Por: Carolina Salomão Lopes (Pós-doc), Eliezer Pires Ramos
(Doutorando), Heber Leão Silva Barros (Doutorando), Mariana Ferreira Silva
(Mestranda), Tamires Lopes Silva (Mestranda) e Vanessa Resende Souza e Silva
(Doutoranda); Programa de Pós-graduação em Imunologia e Parasitologia Aplicadas
(PPIPA), Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Causando infecção em cerca de 50% da população mundial e
conhecida popularmente como doença do gato, a toxoplasmose é uma infecção
normalmente silenciosa em indivíduos imunocompetentes, sendo os casos mais
graves associados a indivíduos imunocomprometidos e neonatos (infecção por via
congênita). Tradicionalmente, o diagnóstico utilizado é a detecção de
anticorpos IgG e IgM específicos anti-Toxoplasma no soro, sendo indicadores de
infecção crônica e aguda, respectivamente. Entretanto, casos de persistência na
produção de IgM são relativamente comuns, adentrando a fase crônica da
infecção. A averiguação de outras imunoglobulinas podem também ser utilizadas
para o diagnóstico da infecção, como demonstrado em recentes estudos que
encontraram correlação positiva entre os níveis de IgA no soro e colostro na
toxoplasmose congênita 1, e IgE em infecções ativas 2,3. Não somente o soro,
mas diferentes amostras biológicas como saliva 4, urina 5, colostro 1 e
lágrimas 6 apresentam anticorpos anti-T. gondii, sendo que tais fluidos
corpóreos podem ser utilizados em protocolos rápidos de diagnóstico.
Alguns leitores podem estar se perguntando, por que utilizar
métodos sorológicos se possuímos atualmente um grande número de técnicas
moleculares à disposição? Por que não usar métodos diretos de detecção do
parasito, como a PCR? A resposta para tais questionamentos é a baixa
parasitemia durante a infecção, mesmo na fase aguda, enquanto os testes
sorológicos mensuram a resposta imune do indivíduo, neste caso, muito mais
“palpável”. Apesar da padronização e disponibilidade comercial de uma grande
variedade destes testes (ELISA, IFI, IB), ainda não existe um consenso
internacional sobre quais protocolos devem ser adotados como padrão para
determinar o estágio da infecção (aguda/crônica), a forma infectante
(taquizoíta/cisto/oocisto) e o genótipo da cepa (clonais – I, II e III; ou
recombinantes). A identificação de tais características da infecção
possibilitaria o acompanhamento e tratamento mais adequados para cada
indivíduo. Recentemente foi demonstrado que cepas recombinantes ou “atípicas”
são capazes de causar toxoplasmose congênita em modelo murino previamente imunizado7,
assim a tipagem da cepa é fundamental para entendermos a cinética da infecção e
a sintomatologia. Essas informações são especialmente importantes quando o
indivíduo infectado faz parte de um dos grupos de riscos para a toxoplasmose
(gestantes e/ou portadores do HIV).
Com a nossa atual dependência técnica de ensaios sorológicos
para o diagnóstico da infeção, o ideal é o aperfeiçoamento dos protocolos
usualmente utilizados. O uso de antígenos totais de T. gondii compromete a
especificidade dos testes, pois o protozoário possui epítopos comuns com
organismos filogeneticamente relacionados. Desta forma, estudos utilizando
alvos antigênicos mais específicos têm sido uma tônica de trabalho na área,
incluindo aí antígenos purificados, recombinantes ou sintéticos.
Neste contexto, a bioinformática permite a predição acurada
de epítopos de células B nos diferentes antígenos mapeados do parasito,
propiciando a formulação de alvos sintéticos específicos em grandes quantidades
que, por sua vez, facilita a padronização dos testes. Utilizando-se deste
racional experimental, diversas proteínas recombinantes e peptídeos têm sido
avaliados nos últimos anos, como antígenos de superfície (SAG1, SAG2, SAG3 e
P35), grânulos densos (GRA2, GRA4, GRA5, GRA6 e GRA7), micronemas (MIC1 e MIC3)
e roptrias (ROP1 e ROP2). Ensaios padronizados com as proteínas recombinantes
mimetizando os antígenos GRA6, P35, GRA7, GRA2, SAG2A e ROP18 foram capazes de
distinguir as diferentes fases de infecção, com alta sensibilidade diagnóstica.
Adicionalmente, ensaios baseados em peptídeos recombinantes derivados de
antígenos mapeados como exclusivos de oocistos (CCp5a)9 e cistos (BAG1)10
também foram capazes de distinguir com alta especificidade as formas
parasitárias pelas quais os indivíduos se infectaram, bem como ensaios
utilizando o peptídeo sintético Am711, derivado das proteínas polimórficas GRA6
e GRA7, foi capaz de determinar anticorpos cepa-específicos.
Para a prospecção dos alvos para tais modalidades de
diagnóstico sorológico, têm-se utilizado técnicas de triagem de amplo espectro.
Liang e colaboradores (2011)12 avaliaram antígenos marcadores da infecção por
meio da modificação da técnica de Microarray, sendo capazes de avaliar
simultaneamente a interação de anticorpos contidos no soro de indivíduos
infectados com 1357 éxons preditos de proteínas imunodominantes do parasito
extraídos a partir do genoma do protozoário, sendo capazes de identificar três
proteínas excretadas pelo parasito como marcadores de infecções crônicas.
Adicionalmente, diferentes grupos de pesquisadores estão prospectando
protocolos para a detecção direta de proteínas do parasito em amostras
biológicas durante a fase ativa da infecção por meio de testes rápidos no
próprio consultório médico, uma vez que já sabe-se que proteínas
imunodominantes podem ser encontradas em amostras de soro e urina 13,14.
Apesar do diagnóstico sorológico da toxoplasmose no Brasil
possuir um histórico de mais de seis décadas (IFAT)15, pesquisadores de todo o
mundo ainda têm se concentrado na identificação de novas ferramentas para o
diagnóstico da toxoplasmose, indicando que esta abordagem temática possui um
caminho promissor à frente.
Contribuição dos autores: CSL contribuiu com as informações
sobre diagnostico em diferentes amostras biológicas assim como na estruturação
e organização do texto. EPR contribui na edição e correção do texto. HLSB
contribuiu com as informações sobre peptídeos e na estruturação do texto. MFS
contribuiu para as informações sobre proteínas recombinantes. TLS fez a montagem
da imagem e auxiliou na edição do texto. VRSS contribuiu comas informações
sobre novas tecnológicas para diagnostico.
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Editor-chefe: Tiago Mineo
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