segunda-feira, 26 de março de 2018

A influência do seXXo no sistema imune


Por: Carolina Salomão Lopes (Pós-Doc/PPIPA) 



Aprendemos desde cedo as diferenças morfológicas, fisiológicas e sociais entre os gêneros feminino e masculino e mais recentemente estudos tem demonstrado que a prevalência de algumas doenças difere de acordo com o gênero,  principalmente,  devido às diferenças hormonais entre os sexos.
Mas será que o gênero é importante para o sistema imune?
O sistema imune é um sistema importante na manutenção da homeostasia do organismo, pois é ele que reconhece e elimina as células defeituosas e os agentes infecciosos. Diferentes estudos já demonstraram que o sistema imunológico de homens e mulheres respondem de forma diferente às infecções, e como já sabemos a resposta imune depende de múltiplos fatores endógenos e exógenos, e agora podemos acrescentar mais um fator endógeno que é o gênero (Marriott et al, 2006). Uma das principais diferenças já observada é a rapidez e o vigor da resposta imune do sexo feminino comparada ao masculino. Acredita-se que essa rapidez e vigor estejam relacionadas com a necessidade do sexo feminino em eliminar qualquer patógeno rapidamente para assim evitar a disseminação desses agentes e proteger os fetos e recém-nascidos. Entretanto, o que parece ser uma vantagem evolutiva tem suas consequências, e isso é a explicação do porquê as mulheres são estatisticamente mais susceptíveis a desenvolver doenças autoimune. Markle and Fish (2004) publicaram uma revisão na Trends in Immunology relacionando a influência dos genes, hormônios, e fatores ambientais na resposta imune do indivíduo (Figura 1).

 Figura 1

A habilidade do sexo feminino em responder melhor e mais rapidamente é devido a ação hormonal, especialmente do estrógeno. Os hormônios esteroides ligam-se a receptores específicos presentes em células imunes, como linfócitos, monócitos e macrófagos e modulam de maneira diferente a resposta. Em linhas gerais, o estrogêno aumenta a resposta imune, enquanto a ação da progesterona e dos andrógenos reduz. Como exemplo, o estradiol ativa a via da Proteína-quinases ativadas por mitógenos (MAPK) o que resulta na ativação da via de sinalização do Fator Nuclear kappa B (NFkB). Ambas as vias, MAPK e NFkB, estão envolvidas na expressão aumentada de genes relacionados a resposta imune e genes que codificam enzimas antioxidantes (Caruso et al, 2013).
Em março desse ano foi publicado na CellPress Reviews, o impacto do sexo em alotransplante (transplante de órgãos ou de tecidos entre indivíduos da mesma espécie). Neste artigo os autores discutem a influência dos hormônios sexuais na resposta imune, focando na resposta a transplantes. E um dos aspectos abordados foi a diferença da resposta imune das mulheres em 3 fases distintas: durante a gravidez, na pré e pós menopausa. Na figura 2 podemos observar que durante a gravidez e no período que eles denominam de pós menopausa existe uma chance menor de rejeição de transplante devido as alterações hormonais.




Figura 2

Atualmente poucos estudos laboratoriais com animais e até mesmo estudos clínicos levam em consideração o sexo dos participantes, e em muitos casos existe a preferência do sexo masculino pois o risco de gravidez durante os estudos pode ser um viés nos resultados obtidos. A importância do sexo durante a resposta imune é indiscutível, e a pergunta que fica é como devemos lidar com essas diferenças? Devemos utilizar grupos mesclados de machos e fêmeas nos experimentos? Ou devemos negligenciar essas diferenças?

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