Por Patrício da Silva Cardoso Barros (Doutorando/PPIPA)
A Liga Universitária de Imunologia visa promover a interação entre diferentes públicos (Graduandos, Pós-Graduados e Professores), para que possamos discutir diferentes tópicos sobre imunologia e ciências correlacionadas. Como organizadores desse projeto e membros do Laboratório de Imunoparasitologia, é oportuno descrever, sucintamente, os temas que pesquisamos e, consequentemente, possuímos um maior domínio. O nosso grupo de pesquisa busca compreender a reposta imune resultante da interação patógeno-hospedeiro, bem como seus mecanismos gênicos, utilizando diferentes hospedeiros (camundongos, ratos, bovinos) e protozoários intracelulares (Toxoplasma gondii e Neospora caninum) como modelo de estudo.
A Liga Universitária de Imunologia visa promover a interação entre diferentes públicos (Graduandos, Pós-Graduados e Professores), para que possamos discutir diferentes tópicos sobre imunologia e ciências correlacionadas. Como organizadores desse projeto e membros do Laboratório de Imunoparasitologia, é oportuno descrever, sucintamente, os temas que pesquisamos e, consequentemente, possuímos um maior domínio. O nosso grupo de pesquisa busca compreender a reposta imune resultante da interação patógeno-hospedeiro, bem como seus mecanismos gênicos, utilizando diferentes hospedeiros (camundongos, ratos, bovinos) e protozoários intracelulares (Toxoplasma gondii e Neospora caninum) como modelo de estudo.
O reconhecimento de patógenos invasores
(em diferentes compartimentos celulares) é fundamental para
a eficiência da resposta imune. A imunidade inata é um sistema
evolutivamente conservada que fornece a primeira linha de defesa do hospedeiro
contra vírus e microrganismos invasores. Esse sistema
atua na manutenção da homeostase, regulando
processos endógenos como inflamação e morte celular [1-2]. Tais processos são estimulados por uma
variedade de receptores de reconhecimento padrão (PRRs), que
reconhecem moléculas de origem microbianas (PAMPs), geralmente vitais para os
patógenos e ausentes nas células hospedeiras. Além disso, os PRRs
reconhecem moléculas associadas a danos (DAMPs), que são liberadas
mediante condições de estresse, destruições teciduais e
morte celular (necrose e piroptose). Uma grande variedade de PAMPs
bacterianos foram identificados, incluindo moléculas tão diversas quanto lipoproteínas, LPS,
flagelinas e CDNs. Os vírus são reconhecidos principalmente pelas suas glicoproteínas
de fusão e pela peculiaridade de ácidos nucleicos (dsRNA, ssRNA e DNA
viral). Em comparação aos anteriores, muito pouco se conhece sobre o reconhecimento
de protozoários. Isso se deve, em parte, ao fato de que a maioria das moléculas
microbianas e virais classicamente reconhecidas pela imunidade inata não
estarem presentes em patógenos eucariotos. No entanto, o sistema
imune inato é capaz de reconhecer um conjunto distinto de moléculas presente
exclusivamente em protozoários, bem como moléculas relacionadas a eventos de
danos teciduais liberadas pela lise celular [3-5]. Os
PRRs são classificados em dois grupos: 1- Receptores ligados à membrana (TLRs e
CLRs). 2- Receptores citoplasmáticos (NLRs, PYHIN, RLRs).
O reconhecimento de T. gondii
e N. caninum envolve ambos os receptores: de membranas e
citoplasmáticos. Esse reconhecimento resulta na ativação e interação de
diferentes vias de sinalizações e fatores de transcrição que determinam o curso
da infecção. Entretanto, existe uma maior compreensão do envolvimento dos TLRs e
suas vias subsequentes. Após a interação com seus respectivos ligantes,
TLR11/TLR12 (profilina), TLR2 (GPI), TLR7/TLR9 (ssRNA e DNA), as proteínas
adaptadoras, MYD88 e TRIF, são recrutadas permitindo a translocação de fatores
de transcrição (NF-kB e IRFs) para o núcleo, onde são ativadas e estimulam a
produção de citocinas pró-inflamatórias.
A via que resulta na produção de IL-12/INF-γ é crucial
para o controle da infecção, como é demonstrado pelo aumento da susceptibilidade
de camundongos deficientes para IL-12 e IFN-γ. Na fase aguda da
infecção, interações entre o parasito e células da imunidade inata resultam na
produção de IL-12 pelas células dendríticas CD8, células dendríticas
plasmocitóides, macrófagos e neutrófilos.
