Por: Renata Gregório Franco Moura (Mestre em Medicina
Tropical e Infectologia - CPMTI/UFTM)
Editora: Carolina Salomão Lopes (PostDoc UFU/PPIPA)
Muitos
profissionais da área da saúde desconhecem a existência do Blastocystis, mas o
fato é que ele vêm ganhando cada vez mais visibilidade no campo científico e
clínico. Esse protozoário foi descrito em 1911, por Alexeieff e desde então têm
causado muita discussão sobre seu real papel na doença humana e animal.
Fonte: http://discoverchinesemedicine.blogspot.com.br |
Mesmo
seu descobrimento tendo sido a mais de 100 anos atrás, poucas certezas se têm
sobre ele. Ainda não se sabe ao certo qual seu ciclo de vida, sua filogenia ou
tão pouco sobre seu modo de reprodução. Cogita-se a hipótese de que ele possui
6 formas distintas entre si e que as mesmas podem se modificar de acordo com as
condições do meio em que estão. Vários ciclos biológicos já foram descritos,
porém nem o ciclo de vida e nem o(s) modo(s) de reprodução foram demonstrados
cientificamente.
Blastocystis
apresenta uma grande diversidade genética, por isso, temos espécies e genótipos
distintos do protozoário. Uma mesma espécie do parasito pode conter inúmeros
genótipos diferentes. Para padronizar a classificação desses genótipos, foi estabelecido
que os mesmos seriam chamados de subtipos do parasito. Atualmente já foram
descritos 17 subtipos distintos ao redor do mundo, através da análise do SSU
rRNA dos mesmos.
Alguns
subtipos são descritos como patogênicos ao homem, causando sintomas como dor
abdominal, prurido anal, anorexia, flatulência, meteorismo, náusea, vômito e
diarreia, variando a intensidade de acordo com o estado imunológico do
indivíduo. Além disso, existe forte relação entre a blastocistose e a síndrome
do intestino irritável, uma desordem intestinal na qual a dor abdominal está
associada com um defeito ou uma mudança nos hábitos intestinais. Porém ainda
não está claro se B. hominis é o agente etiológico primário
da síndrome do cólon irritável, já que nesses pacientes é possível que uma
perturbação da flora microbiana propicie a infecção pelo parasito.
Como
não se tem muita certeza sobre a relação entre os diferentes subtipos e a
patogenicidade, acredita-se que seja a competência do sistema imunológico
do hospedeiro o fator determinante para o desenvolvimento ou não dos sintomas. Sob essa ótica, somente esses indivíduos devem ser tratados contra a
blastocistose.
Submerso
nesse mar de hipóteses e dúvidas, Blastocystis segue sendo “bolinhas”
diariamente visualizadas em exames de fezes sem se saber ao certo sua
importância, estabelecendo assim um grande desafio para a pesquisa científica.
Referências
ALFELLANI, M. A. et al. Variable
geographic distribution of Blastocystis
subtypes and its potential implications. Acta
Tropica, v. 126, p. 11–18, 2013.
CAVALIER-SMITH, T. A revised six-kingdom system of
life. Biological Reviews of the
Cambridge Philosophical Society, v. 73, p. 203–266, 1998.
KURT, Ö. et al. Eradication of Blastocystis in
humans: Really necessary for all? Parasitology
International, v. 65, n. 6, p. 797-801, 2016.
PARKAR, U. et al. Molecular characterization of Blastocystis isolates from zoo animals
and their animal-keepers. Veterinary
Parasitology, v. 169, p. 8–17, 2010.
STENSVOLD, C. R. et al. Terminology for Blastocystis subtypes – a consensus. Trends in Parasitology, v. 23, n. 3, p.
93-96, 2007.
STENZEL, D. J.;
BOREHAM, P. F. L. Blastocystis hominis Revisited. Clinical Microbiology Reviews, v. 9, n. 4, p. 563–584, 1996.
TAN, K. S. W. New Insights on Classification,
Identification, and Clinical Relevance of Blastocystis spp. Clinical Microbiology Reviews, v. 21,
n. 4, p. 639–665, 2008.
YOSHIKAWA, H. et al. Problems in
speciation in the genus Blastocystis.
Trends in Parasitology, v. 20, n. 6,
p. 252-255, 2004.
Nenhum comentário:
Postar um comentário