Editora: Flávia Batista Ferreira (Doutoranda/UFU)
A febre aftosa é uma doença viral de caráter
contagioso provocada por vírus da família Picornaviridae,
gênero Aphthovirus, que acomete animais biungulados, incluindo os bovinos. Apesar
de ser uma zoonose com raros casos em humanos e de não apresentar grandes
riscos à saúde pública, a epidemiologia desta doença revela uma elevada
morbidade dentro do rebanho bovino, levando a severas perdas de produtividade durante
a presença dos sinais clínicos. Além disso, a ocorrência de casos da febre
aftosa leva ao sacrifício obrigatório dos bovinos de um rebanho ou da região
acometida, proibição de vendas e exportações e perdas econômicas elevadas,
muitas vezes irreparáveis. Assim, a preocupação com tal doença dá-se
principalmente pelos prejuízos financeiros que a acompanham.
Apesar de não ocorrer nenhum caso notificado de Febre
Aftosa no Brasil desde 2006, em grande parte dos territórios são realizadas uma
ou duas campanhas obrigatórias de vacinação no rebanho bovino, determinadas
pelo Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa. Aí entra uma
questão que é alvo de discussão entre os envolvidos na cadeia da bovinocultura:
as reações vacinais. Estas nada mais são do que formações de resposta
imunológica a componentes vacinais, seja decorrente do veículo oleoso do
produto/adjuvantes, ou de contaminação da agulha ou medicamento. Como
consequências negativas deste processo, há o desconforto do animal causado pela
dor, afetando diretamente o bem-estar e consequentemente a produtividade e, nos
abatedouros, a necessidade de remoção da musculatura acometida pela reação
vacinal, incluindo margem de segurança para evitar contaminação da carcaça e
dos instrumentos de trabalho (facas e ganchos).
Estima-se que a remoção dos “caroços” (abscessos) durante
o abate comercial representa até 2kg de carne por animal. Se considerarmos que
a quase totalidade dos bovinos abatidos possuem reações vacinais, é possível
imaginar o tamanho do prejuízo para os pecuaristas, visto que estes arcam com
as perdas. Neste momento, é possível realizar-se uma reflexão: como é possível
a vacinação de uma doença que pode causar tantos prejuízos econômicos para os
produtores, causar tantos prejuízos econômicos aos produtores? Parece
engraçado, mas não é.
O importante, além da conscientização dos produtores
quanto à aplicação das boas práticas no processo de vacinação, é reavaliar
todos os procedimentos envolvidos. O Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) já estuda reduzir a dose de 5ml para 2ml, alteração da
composição da vacina sendo removido o sorotipo C do vírus inativado devido a
este não ser encontrado na América do Sul (fabricação de uma vacina bivalente
com o vírus O1 e A24 inativado), retirada do adjuvante oleoso da composição da
nova vacina. Existe também uma expectativa de retirar totalmente a vacina até
2023, assim que houver reconhecimento do Brasil como zona livre da doença sem
vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Tais medidas foram
anunciadas recentemente, possivelmente estimuladas pela suspensão de compra de
carne in natura brasileira pelos
Estados Unidos, após ser encontrada reação vacinal (abscessos) em uma das
carcaças exportadas.
Pra finalizar, em condições de campo, é comum a
compra da vacina pelos pecuaristas apenas para comprovar uma suposta vacinação,
descartando-se as vacinas e apresentando as notas fiscais de compra aos órgãos
competentes. Assim, são notórias diversas falhas em todos os setores envolvidos
com a Febre Aftosa, passando pelas indústrias (farmacêutica e alimentícia),
produtores e órgãos competentes. Como a vacina contra uma doença, e não a
doença em si, torna-se um problema tão grande para um país que está prestes a
ser considerado livre da doença a qual ela protege? O dinheiro ou a saúde
pública, qual deles vai ser levado em consideração ao final das contas? A
doença não existe ou não foi identificada? E se fosse identificada, a vacinação
seria a heroína ou a vilã?
Reação
vacinal em músculo Longissimus dorsi
bovino.
Fonte: skywatchbretten.blogspot.com.br/2012/08/nie-wieder-fleisch-arte-dokumentation.html
LYRA, T.M.P.; SILVA, J.A. A
febre aftosa no Brasil 1960-2002. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.56, 2004
Nenhum comentário:
Postar um comentário