segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Blastocystis: Uma bolinha no seu cocô

Por: Renata Gregório Franco Moura (Mestre em Medicina Tropical e Infectologia - CPMTI/UFTM)
Editora: Carolina Salomão Lopes (PostDoc UFU/PPIPA)

Muitos profissionais da área da saúde desconhecem a existência do Blastocystis, mas o fato é que ele vêm ganhando cada vez mais visibilidade no campo científico e clínico. Esse protozoário foi descrito em 1911, por Alexeieff e desde então têm causado muita discussão sobre seu real papel na doença humana e animal.
Fonte: http://discoverchinesemedicine.blogspot.com.br
Mesmo seu descobrimento tendo sido a mais de 100 anos atrás, poucas certezas se têm sobre ele. Ainda não se sabe ao certo qual seu ciclo de vida, sua filogenia ou tão pouco sobre seu modo de reprodução. Cogita-se a hipótese de que ele possui 6 formas distintas entre si e que as mesmas podem se modificar de acordo com as condições do meio em que estão. Vários ciclos biológicos já foram descritos, porém nem o ciclo de vida e nem o(s) modo(s) de reprodução foram demonstrados cientificamente.
Blastocystis apresenta uma grande diversidade genética, por isso, temos espécies e genótipos distintos do protozoário. Uma mesma espécie do parasito pode conter inúmeros genótipos diferentes. Para padronizar a classificação desses genótipos, foi estabelecido que os mesmos seriam chamados de subtipos do parasito. Atualmente já foram descritos 17 subtipos distintos ao redor do mundo, através da análise do SSU rRNA dos mesmos.
Alguns subtipos são descritos como patogênicos ao homem, causando sintomas como dor abdominal, prurido anal, anorexia, flatulência, meteorismo, náusea, vômito e diarreia, variando a intensidade de acordo com o estado imunológico do indivíduo. Além disso, existe forte relação entre a blastocistose e a síndrome do intestino irritável, uma desordem intestinal na qual a dor abdominal está associada com um defeito ou uma mudança nos hábitos intestinais. Porém ainda não está claro se B. hominis é o agente etiológico primário da síndrome do cólon irritável, já que nesses pacientes é possível que uma perturbação da flora microbiana propicie a infecção pelo parasito.
Como não se tem muita certeza sobre a relação entre os diferentes subtipos e a patogenicidade, acredita-se que seja a competência do sistema imunológico do hospedeiro o fator determinante para o desenvolvimento ou não dos sintomas. Sob essa ótica, somente esses indivíduos devem ser tratados contra a blastocistose.
Submerso nesse mar de hipóteses e dúvidas, Blastocystis segue sendo “bolinhas” diariamente visualizadas em exames de fezes sem se saber ao certo sua importância, estabelecendo assim um grande desafio para a pesquisa científica.

Referências
ALFELLANI, M. A. et al. Variable geographic distribution of Blastocystis subtypes and its potential implications. Acta Tropica, v. 126, p. 11–18, 2013.
CAVALIER-SMITH, T. A revised six-kingdom system of life. Biological Reviews of the Cambridge Philosophical Society, v. 73, p. 203–266, 1998.
KURT, Ö. et al. Eradication of Blastocystis in humans: Really necessary for all? Parasitology International, v. 65, n. 6, p. 797-801, 2016.
PARKAR, U. et al. Molecular characterization of Blastocystis isolates from zoo animals and their animal-keepers. Veterinary Parasitology, v. 169, p. 8–17, 2010.
STENSVOLD, C. R. et al. Terminology for Blastocystis subtypes – a consensus. Trends in Parasitology, v. 23, n. 3, p. 93-96, 2007.
STENZEL, D. J.; BOREHAM, P. F. L. Blastocystis hominis Revisited. Clinical Microbiology Reviews, v. 9, n. 4, p. 563–584, 1996.
TAN, K. S. W. New Insights on Classification, Identification, and Clinical Relevance of Blastocystis spp. Clinical Microbiology Reviews, v. 21, n. 4, p. 639–665, 2008.
YOSHIKAWA, H. et al. Problems in speciation in the genus Blastocystis. Trends in Parasitology, v. 20, n. 6, p. 252-255, 2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário