Por: Eliézer Lucas Pires Ramos (Doutorando/PPIPA)
Editora: Mariana Ferreira Silva (Doutoranda/PPIPA)
Não é de hoje que se sabe
que as moléculas celulares, sejam de membrana, citoplasmáticas ou nucleares comunicam-se
a fim de desencadear um processo metabólico, imunológico ou fisiológico com o
único objetivo de buscar a homeostase, ou seja, o equilíbrio dos sistemas.
Vamos imaginar que cada uma dessas moléculas, sejam proteínas, glicanos,
lipídeos ou outras estruturas orgânicas e inorgânicos constituam uma sociedade.
Cada componente tem sua função e depende de uma comunicação para desempenhá-la
que pode ser através de vários processos como fosforilação, sumoilação e glicosilação.
Essas mensagens permitem com que tais componentes comecem a desempenhar seu
papel nessa “sociedade”. E como toda sociedade, é necessária uma forte defesa
para qualquer invasor em potencial. Desse modo, vamos nos detalhar nesse
aspecto da “sociedade”, a defesa. A maioria das células eucarióticas apresentam
mecanismo de defesa intracelular, que vão desde junções aderentes que permitem
que uma célula se una a outra e impeça a entrada de um invasor no organismo, até
moléculas secretórias que podemos dizer que são os grandes soldados dessa
batalha, como citocinas, quimiocinas e mucinas. Desse modo a comunicação
intracelular é fundamental para mostrar o momento em que cada molécula deve
desempenhar sua função.
Fonte: www.fotosearch.com.br
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Os primeiros componentes
a darem o sinal de perigo quando há um patógeno invasor, são os PRR’s (do
inglês Pattern Recognition Receptors),
sendo os mais conhecidos, os TLR’s, que são incapazes de comunicar a outras
moléculas se não trabalharem em conjunto com
as moléculas adaptadoras como MyD88 e TRIF, sendo estas as que entregam
a informação aos demais “membros dessa sociedade”. A partir daí já temos um
trabalho totalmente em conjunto no citoplasma celular, em que participam vários
outros componentes sinalizadores, principalmente quinases e fosfatases, como
MAP quinases, IRAK e TBK1. A função principal deles é transmitir a mensagem até
chegar no núcleo. Para isso é necessário que os fatores de transcrição, como
NFκB e AP-1 recebam o sinal e a partir daí se direcionam ao núcleo. Essas
moléculas, como o nome já diz, vão participar do processo de transcrição gênica
de diversos alvos, principalmente citocinas “os grandes soldados”. Daí em
diante, não somente essas, mas diversos componentes celulares ao redor serão avisados
da presença do patógeno e participarão do processo de defesa.
As citocinas após
secretadas se ligarão aos seus respectivos receptores, que também são proteínas
e estão presentes na membrana celular, tais como os PRR’s, entretanto esses
“membros da sociedade” que irão trabalhar agora serão diferentes. Em sua
maioria, os primeiros a serem ativados dessa maneira são as STAT (do inglês Signal
Transducer and Activator of Transcription) por intermédio da quinase JAK (do inglês Janus Kinase). Toda essa comunicação pode se dar de forma
autócrina, parácrina ou endócrina. Na primeira, a citocina se liga ao receptor
da própria célula e passa a informação, já a segunda é uma maneira de unir
forças com outras “sociedades vizinhas”, e na última serão recrutadas células
distantes para esse combate. A partir daí outros componentes importantes na
defesa e as principais armas dessa guerra (moléculas efetoras) serão ativados
até que elimine o patógeno, ou não.
Se considerarmos que todo
combate necessita de estratégia e que os combatentes podem cometer erros, com
essa “sociedade” não poderia ser diferente. Os patógenos evolutivamente estão
numa “corrida armamentista” com seus hospedeiros, desse modo, eles também
apresentam ótimos soldados que podem dificultar a defesa desta sociedade. Segundo,
se a sociedade não estiver completa ou atuando de forma efetiva, os patógenos
conseguem ali se estabelecer e colonizar. Ainda, se essa sociedade, ou seja, se
as moléculas do hospedeiro agirem de forma errônea, elas podem causar sua
própria morte, chamada de apoptose ou necrose, sendo muitas vezes a melhor
saída daquela “sociedade” para contribuir com o ecossistema “hospedeiro”.
Como podemos perceber a
sociedade celular é complexa e depende de muitos componentes para manter a
homeostase, entretanto temos muitas lacunas a serem preenchidas ainda para
melhor entender como e porque as moléculas se comunicam.
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