IL-12 estimula a produção de IFN-γ, inicialmente, por células NK e,
posteriormente, por linfócitos T (CD4 e CD8). A via de sinalização de IFN-γ é
dependente da fosforilação e translocação de STAT1 para o núcleo e consequente
indução de genes estimulados por interferon (ISGs) que eliminam o parasito por
diferentes mecanismos. Por exemplo, IFN-γ altera o metabolismo celular,
induzindo a expressão de IDO, que degrada o
triptofano (aminoácido essencial para o crescimento parasitário). IFN-γ
aumenta a expressão de iNOS, que gera a produção de óxido nítrico
(metabolito altamente tóxico para o parasito), degradando arginina (outro
aminoácido crucial para a sobrevivência do parasito). Por último,
IFN-γ estimula a expressão de IRGs e GBPs, que são proteínas
responsáveis pela destruição da membrana do vacúolo parasitóforo (organela
que hospeda e protege o parasito dos mecanismos de eliminação do sistema
endolisossomal). A destruição da membrana do vacúolo resulta na liberação
do parasito no compartimento citoplasmático da célula onde são eliminados.
Após a descrição da diversidade de
componentes celulares envolvidos no reconhecimento e eliminação de
microrganismos invasores, como esses conseguem sobreviver, causar doenças e
morte de seus hospedeiros? Isso se deve, principalmente, ao fato dos mecanismos
da resposta imune do hospedeiro estarem sob controle de inúmeras vias
de sinalização e fatores de transcrição. Tal fato permite que a resposta imune
do hospedeiro seja manipulada por um grupo de microrganismos denominados
patogênicos (assim nomeado pela capacidade de evasão à eliminação pelos
mecanismos efetores da resposta imune). Como patógenos intracelulares obrigatórios, T.
gondii e N. caninum são capazes de sobreviver e proliferar no
interior de células hospedeiras, onde secretaram proteínas (MICs, ROPs e GRAs)
que modulam a expressão gênica através da modificação da cromatina ou pela
indução de RNAs não codificadores. O mapeamento gênico de parasitos
resultantes do cruzamento entre cepas de T. gondii de
alta virulência (tipo I) e cepas de virulência intermediaria
(tipo II) permitiu a identificação de ROP5 e ROP18, que formam complexos com a
ROP17 impedindo o acoplamento de IRGs na membrana do vacúolo e sua consequente
degradação. ROP16 I e II, ativa fatores
de transcrição, STAT3 e STAT6, o que resulta no aumento da produção de IL-4,
que antagoniza a produção de IL-12 [6-7].
Atualmente,
são conhecidas uma variedade de proteínas efetoras do parasito, secretadas em
diferentes estágios da infecção, que boqueiam a resposta imune do
hospedeiro. Os avanços na identificação e caracterização dos processos que
regulam a interação patógeno-hospedeiro somente foi possível com o advento
da “Forward genetics” e genética reversa. Forward genetics
permite a identificação de genes responsáveis por
determinados fenótipos, utilizando mutação naturais ou induzidas por
radiação ou mutagênicos químicos. A genética reversa, determina
a função dos genes pela análise dos efeitos provocados pela alteração
na sequência do DNA. A implementação de duas novas tecnologias, que permitem a análise
de alterações no genoma (RNAseq) e edição gênica (CRISPR), estão revolucionando
o estudo da genômica e proteômica de patógenos e seus hospedeiros. O
detalhamento dessas tecnologias é assunto para um post futuro.
Referências:
1 - SHER, A.; TOSH, K.; JANKOVIC, D. Innate
recognition of Toxoplasma gondii in
humans involves a mechanism distinct from that utilized by rodents. Cell Mol Immunol, 2017.
2- TAKEDA, K.; AKIRA, S. Toll-like receptors in
innate immunity. Int Immunol, 2005.
3- BROZ, P.; MONACK, D. M. Newly described pattern
recognition receptors team up against intracellular pathogens. Nat Rev Immunol, 2013.
4- GAZZINELLI, R. T.; DENKERS, E. Y. Protozoan
encounters with Toll-like receptor signalling pathways: implications for host
parasitism. Nat Rev Immunol, 2006.
5- YAROVINSKY, F. Innate immunity to Toxoplasma
gondii infection. Nat Rev Immunol, 2014.
6- HAKIMI,
M. A.; OLIAS, P.; SIBLEY, L. D. Toxoplasma Effectors Targeting Host Signaling
and Transcription. Clin Microbiol Rev,
2017.
7-
HUNTER, C. A.; SIBLEY, L. D. Modulation of innate immunity by Toxoplasma gondii virulence effectors. Nat Rev Microbiol, 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário