terça-feira, 22 de agosto de 2017

Resposta imune contra infecções virais: a memória imunológica que também pode falhar

Por: Mariana Ferreira Silva (Doutoranda/PPIPA)
Editora: Carolina Salomão Lopes (PostDoc UFU/PPIPA)

Você já deve saber que tanto Zika vírus quanto Dengue vírus pertencem a família Flaviviridae e em geral causam sintomas parecidos nos pacientes, mas o primeiro pode levar a uma complicação mais severa que é a Síndrome de Guillan Barré. Devido a similaridade entre estes vírus, durante a resposta imune contra esses patógenos, pode ocorrer no organismo intensa reatividade cruzada. Como mostrado na Figura 1, as duas infecções podem ser endêmicas nas mesmas regiões. Por isso, um estudo publicado na revista Science avaliou a produção de anticorpos contra Zika vírus em pacientes que tinham sido previamente expostos ao vírus da dengue.
Para realização do estudo foram selecionados 4 pacientes diagnosticados com Zika vírus, sendo 3 da Colômbia, região em que a dengue é endêmica e 1 paciente dos Estados Unidos, onde não há relatos de casos de dengue. Anticorpos e células B desses pacientes foram isolados do sangue periférico e o que foi possível perceber é que os anticorpos dos indivíduos que tinham sido previamente infectados com o vírus da dengue eram produzidos em maior quantidade, porém não eram eficientes em neutralizar o Zika vírus in vitro.

                            Figura 1 – Mapa mostrando áreas endêmicas das infecções por Zika e Dengue vírus.

Isso pode ser explicado pelo fato de que grande parte dos anticorpos produzidos por esses indivíduos possuíam reatividade cruzada com o vírus da dengue e isto se deve a um fenômeno denominado “pecado antigênico original”. Ou seja, o sistema imune utiliza os anticorpos previamente produzidos pelas células de memória para combater o patógeno, mas que não são os mais específicos para a resposta imediata. Além disso, quando o anticorpo se liga a esse vírus e não consegue neutralizá-lo, a interação do mesmo com a célula alvo é facilitada, o que contribui para a sua replicação.
Portanto, deve-se ressaltar que este estudo identificou uma região do Zika vírus que não tem homologia com o da dengue e que pertence ao envelope viral, a proteína E. Por isso, no caso do desenvolvimento de vacinas para pacientes que foram previamente expostos ao vírus da dengue, é mais viável desenvolver utilizando este tipo de antígeno pois a resposta imune induzida será mais eficiente.

Referências Bibliográficas
ROGERS, T.F. et al., “Zika virus activates de novo and cross-reactive memory B cell responses in dengue-experienced donors,” Science Immunology, 2017.



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