHO - World Health Organization. Background paper on yellow fever vaccine. SAGE Working Group. Geneva: World Health Organization; 2013. 43 pp.
  • WHO - World Health Organization. Prevention and control of yellow fever in Africa. Geneva: World Health Organization; 1985.
  • WHO - World Health Organization. Update on progress controlling yellow fever in Africa, 2004-2008. Wkly Epidemiol Rec. 2008; 83(50): 450-8.


Nenhum comentário:

Postar um comentário