Por: Patrício da Silva Cardoso Barros (Doutorando/PPIPA)
Editor: Heber Leão Silva Barros (Doutorando/PPIPA)
A estrutura dos
organismos e seus ativos processos fisiológicos são baseados praticamente em
proteínas. A informação genética para a síntese dessas proteínas, está
armazenada no DNA. Uma molécula de DNA é composta por dois filamentos enrolados numa longa fita
dupla hélice. Cada um dos filamentos da dupla hélice consiste num arcabouço
feito de cópias repetidas de um açúcar (chamado desoxirribose) e fosfato.
De cada grupo açúcar-fosfato, projeta-se uma base nucleotídica. Devido ao
espaço ocupado pelas bases, a adenina sempre pareia com a timina (duas pontes
de hidrogênio), enquanto guanina pareia com a citosina (três pontes
de hidrogênio). As diferentes combinações entre as bases dão origem ao código
genético, contendo as informações necessárias para a síntese das estruturas celulares.
A habilidade de modificar as sequências do código genético é fundamental para o
desenvolvimento de ferramentas para aplicações clínicas e biotecnológicas.
Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats
(CRISPR) é um mecanismo de defesa natural que faz parte da
imunidade adaptativa de alguns procariotos. CRISPR é utilizado por muitas
bactérias para se protegerem de infecções causadas por elementos genéticos
exógenos como vírus, bacteriófagos e plasmídeos. Essa ferramenta foi adaptada permitindo
a edição (com alta especificidade) de qualquer genoma.
Quais são as
inovações do CRISPR e por que essa ferramenta é tão importante? Primeiro,
CRISPR não faz nada completamente novo. Os cientistas desenvolveram ferramentas
para a edição gênica há algum tempo. O que o CRISPR faz é tornar a edição de
genes incrivelmente mais fácil e mais barata. CRISPR permite a inserção,
substituição e deleção de sequencias gênicas no genoma. Esse fato, por exemplo,
o torna capaz de corrigir mutações no genoma que causam doenças. Existem várias
subclasses de CRISPR, mas o sistema do tipo II (CRIPR/Cas9) é o mais utilizado.
Funcionamento
de CRISPR/Cas9:
CRISPR possui
dois componentes:
1-
RNA
guia (gRNA) - sequência de ~20 pares de base que
define o sítio especifico do genoma a ser modificado. O gRNA pode ser qualquer
sequência de ~20 nucleotídeos presente no genoma, desde que dois pré-requisitos
sejam respeitados:
I.
Essa sequência não pode ter outra
repetição/homologia no genoma.
II.
A sequência alvo deve se encontrar imediatamente
antes de um Protospacer Adjacent Motif (PAM). No caso do
sistema do tipo II, o PAM é NGG (um nucleotídeo qualquer seguido por duas
guaninas). É possível modificar o loci
alvo apenas alterando a sequência do gRNA.
2-
Endonuclease
associada à CRISPR (Cas9) – responsável pela quebra
da dupla fita do DNA (DSB), que possibilita a edição gênica.
Esses dois
componentes devem ser simultaneamente introduzidos na célula a ser modificada.
O complexo gRNA/Cas9 se liga a todas as sequências PAN do genoma, mas a Cas9
apenas gera quebra na dupla fita do DNA quando o gRNA se parear (por homologia)
com a sequência alvo no genoma. A DSB gerada pela Cas9 pode ser reparada por
uma das duas vias, que operam em praticamente todos os organismos:
1- Non-Homologous End Joining (NHEJ) - é o mecanismo de reparo mais
ativo e responsável pela maior parte do reparo gênico. No entanto, esse reparo
do DNA ocorre pela adição ou deleção de nucleotídeos (inDels) no sito da quebra.
Esses pequenos indels destroem a organização in frame (códons) dos aminoácidos e geralmente resultam na formação
de um Stop códon prematuro, que bloqueia a tradução.
2- Homology Directed Repair (HDR) - ao
contrário da via NHEJ o reparo via HDR pode ser utilizado para a edição gênica
com alta especificidade e fidelidade, permitindo modificações de um único
nucleotídeo bem como inserções de longas sequências de nucleotídeos (como gene
de resistência e TAGs).
Apesar da sua
recente adaptação para o uso em pesquisa, CRISPR já revolucionou completamente
a forma como editamos o genoma. O futuro com CRISPR será promissor.
Referências:
CONG, L.; RAN, F. A.; COX, D.; LIN, S.; BARRETTO, R.;
HABIB, N.; HSU, P. D.; WU, X.; JIANG, W.; MARRAFFINI, L. A.; ZHANG, F.
Multiplex genome engineering using CRISPR/Cas systems. Science, v. 339, p. 819-823, 2013.
HORVATH, P.; BARRANGOU, R. CRISPR/Cas, the immune
system of bacteria and archaea. Science,
v. 327, p. 167-170, 2010.
SHALEM, O.; SANJANA, N. E.; ZHANG, F. High-throughput
functional genomics using CRISPR-Cas9. Nature
reviews Genetics, v. 16, p. 299-311, 2015.
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