Por: Carolina Salomão
Lopes (Pós-Doc/PPIPA)
Aprendemos desde cedo as diferenças morfológicas, fisiológicas e sociais
entre os gêneros feminino e masculino e mais recentemente estudos tem
demonstrado que a prevalência de algumas doenças difere de acordo com o gênero, principalmente, devido às diferenças hormonais entre os sexos.
Mas
será que o gênero é importante para o sistema imune?
O sistema imune é um sistema importante na manutenção da homeostasia do
organismo, pois é ele que reconhece e elimina as células defeituosas e os
agentes infecciosos. Diferentes estudos já demonstraram que o sistema
imunológico de homens e mulheres respondem de forma diferente às infecções, e
como já sabemos a resposta imune depende de múltiplos fatores endógenos e
exógenos, e agora podemos acrescentar mais um fator endógeno que é o gênero (Marriott et al, 2006). Uma das principais diferenças já observada é a rapidez e o vigor da
resposta imune do sexo feminino comparada ao masculino. Acredita-se que essa
rapidez e vigor estejam relacionadas com a necessidade do sexo feminino em eliminar qualquer patógeno rapidamente para assim evitar a disseminação desses agentes e proteger os fetos e recém-nascidos. Entretanto, o que parece ser uma vantagem evolutiva
tem suas consequências, e isso é a explicação do porquê as mulheres são
estatisticamente mais susceptíveis a desenvolver doenças autoimune. Markle and Fish (2004) publicaram uma
revisão na Trends in Immunology relacionando a influência dos genes, hormônios,
e fatores ambientais na resposta imune do indivíduo (Figura 1).
Figura 1
A
habilidade do sexo feminino em responder melhor e mais rapidamente é devido a
ação hormonal, especialmente do estrógeno. Os hormônios esteroides ligam-se a
receptores específicos presentes em células imunes, como linfócitos, monócitos
e macrófagos e modulam de maneira diferente a resposta. Em linhas gerais, o
estrogêno aumenta a resposta imune, enquanto a ação da progesterona e dos
andrógenos reduz. Como exemplo, o estradiol ativa a via da Proteína-quinases ativadas por mitógenos (MAPK) o que resulta na ativação da via de sinalização do
Fator Nuclear kappa B (NFkB). Ambas as vias, MAPK e NFkB, estão envolvidas na
expressão aumentada de genes relacionados a resposta imune e genes que
codificam enzimas antioxidantes (Caruso et al, 2013).
Em março desse ano foi publicado na CellPress Reviews, o impacto do sexo em alotransplante
(transplante de órgãos ou de tecidos entre indivíduos da mesma espécie). Neste
artigo os autores discutem a influência dos hormônios sexuais na resposta
imune, focando na resposta a transplantes. E um dos aspectos abordados foi a
diferença da resposta imune das mulheres em 3 fases distintas: durante a
gravidez, na pré e pós menopausa. Na figura 2 podemos observar que durante a
gravidez e no período que eles denominam de pós menopausa existe uma chance
menor de rejeição de transplante devido as alterações hormonais.
Figura 2
Atualmente
poucos estudos laboratoriais com animais e até mesmo estudos clínicos levam em
consideração o sexo dos participantes, e em muitos casos existe a preferência
do sexo masculino pois o risco de gravidez durante os estudos pode ser um viés
nos resultados obtidos. A importância do sexo durante a resposta imune é
indiscutível, e a pergunta que fica é como devemos lidar com essas diferenças?
Devemos utilizar grupos mesclados de machos e fêmeas nos experimentos? Ou
devemos negligenciar essas diferenças?
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